A Besta – 2ª parte
Pilares e
Nerítico adentraram a cidade baixa correndo:
– O que era
aquela coisa? – perguntou o assaltante.
– Um
boneco, eu presumo... – respondeu o ultraquímico.
– Sério?
Nem tinha percebido...
– Claro,
sua mente inferior não consegue distinguir as coisas como a minha...
– Estava
sendo sarcástico. Mas é bom ver que você está de volta. – o teslarniano sorriu.
Croaton, o
boneco vivo, andava alegremente e saltitante.
– O que
faremos com aquela coisa? Nem consigo olhar pra ela, sinto a minha pele se
rasgando! – disse Pilares.
– Vou
tentar usar uma Nº 01 nele...
– Tome
cuidado, esses prédios podem ruir com essa granada. Você sempre exagera quando
faz as suas Nº 01...
– Então lá
vai... – Nerítico jogou a primeira granada, causando uma grande explosão que
deixou um rombo no chão. Pilares manteve as mãos nos ouvidos para evitar o
barulho da explosão.
– Contato
visual?
– O quê?! –
o ultraquímico não ouviu direito, seus ouvidos ainda zuniam.
– Eu
disse... CON-TA-TO-VI-SU-AL?
– Espere...
– ele olhou diretamente para a nuvem de poeira que se dissipava. – Não...
– ... –
Pilares ficou calado.
– Pilares,
acha que o despistamos? – Nerítico continuava com o olhar fixo no local da
explosão.
– ... –
Pilares continuou calado.
– Pilares?
– o ultraquímico olhou para o parceiro. – Pilares!
O
assaltante estava tento convulsões com o olhar petrificado em uma direção.
Nerítico olhou para os lado e não encontrou nada. Quando olhou para cima, a uns
vinte metros de distância, viu Croaton na janela, com a mão na boca, parecendo
estar rindo:
–
Desgraçado! – e jogou uma granada Nº 01 que ao explodir ruiu o prédio inteiro.
– Aguente firme Pilares! – e carregou o amigo para longe dali.
– Aiai... –
o teslarniano dava sinais de que se recuperava.
Nerítico se
afastou o máximo que pode da nuvem de poeira, abriu a cartucheira com as
pílulas e tomou algumas. Surtindo o efeito desejado, pode correr com maior
facilidade com o parceiro nas costas. Quanto mais o tempo passava, mais eles
adentravam a cidade baixa.
O
ultraquímico parou para descansar um bom tempo depois. O efeito das pílulas não
durariam muito em meio à excitação constante e já dava sinais de exaustão. Eles
pararam em uma esquina, próximo a um prédio arredondado. A cena urbana era
comum para Nerítico, que conhecia algumas supercidades do multiverso. Porém,
ali era diferente, estava tudo vazio, sombrio e medonho, além de haver um
boneco sinistro capaz de enlouquecer quem lhe fixar o olhar. As coisas não iam
nada bem:
– Como você
está? – perguntou Nerítico, arfando constantemente.
– Melhor...
Aquela coisa. Eu tentei ficar de olho nela para que você não a perdesse de vista.
Vejo que foi um erro... – Pilares se sentia mal. – Aquilo me fez sentir a minha
pele sendo rasgada e eu não podia fazer nada.
– Aguente
firme, foram apenas alucinações.
– Não
foram! Você mesmo me disse uma vez que se for real para o cérebro será real
para o corpo. Aquela coisa pode matar a nossa mente só de olharmos pra ela!
– Aguente
firme, foram apenas alucinações.
– Nerítico?
Você está bem?
– Aguente
firme, foram apenas alucinações. Aguente firme, foram apenas alucinações.
Aguente firme, foram apenas alucinações... – não havia dúvida, o ultraquímico
tinha sido pego pelos poderes sinistros de Croaton.
–
Nerítico!!! – gritou o assaltante. – Acorda! Não olhe pra ele!
Seus
esforços foram em vão, olhou para os lados e a forte neblina havia baixado,
impedindo qualquer visualização do boneco, mal conseguindo ver os grandes
prédios, exceto por suas imponentes sombras.
– Espere...
De onde vem essas sombras?
O mundo se
distorceu, o senso de realidade foi perdido. Pilares se sentia flutuando no
vazio. Ao lado dele, também flutuando, estava Nerítico com o olhar
completamente vazio, ainda repetindo as mesmas palavras. Seu corpo começou a
tremer, vibrando sem parar, com intensidade cada vez maior. Não teve tempo de
gritar por socorro, a magnitude chegou a tal ponto que o corpo se desmanchou
como se fosse liquido. O mesmo aconteceu com o ultraquímico...
...
– Ai...
Ai... Que dor de cabeça colossal... – reclamou Pilares acordando.
– Vejo que
está bem, afinal. – era Westem.
– Onde você
esteve? Um maldito boneco amaldiçoado nos atacou e... – ele se deu conta que
Nerítico estava com ele. – Onde está Nerítico?
– Ainda está
dormindo... Você dormiu por mais de um dia!
– Droga...
É o estado B.O.B...
– Como? – o
bárbaro desconhecia o termo.
– Nerítico
me contou uma vez sobre um cara que ficou na realidade virtual sofrendo as mais
terríveis dores que alguém poderia sentir. Nenhuma mente normal aguentaria
sofrer danos irreversíveis e, mesmo sendo dado como morto, o tal Bob foi usado
durante anos numa experiência para entender e explorar a dor...
– E o que
aconteceu com ele?
– Ninguém
sabe... Ele e o médico que o torturava sumiram... Como isso gerou uma lenda nos
meios da psicologia, quando somos afetados por forças mentais chamamos isso de
estado B.O.B. Bem, foi o que ele me disse...
– E o que
faremos agora?
– Não tenho
a mínima ideia... Ele nunca me disse o que pode ser feito para reverter o
efeito B.O.B, ele disse que eu nunca entenderia a complexidade da mente... Heh,
agora eu poderia ajudá-lo, seu tapado! – Pilares começou a chorar, tentou
esconder o pesar pelo colega, mas não conseguiu. Para evitar ficar triste,
tentou ficar com raiva. – E você nem me disse o que estava acontecendo com
você!!! Seu idiota!!!
A tentativa
falhou, o assaltante ficou com o coração mais apertado ainda, chorando aos
prantos. Westem lhe ofereceu um ombro amigo.
– É a
primeira vez que isso acontece... – disse, já conseguindo falar. – Como a
Irmandade Cósmica conseguiu poderes tão horríveis?
– Eu não
sei...
– Aliás, o
que aconteceu com Croaton?
– Quem?
– O boneco
maldito que nos deixou assim...
– Ah,
aquilo... O Iksio comeu ele...
– Quê?!!! –
Pilares ficou assustado. – Como assim ele ‘comeu’? Você já o encontrou? Onde
ele está?
De repente,
um monstro mais alto que Westem surgiu das sombras. Tinha olhos de peixe,
longos bigodes lisos, com uma grande barbatana no topo da cabeça. Pilares sentiu
tanto medo que gritou desesperadamente:
–
AAAAAAAAAAH!
A criatura
recuou, se escondendo de novo.
– Não
grite! Vai assustar o Iksio!
– Como?!
Aquilo é o Iksio?! Aquele Senhor de Castelo todo afetado?!
A criatura
bufou, contrariada.
– Hahah...
Sim, é ele... Eu disse que o peixinho sabia se cuidar. Nessa forma ele chega a
ser mais forte que eu! – o bárbaro bateu no peito, orgulhoso.
– Cara,
você precisa explicar melhor o que está dizendo... Depois o Nerítico que fica
falando que eu não entendo nada...
– Bem, como
ele é multibiólogo, acabou encontrando uma criatura que o infectou e o deixou
desse jeito. Todo vez que ele enfrenta o perigo e a adrenalina sobe, ele fica assim.
Me lembro até de uma vez em que ele se transformou em besta no meio de um
jantar em Tianrr. Você devia ver a cara da namorada dele! Ela é mais chata que
um ninho de vespas!
A fera
aquática resmungou como que dissesse: “Não diga isso, por favor”. Pilares
sorriu, havia entendido do que se tratava o assunto.
– Ahn...
Tem mais uma coisa que eu achei estranho. – disse Westem.
– E o que
foi?
– Iksio
disse que está assim desde que chegou aqui...
– Você fala
com ele?!
– Eu estou
acostumado, o peixinho sempre fala do mesmo jeito. Ele disse que enfrentou um
fera de lixo enorme e depois ela desapareceu. Aí ele se encontrou com alguém
que ficou igualzinho a ele. Ele permaneceu dentro da cidade baixa e vem
enfrentando essa criaturas que mimetizam ele...
– Mas... Eu
me encontrei com ele fora daqui!
– É o que
eu estou dizendo...
– Não vai
me dizer que aquilo foi um...
– Um
dopelganger!
– Pelas
areias do deserto... Esse mundo está cada vez mais doido!
Continua...
...
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