segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 18


Os Brinquedos Malditos

 

            Dimios continuava pelo corredor escuro, os barulhos se intensificavam a cada passo. O chão tremeu, deslocando partes do teto de terra que caiu sobre o castelar que começou a correr, desviando-se habilmente. A inclinação deixava claro que aquilo era profundo e a umidade ia aumentando. Não tardou, Dimios teve que se segurar para não descer de uma vez. O escuro deixava tudo mais difícil, usando somente a Garra de Sartel para iluminar o caminho prejudicava a atenção dele que não sabia exatamente para onde estava indo. Mais a frente se deparou com uma bifurcação. Notou alguns rosnados do lado direito e foi para lá, continuando a descer gradativamente.
            No final daquele novo corredor, o Senhor de Castelo notou algumas luzes. Não eram mágicas. Seus conhecimentos do multiverso lhe indicavam que eram artificiais. Por fim, ao chegar lá, viu uma grande máquina cair próximo aos seus pés, revelando a imagem grotesca de seu destruidor. Um ser humanóide, com as extremidades dos membros substituídos por laminas agudas que tilintaram, fazendo doer os ouvidos do castelar que se preparou para ser atacado. A face daquele ser era horrível, dando enjôos só de olhar. Seus olhos eram saltados para fora do lugar e não tinha nariz, a boca e a cavidade nasal eram uma só, derramando um líquido espumoso que corroia o metal da carcaça do maquinário derrubado. Aquilo, seja lá o que fosse, conseguia olhar para Dimios como se os olhos fossem de caracol e fitava o intruso, movendo a cabeça para frente. No peito, havia algum trapo de roupa marcado com dois quadrados, um com três pontos e o segundo com dois. A Garra de Sartel reagiu à tensão de seu usuário e estalou, fazendo a coisa ir para cima de Dimios. Teque, teque, teque... Faziam os membros da criatura enquanto subia pelas paredes com agilidade. O Senhor de Castelo, pronto para o combate, foi pelo outro lado. Quando os dois voltaram a ficar de frente, um de cada lado da máquina, Dimios disparou uma rajada de força. Errou, a velocidade e destreza da criatura deformada eram incríveis. O castelar tentou se distanciar um pouco mais, mas foi perseguido pela criatura que tentava golpeá-lo. Por sorte, a Garra de Sartel não era apenas uma arma de ataque, servindo muito bem para bloquear os cortes mortais que lhe eram lançados.
            A luta prosseguia. O Senhor de Castelo não conseguia se concentrar para lançar uma rajada elétrica. Resolveu então usar um encantamento. Como ele estava no subterrâneo, nada melhor que um feitiço do tipo terra:
            – “Exterminare volence”! – a energia do solo respondeu ao seu chamado e pontiagudas lanças de rocha sólida brotaram do chão, perfurando a criatura que ficou presa nelas.
            A coisa, mesmo sendo gravemente ferida, se debatia constantemente. Seus membros metálicos de nada ajudavam, uma vez que havia sido transpassada bem no meio da barriga. Dimios olhava aquilo com ar sério, havia algo errado ali. Um ser de carne normal já teria parado se mover. Mas não, o monstro – como preferia pensar – continuava a se agitar, tentando escapar.
O Senhor de Castelo preferiu continuar o caminho, que dava numa abertura feita por perfuratriz, grande o bastante para aquela primeira máquina passar. No chão, havia a escotilha destruída que deveria fechar o local e que fora arrancada há pouco. No salão seguinte, mais luzes artificiais. Desta vez, melhor colocadas, devendo aquele lugar ser outra construção existente no planeta. Talvez até estivesse conectada a parte superior, pensava o Senhor de Castelo, enquanto reparava na maneira como tudo fora construído.
No caminho, um forte cheiro de sangue pairava no ar. Logo ele se depararia com imensas manchas de sangue e o que lhe parecia órgãos humanos espelhados pelo chão. Algum ser vivo foi claramente estourado naquele salão. Dimios olhou para trás e percebeu que quem fizera aquilo foi o grande maquinário:
– A força bruta de uma máquina é sempre surpreendente! – concluiu o Senhor de Castelo, que imediatamente continuou seu caminho, pois o barulho de uma broca lhe chamara a atenção e estava próxima.
Dimios correu e virou para a direita, saindo num salão maior que o anterior, se deparando com duas grandes máquinas em pleno funcionamento. Os robôs diante dele tinham mais de dois metros de altura, equipados com batedores de estaca do lado esquerdo, furadeiras do lado direito, atiradeiras nas costas e moedores na base. Eram verdadeiras máquinas de combate, não fosse pelo antigo símbolo em forma de parafuso que ilustravam no peito – a marca da legião parafuso. Estas máquinas foram criadas para extrair matéria prima sem danificar os ecossistemas, tirando apenas o necessário. Eventualmente sob o comando da Irmandade Cósmica sua utilidade seria deturpada, transformando-os em máquinas mortíferas.
O scanner de laser vermelho estava fazendo a volta, procurando por ameaças. O Senhor de Castelo se aproveitou e passou a frente da primeira máquina parafuso antes que sua presença fosse detectada. A segunda máquina, porém, estava equipada com um scanner diferente, sua luz era azul e, ao invés de verificar o ambiente lentamente, vez isso de uma só vez. Dimios foi detectado. A primeira máquina recebeu o sinal da segunda: “Intruso detectado”, repetindo o sinal. Os lançadores foram ativados e o castelar estava entre as duas máquinas:
– Pulso elétrico! – uma forte onda lançada da Garra de Sartel percorreu as máquinas que entraram em curto, errando o alvo.
O Senhor de Castelo saltou e golpeou os scanners das duas máquinas e prosseguiu, deixando-as para trás, passando por mais uma escotilha arrombada. Ele não esperou mais, começou a correr e saiu num grande salão que tinha saída para três caminhos. No chão, caídas, haviam mais máquinas parafuso destruídas. Seus fluídos hidráulicos pretos e viscosos estavam espalhado pelo chão, diferente de antes, a batalha aqui sugeria que os robôs haviam sofrido grande dano, algo realmente forte as havia derrubado. Num dos caminhos, pegadas de crianças feitas no fluído levavam pelo caminho da direita, aparentemente mais comprido que os outros dois que logo faziam curvas. As paredes estavam riscadas, fazendo Dimios pensar que uma das máquinas fora arrancada do corredor a força. Ele entrou por aquele caminho meio escuro, com as luzes artificiais falhando e não se demorou em voltar a correr.
Em seus pensamentos a ideia de que algo poderia ocorrer às crianças vinha-lhe constantemente:
– Se os poderes do filho do fim forem despertados... O que poderia acontecer com esse planeta? – Dimios corria com todas as forças, o longo corredor parecia não ter fim.
Finalmente, encontrando nova luz, Dimios saiu no que parecia ser uma caverna, com estalagmites e estalactites, formações rochosas formadas pela erosão e depósito dos minerais através do tempo. Ao contrário de uma formação natural, o local estava seco, a água havia acabado e as belas figuras haviam ficado para trás. O local descia por um lado e abria um vão, preenchido anteriormente por algum lago subterrâneo que deveria ter ali. Ali embaixo estava Elians, o irmão mais novo. Ao lado dele... Outra criatura grotesca sem feições! Sua forma, diferente da primeira, parecia mais humana. Apesar disso, ela abriu uma grande boca, como se fosse uma serpente, esticando o pescoço anormalmente. A criança estava diante da coisa, não podia ver Dimios, nem ele a luz que estava nas mãos do pequeno:
– Não se mexa... – o castelar se mexia lentamente.
– Eu estou com fome... – a luz que iluminava a caverna se apagou.
– Elians! – Dimios fez a Garra de Sartel brilhar para iluminar novamente a caverna.
O que ele viu o deixou confuso, não havia mais monstro perto de Elians, que estava são e salvo.
– Elians! – gritou Vaik, que vinha pela caverna com uma lanterna acessa. – Achei o caminho!
– Porque você o deixou sozinho? – disse Dimios, preocupado, quando o irmão maior se aproximou.
– Ele estava com fome. Só por isso. – Vaik sorria.
– Estou satisfeito irmãozão! – Elians levantou as mãos.
– Você não teve medo daquilo? – perguntou o castelar. – Você poderia estar morto agora...
– ...! – Elians mostrou a língua. – Eu não sou medroso! Meu irmão não ia deixar nada acontecer comigo!
– Vamos, eu encontrei o caminho pra sair daqui em segurança... – as crianças saíram na frente. Dimios só as acompanhou, notando que Vaik levava um boneco no bolso...

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