quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho Do Fim - Capítulo 21


O Enforcado

 

            “Eu não sei por que, mas gosto de estar ao lado do meu irmão. Ele me trata muito bem, me faz sorrir sempre. Mas sinto uma solidão imensa em seu sorriso. Uma escuridão triste e medonha, que parece consumi-lo o tempo todo. Só queria que ele soubesse o quanto eu me importo com ele...”, pensava Elians, olhando para o irmão que ainda dormia depois de horas após a batalha contra Nina.

...

            Ferus acordou. Sentia sua cabeça doer muito. Ao lado dele estava Dimios, esperando que ele acordasse:
            – Precisamos conversar...
            – Que dor de cabeça... Eu tinha me lembrado de algo, o que era...
            – Não desconverse. Temos grandes problemas neste planeta e precisamos resolver este dilema...
            – Ahn... – Ferus olhava para Dimios, sério, com mau humor. Não estava bem para conversar. – O que você quer?
            – Essas pessoas... Elas estão praticamente mortas. Nossa nave foi destruída...
            – Vamos subir até a cidade aérea... – respondeu secamente, sem noção do que estava dizendo.
            – Não espero ir até lá. – Dimios queria propor outro caminho.
            – Lá em cima existem portas que ligam mundos: as portas do paraíso. É assim que os altarianos atravessam suas grandes naves de um mundo para o outro. A passagem pelos mares boreais é praticamente exclusiva dos Senhores de Castelo, salvo alguns métodos obscuros ao nosso conhecimento...
            – Ferus? Você está me ouvindo? Seu cabelo está vermelho!
            – ... – o jovem castelar pendeu a cabeça para o lado e, caindo na cama pouco confortável, voltou a dormir.
            – ACORDE!
            – Ahn! O que foi? Já acordei, já acordei! – o armeiro estava visivelmente assustado.
            – Como você sabe sobre as portas do paraíso?
            – Que portas?
            – As que você falou agora! – Dimios já estava perdendo a paciência.
            – O que foi que eu falei? Eu não consigo me lembrar... – o jeito tímido e recluso de Ferus retornou ao seu semblante, ele estava quase chorando de medo, se escondendo atrás do fino e gasto lençol que o cobria.
            – Seu cabelo... Está azul de novo...
            – ... – Ferus não conseguia olhar nos olhos de Dimios.
            – Você quer me contar alguma coisa?
            – Eu não sei... Não sei por que ele fica assim. Eu prefiro quando ele está preto depois da coloração de tinta. Mas ele volta a ficar assim, mesmo eu não querendo. – Dimios passou a Garra de Sartel por cima da cabeça dele, sentindo as vibrações de maru emanadas pelos fios coloridos.
            – Você reage a maru do ambiente...
            – Como?
            – A Garra de Sartel retêm parte da maru do ambiente e eu sinto isso junto com ela. Este é um planeta do quarto quadrante, a tecnologia e a magia usadas aqui são super desenvolvidas. Senti isso desde o momento em que entramos nesta atmosfera carregada.
            – Entendo... Na academia nunca ninguém me disse isso. – Ferus estava mais calmo.
            – Eles não ensinam tudo. Nem espere que façam isso por você em qualquer lugar, você que deve aprender e estar preparado para tudo. – Ferus finalmente sorriu um pouco ao lado de Dimios, se lembrando das lições da Academia.
            – Agora que você disse sobre as portas do paraíso, talvez precisemos encontrá-las.
            – Tem outra coisa que me incomoda...
            – Você está falando do ecossistema desse planeta, não está? Tem uma força mágica muito forte que mantém tudo isso estável.
            – Sim, é isso. Como você sabe?
            – Você não é o único Senhor de Castelo no planeta!
            – Hahaha, verdade... Não sabia que você fazia piadas, senhor rabugento! – Ferus havia finalmente se soltado por completo.
            – Do que está falando? Quem falava isso era...
            – Pela sua cara, foi o seu ex-parceiro que disse isso... – um momento de silêncio pairou no ar. – Qual era o nome dele?
            – Cardial... Ele era um Senhor de Castelo lutador como eu... Antes dessa coisa... – Dimios levantou a garra olhando para ela, como se não soubesse de que forma ela foi parar ali. – As coisas nunca saem como esperamos, esteja preparado.
            – ... – Ferus ficou calado, estava olhando atentamente para a parede.
            – Seu cabelo?!
            – Onde está Dinha? A senhora que estava com Toshi e Esmal.
            – Ela disse que iria voltar pra casa e... – Ferus se levantou abruptamente.
            – Eles chegaram...
            – Eles quem?
            – Os açougueiros...
...

            Naquele planeta, nem todos estavam tão mal quanto às pessoas vistas até agora. Algumas, sobreviventes das experiências da Irmandade Cósmica, desceram a zona de lixo e comandam algumas facções com alguma centena de indivíduos. Várias partes dos seus corpos foram alteradas, modificadas, adicionadas ou subtraídas e formavam com alguma perfeição diabólica ao que se dava o nome de: açougueiro. Esses seres deformados manipulam pessoas para que elas os sirvam. Eles abusam das drogas, eles comem carne humana, eles torturam com prazer as suas vítimas – não há nenhum resquício de sentimento humano neles, uma das grandes desgraças do multiverso...
...

            Dimios e Ferus avisaram aos outros e todos saíram atrás de Dinha. Toshi, amigo de Esmal, ofereceu a Ferus uma lâmina que ele mesmo havia afiado. O Senhor de Castelo fez reverência em agradecimento. Agora o mercado negro ficava pra trás, junto com as suits de sobrevivência e as máscaras de gás. Westem levava Vaik e Elians nas costas, cada um deles segurado por uma mão.
            Pilares, com sua agilidade, verificou do ponto mais alto que encontrou o que via. Era uma visualização difícil, porém, sua audição ajudava mais e lhe dizia que um bando de alguma coisa muito barulhenta estava perto – pessoas gritando, coisas sendo batidas, ruídos metálicos e outros estrondos irreconhecíveis.
            No meio do caminho, Ferus avistou Dinha, ajoelhada, aos prantos:
            – Meu filho! Mataram o meu filho! Meu filho! Meu filho!
            O jovem Senhor de Castelo reparou numa estrutura elevada que estava diante dele e, olhando para cima, viu aquele homem que maltratara a própria mãe naquele momento de desespero por drogas, enforcado, faltando-lhe a parte inferior do corpo. Havia um rastro longo que ia do chão até lá em cima – ele fora brutalmente arrastado. Ferus sentiu seu sangue ferver:
            – Dimios! – ele acabara de chegar junto a eles. – O que faremos?
            O castelar demorou um tempo para entender o que estava acontecendo e concluiu:
            – Só podemos sepultá-lo. É o que podemos fazer...
            – Eles vão me pagar por isso! – Ferus olhava para a neblina ao longe como se conseguisse enxergar através dela.
            – O que é isso baixinho? – perguntou Westem, não entendendo o surto do jovem castelar.
            – Eles estão com Nerítico... E estão torturando ele! – essa última frase deixou os Senhores de Castelo atônitos.
            – Como você sabe disso? Não consigo ver nada daqui! – Pilares estava preocupado.
            – Não me pergunte, eu apenas sei...
Dimios olhava para Ferus, seu cabelo agora estava amarelo.
...

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