Nina
A pequena
garota estava de volta ao seu balanço, perdida em pensamentos:
– Vocês
todos serão meus... Cada estrela do céu será minha... Vou roubar todas elas de
vocês... Como roubaram meus pais de mim... – seu tom era uma mistura de
tristeza e raiva.
O Thagir
vermelho abriu a porta e entrou. Ele sentia algo diferente, a menina não estava
animada e seu jeito infantil lembrava o rancor de um adulto. Percebendo que o
escravo estava esperando para lhe falar, ela desceu do balanço e sorriu para
ele, escondendo as emoções:
– Veja meu
Thagir vermelho, o céu não está lindo hoje? – a menina fechou os olhos, como se
desse por satisfeita só com os poucos raios de luminosidade que atravessaram o
largo buraco no teto.
– Mestra
Nina, consegui penetrar nos arquivos da Ordem dos Senhores de Castelo...
– E o que
encontrou?
– Eles
vieram buscar a população deste planeta...
– E o Filho
do Fim? – a expressão de Nina relatava dúvida.
– Eles não
vieram por esta missão... Acredito que talvez nem saibam que ele está aqui.
– Mentira!
– a garota gritou, bufando e batendo o pé no chão. – Eles sabem que ele está
aqui! Alguém mandou uma mensagem para eles pelo sistema de transmissão
codificado, o Informe do Multiverso! Não tem como eles ignorarem a maior lenda
que os grandes oráculos contam... A não ser...
– Creio que
sim, mestra. – o Thagir vermelho parecia estar ouvindo seus pensamentos. – Eles
querem dar prioridade à população. Elas precisam urgentemente de ajuda e o
Filho do Fim é um perigo... Mesmo para eles! Tanto poder em um único ser que
mal sabe manipulá-los.
– Não
podemos deixar que eles ponham as mãos nele! Eles não devem matá-lo!
– Fiquei em
dúvida...
– Eu
também...
– Eles realmente seriam capazes
de matar uma criança para salvar todo o multiverso?
– Se depender da alma viva da
ilha, eu creio que não...
– O que eles pretendem fazer com
a criança então?
– Por enquanto fiquemos com a
possibilidade deles quererem apenas ficar de olho nele e protegê-lo da
Irmandade. Em todo caso, se nós não ficarmos com ele, iremos avisar o Grande
Irmão da invasão da Ordem dos Senhores de Castelo...
– Voltaremos a nos encontrar com
eles?
– Assim que eu estiver bem
disposta... Saia. – o Thagir vermelho fez uma referência e voltou pela porta de
onde veio.
Em seus pensamentos, a frase
inevitável estalou: “Essa menina é perigosa... Até parece adulta! Espero que o
Kullat faça alguma coisa, se ele não conseguir nos tirar das garras dessa
menina...”
Ele se sentou de frente a um
computador e teclava ruidosamente. Os arquivos dos Senhores de Castelo
disponíveis estavam sendo baixados um após o outro. O Thagir vermelho estava
lendo as fichas dos castelares e reparou em algo curioso:
– Não creio! Um deles não foi
admito na academia! Hahah, essa eu pago pra ver!
...
Nina havia
voltado aos seus pensamentos, mas dessa vez ela estava em sua cama, vestida com
um pijama de seda branca e macia. Havia colocado vários lençóis por cima dela
para evitar o frio constante. Ela tentava dormir, pensando no que poderia fazer
para conseguir o que queria. Em seus sonhos, uma música distorcida tocava,
ficando normal de vez em quando mostrando ser uma cantiga de ninar sem letra. A
garotinha via um berço branco, minimalista, de material sintético no centro de
uma sala branca de iluminação indireta forte que a fazia franzir os olhos:
– O
quarto... – ela disse. – Sempre o mesmo quarto, o mesmo lugar.
Ela se
aproximou do berço, sua intenção era ver o bebê e tirá-lo de lá, porém, algo a
impedia de prosseguir e recuava. Ficou ali algum tempo, observando. O bebê começou
a chorar, ela tapou os ouvidos tentando evitar que eles estourassem com o
barulho ensurdecedor. Ele parou por um instante e começou a falar com ela:
– Nina, é
você?
– Sim,
estou aqui...
– Você vai
vir me buscar?
– Estou
tentando...
– Você vai
vir me buscar?
– Eu vou...
– Onde está
a minha mãe?
– Não
sei...
– ... – o
diálogo parou.
– Eu vou te
buscar... Você me espera?
– Quem é
você?
– Sou eu, a
Nina...
– Quem é
Nina?
– Você vai
saber quando nos encontrarmos...
– Como vou
saber quem é você?
– Eu uso
vestido vermelho, terei a mesma altura que você...
– Onde está
a minha mãe?
– ... –
Nina estava triste e começou a murmurar a mesma canção de ninar que fazia
barulho naquele quarto.
A sombra
dela que estava praticamente apagada com tanta luz, começou a escurecer e a luz
do quarto diminuiu. O perfil que se formava na parede não era ela, era de algum
animal grande e curvado, com garras e uma bocarra que permanecia aberta. Tinha
cabelos desgrenhados, mãos esguias com três dedos cada e a cintura mais fina
que o tronco. Algum líquido pegajoso pingava de todo o corpo e, apesar de ser
apenas uma sombra, o líquido era vertido também no quarto pela parede. A imagem
de Nina escureceu e foi tomada pela escuridão, ao mesmo tempo em que a sombra
clareava e se tornava nítida, parando antes que se pudesse ver o rosto da
criatura. O murmúrio doce e infantil tornou-se um grunhido irreconhecível. Um
homem entrou na sala e começou a atirar na criatura com um pistola de projéteis
metálicos que feriram gravemente a criatura da parede, sendo que quem começou a
sangrar fora Nina, a sombra do monstro. A criatura gemeu de dor e agonia,
praticamente chorando, descendo pela parede até o chão. O homem pega a criança
e sai correndo com ela nos braços. Nina e o monstro vêem a criança ser levada e
esticam, ambas, as mãos na direção da porta que se fecha. Todas as luzes
terminam de se apagar, deixando uma inconsolável solidão no peito da
menininha...
...
Nina
acorda. Pela janela ela vê que já está de noite e limpa o rosto das lágrimas
que escorreram durante o sonho. Sua raiva foi reacendida e tomou uma decisão.
Vestiu seu vestido vermelho, colocou as fitas vermelhas no cabelo dourado e foi
falar com o Thagir vermelho. Ele estava cochilando na cadeira em que estava
sentado, o computador já havia se desligado com a falta de operação:
– Meu
querido Thagir vermelho, acorde... – ele acordou no susto e, esfregando o
rosto, bocejou e se espreguiçou.
– Já...
Mestra? – as olheiras estavam bem marcadas no rosto.
– Sim... Vamos
matar aquele maldito intrometido que está com ele.
– Sim... –
o Thagir vermelho recolocou o casaco, desligou o computador e os dois saíram.
Nina estava saltitante...
...
Crianças do mal me dão medo XD
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