quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 33


O Tolo

 

            O Senhor de Castelo de Zínio, Dimios, um ex-lutador que já teve seus tempos áureos e que agora é o portador da Garra de Sartel, um artefato místico de grande poder; liderava um grupo com mais outros cinco castelares. Um deles, Ferus, era seu parceiro, não um parceiro qualquer, um substituto de seu antigo colega, Cardial, que morrera salvando-lhe a vida. Ferus era jovem, aquela missão em que Dimios liderava era sua primeira vez como Senhor de Castelo. Por algum motivo ainda obscuro, os dois só se conheceram dentro do atravessador, a nave boreal que os levou até um belo planeta de onde partiriam para o verdadeiro local de sua missão onde deveriam salvar a população: o planeta sem nome. Aquele não era um lugar qualquer, o planeta sem nome pertence ao território da Irmandade Cósmica, outra organização especial do multiverso que rivaliza com a Ordem dos Senhores de Castelo por possuírem ambições diferentes. Acima deles existe o plano superior, onde seres de energia pura são os juízes que decidem o que acontece com a Aliança do Multiverso que reuni todas as organizações que querem controlar o multiverso. As regras que eles criaram são dúbias e permitem que planetas sejam explorados até a sua extinção, no entanto, invadir o território de outra organização acarretaria em retaliação por parte dos próprios superiores. Essas criaturas poderosas, também conhecidas como os antigos por viverem milhares de milhares de anos, passam a maior parte do tempo meditando sobre a existência e, reza a lenda, que se um julgamento de um superior estiver contra você, toda a sua história será varrida do tempo e do espaço.

            Dimios sabia de tudo isso e tentava imaginar no quê os acontecimentos dariam. Possivelmente a Irmandade Cósmica levaria o caso para julgamento no plano superior e, com as devidas provas, poderia ganhar a causa e acabar de uma vez com a Ordem dos Senhores de Castelo. Mas, agora que ele sabe que já houve a usurpação de um planeta por parte da Irmandade, poderiam haver outras e o jogo poderia mudar de direção. Fosse o que fosse acontecer, Dimios precisava ficar vivo para levar tudo o que sabia ao conselho de Nopporn. O tempo passava, a situação no planeta sem nome apertava e Ferus só demonstrava ser imprevisível, chegando a demonstrar rebeldia tomando atitudes violentas contra os dopelgangers, criaturas que conseguem copiar completamente alguém só de assimilar os seus pensamentos. Sem contar nos açougueiros, como Monaro e a Dama, que perderam a humanidade, carregando consigo uma maru pesada e densa. O que fazer?
...

            – Porque está demorando tanto? Vamos, ande! – reclamava Ferus ao ver Dimios atrás dele.
            – ... – o castelar, absorto em pensamentos, calculava o que deveria ser feito e olhava para o jovem castelar sério, com um pouco de raiva por ele ter lhe chamado a atenção.
            Ferus viu algo se movendo no meio do lixo e foi ver o que era, sumindo de vista. Um pouco depois, o ziniano ouviu um bater de asas e guinchos de uma criatura que lhe pareceu conhecida. Aumentou o passo e constatou o que pensava. Pulando e se debatendo contra Ferus estava um pequeno diabrete vermelho, um ser humanóide de uns cinquenta centímetros, alado, típico de florestas densas do segundo quadrante que nascem de maru residual negativa:
            – O que um diabrete vermelho está fazendo aqui?
            – E eu é que vou saber?! Tira ele de cima de mim! – o cabelo de Ferus finalmente havia voltado à cor azul.
            Dimios se lembrou do que poderia fazer e levou dois dedos a boca, dando um alto assobio. O diabrete soltou Ferus e foi voando até ele, que posicionou a Garra de Sartel para que o pequeno ser alado pousasse nela. O jovem castelar respirou aliviado e encarou aquilo com os olhos cerrados de dúvida:
            – Você sabe o que é isso?
            – Um diabrete florestal... E não é um diabrete qualquer, este é treinado, tem até coleira.
            – O que está escrito? – perguntou enquanto se aproximava.
 
            – Um triângulo negro invertido... O símbolo dos Caçadores Sombrios. – tudo aquilo parecia muito suspeito. Dimios conhecia somente uma pessoa que treinaria um diabrete com cuidado e dedicação, ao invés de tratá-lo como objeto, maltratando-o como geralmente fazem com aqueles seres sombrios.
            – Você acha que tem caçadores sombrios por aqui? Geralmente eles prestam apoio aos Senhores de Castelo junto a suas missões... – a criaturinha ria irritantemente colocando as mãozinhas na boca.
            – Não é possível... – o ziniano tinha certeza de que era completamente impossível.
            – Mas então... De onde teria saído uma mascote de caçador se não há caçadores por perto?
            – O que disse? Não estava ouvindo...
            – Você está ouvindo o que eu estou falando? De onde teria saído esse bicho?! – Ferus acabou demonstrando raiva e o diabrete percebeu, voando de volta para a cabeça dele. – Tira ele de cima de mim!
            No meio da bagunça que o diabrete fazia, o armeiro derrubou o seu cilindro no chão que abriu um compartimento, deixando cair um foto. Dimios se abaixou e pegou o cilindro, reparou na foto, onde havia a imagem de uma bela moça com uma fina tiara trançada no topo da cabeça que se projetava magicamente do fino papel.
            – Dimios! Não fique aí parado! Faça alguma coisa!
            – Só tem um jeito dele parar de te atacar...
            – Diga logo! Ai! Sai do meu cabelo! – Ferus mexia constantemente os braços.
            – Trate-o com respeito. Peça desculpas...
            – Quê?! Você está falando sério? – Dimios lançou o seu olhar severo em resposta. – Ih! Já vi que sim... Ahn... Poderia me desculpar?
            – Eu disse: ‘com respeito’...
            – Ai! Está bem, está bem! Poderia me desculpar, por favor? – o diabrete finalmente parou e voltou para o braço metálico do ziniano.
            Com o outro braço, Dimios entregou o cilindro de armeiro com a foto mágica na mão. Ferus, envergonhado, tratou de tirá-los abruptamente das mãos do parceiro. Com a mão livre, o ziniano fez um carinho na cabeça do diabrete que gostou e parecia um gato ronronando para o seu dono:
            – Quem é a moça da foto? É uma princesa, não é?
            – ...! – Ferus já havia guardado a foto de volta no cilindro, mesmo assim, continuava vermelho de vergonha.
            – Você parece um diabrete desse jeito... – Dimios sorriu um pouco, enquanto que o diabrete morria de rir, segurando a barriga.
            – Ela é... Ela é... – o jovem castelar engoliu a seco. – A filha mais nova dos reis de Newho, a princesa Lara...
            Seu olhar era triste e distante, vivia um amor não correspondido pela bela moça. Voltou-se de volta para o caminho dando as costas para Dimios e ajeitou o cilindro no ombro, sem dizer mais nada. O ziniano ficou olhando para o diabrete:
            – Isso fica cada vez mais estranho... – o diabrete foi passado para o ombro e os Senhores de Castelo continuaram a longa viagem para a Cidade Baixa.
            Mais adiante, uma grande explosão assustou Dimios:
            – Ferus! Para com isso! Esse moleque só me dá trabalho... – o diabrete ficou rindo daquilo.



...

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário