segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 10


O Ilusionista



            Dentro do circo Pilares, o castelar assaltante (perito em combates corpo a corpo rápidos e ações furtivas) observava o que acontecia escondido aos olhos de todos. Todas as pessoas – se é que se podia dizer isso – estavam todas do mesmo jeito, com as feições do rosto apagadas e no lugar pinturas cômicas ou tristes borradas e envelhecidas. Na frente do circo, havia um grande letreiro luminoso e quebrado difícil de ser lido, junto de imagens de palhaços brincando com crianças alegres, um manticore pulando um aro de fogo com o seu domador estalando o chicote, um mágico tirando pássaros e objetos de uma bolsa pequenina para tanta coisa e o apresentador do circo de chapéu cartola fingindo estar empurrando as outras imagens para dentro. Aquilo deixava Pilares muito curioso, tudo aquilo estava velho, sem cor, completamente depressivo e triste. Não havia nada de circo naquele lugar horroroso...
            Pelo que percebera, o show estava prestes a começar e ficara atento ao que eles faziam. Algumas pessoas mais normais entraram, a contra gosto, sendo empurradas pelo homem comprido e pelo homem bola. Entraram duas crianças, um menino e uma menina, entusiasmados com as cores incomuns que viam do lado de fora e um senhor, já velho e de andar lento, que as acompanhavam tremendo, com sinais de alguma doença debilitante. Os três entraram e se sentaram na arquibancada, grande, vazia e quebrada em algumas partes. O senhor de idade tinha olhos arregalados, olhando de um lado para o outro enquanto tremia e as crianças ficavam brigando, se dando tapas falando alguma coisa que Pilares não entedia, enquanto esperavam a apresentação.
            As luzes se apagaram, um som sinistro começava a aumentar e um holofote se acendeu, brilhando sobre o apresentador de chapéu cartola, o mesmo que aparecia nas imagens do lado de fora. Ele fez alguns gestos de cumprimento, dando alguns passos dançantes e parou em cima de um trapézio. As luzes se apagaram novamente, e um equilibrista apareceu no lugar dando cambalhotas e mais cambalhotas. Pegou alguns objetos de forma engraçada e outros de forma perigosa e os lançou no ar, passando de uma mão para a outra, sem deixar nada cair. Deu mais algumas voltas com aquelas coisas em pleno ar, jogou-as com força para o alto, demonstrando medo quando elas voltassem. As luzes se apagaram novamente e, no lugar do equilibrista, apareceu uma bailarina gorda e barbada que ficava na ponta dos pés como se seu peso não influenciasse em nada a pressão sobre os dedos. A menina aplaudia com entusiasmo aquela visão, se levantando e tentando uns passos ali mesmo na arquibancada. Mais uma vez as luzes se apagaram e no lugar do último artista, apareceu o palhaço, montado numa bicicletinha diminuta, quase impossível de ver sob a sua sombra. Ele apertava uma buzina várias vezes, enquanto um peso acima de sua cabeça era hasteado sobre sua cabeça por alguém escondido e com uma risada estranha. Na hora de soltar a corda para que o peso acertasse a cabeça do palhaço, as luzes se apagaram e o mágico apareceu em seu lugar. Porém, havia algo diferente nele. Pilares olhava atentamente para ele, que mexia uma varinha no ar como se fizesse um feitiço e apontou-a para o senhor que estava sentado ao lado das crianças. Ele se levantou abruptamente, deixando cair a bengala que sustentava o corpo e foi andando, sem mais tremer, na direção do mágico. Tomado por um estado de transe, ele caminhou e ficou parado na frente do homem de cartola que finalmente a tirou. Foi então que o Senhor de Castelo percebeu o que estava errado, debaixo da maquiagem, o mágico tinha rosto! Isso não importava no momento, a cartola que estava na mão do mágico foi posta na cabeça do senhor e simplesmente escorregou por todo o seu corpo, engolindo-o completamente. As duas crianças se assustaram, correram para ver onde estava o avô delas, virando a cartola... Que as engoliu também!
            Pilares estava boquiaberto com a apresentação macabra daquele circo, não sabia o que fazer numa hora como aquela. Suas facas estavam presas debaixo da roupa de sobrevivência que purificava o ar para que respirasse bem e continuou ali, parado. O mágico fez reverência, como se ainda restasse público e um som de aplausos e vivas pode ser ouvido, vindo de algum lugar desconhecido. O homem de cartola parou um instante, mostrando que o show ainda não havia acabado apontando a varinha que estava em sua mão para onde Pilares estava. O castelar ficou gelado e tentou fugir dali, sem conseguir se mover... Devia estar preso em um feitiço do mágico!
            O homem da cartola recolocou seu chapéu e andou na direção do Senhor de Castelo que sentia todo o seu corpo ficar dormente. De frente para a lona do circo, o mágico retirou o pano copiador do castelar e finalmente viu sua face. Mirou a varinha na jóia mágica e a suit foi recolhida para dentro dela. O ar tóxico era pesado, Pilares sentia sua garganta fechar, deixando a respiração lenta ainda mais sufocante. Ele engoliu a seco, enquanto via a parte debaixo da cartola se aproximar do seu rosto...
...

            – Aaaaah! – gritou Pilares acordando do pesadelo. – Merda! O que foi aquilo?!
            O Senhor de Castelo olhava de um lado para o outro, enquanto passava a mão no capacete globular que o impedia de tocar o rosto. Sua respiração estava ofegante, sua vontade era de tirar a droga do capacete de uma vez. Ao longe, alguma luz do amanhecer despontava nas nuvens espessas acima de sua cabeça, já era de dia e a fome apertava-lhe o estômago:
            – O que eu faço agora?! – gritou irritado.
            – Pilares? – perguntou Iksio, ao longe, com alguém do seu lado. – Pilares!
            – Iksio?! – os dois correram para se encontrar.
            – Que bom rever-lhe nobre castelar! – disse, já diante do companheiro castelar.
            – E quem é... Hahahah! – Pilares começou a rir desvairadamente. A sua frente vinha outro Iksio, de cuecas!
            – Meu caro amigo, sugiro-lhe que mantenha os modos devidos. – Iksio tentava ser calmo, sem perder a compostura. – Esse não sou eu!
            – Hahahaha... – Pilares estava quase chorando de tanto rir. – Quem é... Quem é esse... Quem é esse?! Hahahaha...
            – Creio que seja um objeto inanimado que capta formas de pensamento e se transforma nelas... Veja, ele já mudou outra vez.
            – ...! – Pilares parou completamente de rir. – Assim não vale!
            – Quem tanto acha graça, acaba por ficar sem ela... Heheh...
            Quem o polímero copiador havia imitado agora, em trajes mínimos, era Pilares...

...

            Enquanto o assaltante batia o pé, querendo que o polímero mudasse de novo, em algum lugar da zona de lixo, um homem de cartola observava uma bola de cristal, mostrando Iksio e Pilares conversarem:
            – Não tema minha criança, logo mais você me será útil...
...


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