O Ilusionista
Dentro do
circo Pilares, o castelar assaltante (perito em combates corpo a corpo rápidos
e ações furtivas) observava o que acontecia escondido aos olhos de todos. Todas
as pessoas – se é que se podia dizer isso – estavam todas do mesmo jeito, com
as feições do rosto apagadas e no lugar pinturas cômicas ou tristes borradas e
envelhecidas. Na frente do circo, havia um grande letreiro luminoso e quebrado
difícil de ser lido, junto de imagens de palhaços brincando com crianças
alegres, um manticore pulando um aro de fogo com o seu domador estalando o
chicote, um mágico tirando pássaros e objetos de uma bolsa pequenina para tanta
coisa e o apresentador do circo de chapéu cartola fingindo estar empurrando as
outras imagens para dentro. Aquilo deixava Pilares muito curioso, tudo aquilo
estava velho, sem cor, completamente depressivo e triste. Não havia nada de
circo naquele lugar horroroso...
Pelo que
percebera, o show estava prestes a começar e ficara atento ao que eles faziam.
Algumas pessoas mais normais entraram, a contra gosto, sendo empurradas pelo
homem comprido e pelo homem bola. Entraram duas crianças, um menino e uma
menina, entusiasmados com as cores incomuns que viam do lado de fora e um
senhor, já velho e de andar lento, que as acompanhavam tremendo, com sinais de
alguma doença debilitante. Os três entraram e se sentaram na arquibancada,
grande, vazia e quebrada em algumas partes. O senhor de idade tinha olhos
arregalados, olhando de um lado para o outro enquanto tremia e as crianças
ficavam brigando, se dando tapas falando alguma coisa que Pilares não entedia,
enquanto esperavam a apresentação.
As luzes se
apagaram, um som sinistro começava a aumentar e um holofote se acendeu,
brilhando sobre o apresentador de chapéu cartola, o mesmo que aparecia nas
imagens do lado de fora. Ele fez alguns gestos de cumprimento, dando alguns
passos dançantes e parou em cima de um trapézio. As luzes se apagaram
novamente, e um equilibrista apareceu no lugar dando cambalhotas e mais
cambalhotas. Pegou alguns objetos de forma engraçada e outros de forma perigosa
e os lançou no ar, passando de uma mão para a outra, sem deixar nada cair. Deu
mais algumas voltas com aquelas coisas em pleno ar, jogou-as com força para o
alto, demonstrando medo quando elas voltassem. As luzes se apagaram novamente
e, no lugar do equilibrista, apareceu uma bailarina gorda e barbada que ficava
na ponta dos pés como se seu peso não influenciasse em nada a pressão sobre os
dedos. A menina aplaudia com entusiasmo aquela visão, se levantando e tentando
uns passos ali mesmo na arquibancada. Mais uma vez as luzes se apagaram e no
lugar do último artista, apareceu o palhaço, montado numa bicicletinha
diminuta, quase impossível de ver sob a sua sombra. Ele apertava uma buzina
várias vezes, enquanto um peso acima de sua cabeça era hasteado sobre sua
cabeça por alguém escondido e com uma risada estranha. Na hora de soltar a
corda para que o peso acertasse a cabeça do palhaço, as luzes se apagaram e o
mágico apareceu em seu lugar. Porém, havia algo diferente nele. Pilares olhava
atentamente para ele, que mexia uma varinha no ar como se fizesse um feitiço e
apontou-a para o senhor que estava sentado ao lado das crianças. Ele se levantou
abruptamente, deixando cair a bengala que sustentava o corpo e foi andando, sem
mais tremer, na direção do mágico. Tomado por um estado de transe, ele caminhou
e ficou parado na frente do homem de cartola que finalmente a tirou. Foi então
que o Senhor de Castelo percebeu o que estava errado, debaixo da maquiagem, o
mágico tinha rosto! Isso não importava no momento, a cartola que estava na mão
do mágico foi posta na cabeça do senhor e simplesmente escorregou por todo o
seu corpo, engolindo-o completamente. As duas crianças se assustaram, correram
para ver onde estava o avô delas, virando a cartola... Que as engoliu também!
Pilares
estava boquiaberto com a apresentação macabra daquele circo, não sabia o que
fazer numa hora como aquela. Suas facas estavam presas debaixo da roupa de
sobrevivência que purificava o ar para que respirasse bem e continuou ali,
parado. O mágico fez reverência, como se ainda restasse público e um som de
aplausos e vivas pode ser ouvido, vindo de algum lugar desconhecido. O homem de
cartola parou um instante, mostrando que o show ainda não havia acabado
apontando a varinha que estava em sua mão para onde Pilares estava. O castelar
ficou gelado e tentou fugir dali, sem conseguir se mover... Devia estar preso
em um feitiço do mágico!
O homem da
cartola recolocou seu chapéu e andou na direção do Senhor de Castelo que sentia
todo o seu corpo ficar dormente. De frente para a lona do circo, o mágico
retirou o pano copiador do castelar e finalmente viu sua face. Mirou a varinha
na jóia mágica e a suit foi recolhida para dentro dela. O ar tóxico era pesado,
Pilares sentia sua garganta fechar, deixando a respiração lenta ainda mais
sufocante. Ele engoliu a seco, enquanto via a parte debaixo da cartola se
aproximar do seu rosto...
...
– Aaaaah! –
gritou Pilares acordando do pesadelo. – Merda! O que foi aquilo?!
O Senhor de
Castelo olhava de um lado para o outro, enquanto passava a mão no capacete
globular que o impedia de tocar o rosto. Sua respiração estava ofegante, sua
vontade era de tirar a droga do capacete de uma vez. Ao longe, alguma luz do
amanhecer despontava nas nuvens espessas acima de sua cabeça, já era de dia e a
fome apertava-lhe o estômago:
– O que eu
faço agora?! – gritou irritado.
– Pilares?
– perguntou Iksio, ao longe, com alguém do seu lado. – Pilares!
– Iksio?! –
os dois correram para se encontrar.
– Que bom
rever-lhe nobre castelar! – disse, já diante do companheiro castelar.
– E quem
é... Hahahah! – Pilares começou a rir desvairadamente. A sua frente vinha outro
Iksio, de cuecas!
– Meu caro
amigo, sugiro-lhe que mantenha os modos devidos. – Iksio tentava ser calmo, sem
perder a compostura. – Esse não sou eu!
–
Hahahaha... – Pilares estava quase chorando de tanto rir. – Quem é... Quem é
esse... Quem é esse?! Hahahaha...
– Creio que
seja um objeto inanimado que capta formas de pensamento e se transforma nelas...
Veja, ele já mudou outra vez.
– ...! –
Pilares parou completamente de rir. – Assim não vale!
– Quem
tanto acha graça, acaba por ficar sem ela... Heheh...
Quem o
polímero copiador havia imitado agora, em trajes mínimos, era Pilares...
...
Enquanto o
assaltante batia o pé, querendo que o polímero mudasse de novo, em algum lugar
da zona de lixo, um homem de cartola observava uma bola de cristal, mostrando
Iksio e Pilares conversarem:
– Não tema
minha criança, logo mais você me será útil...
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário