O Tolo
O Senhor de
Castelo de Zínio, Dimios, um ex-lutador que já teve seus tempos áureos e que
agora é o portador da Garra de Sartel, um artefato místico de grande poder;
liderava um grupo com mais outros cinco castelares. Um deles, Ferus, era seu parceiro,
não um parceiro qualquer, um substituto de seu antigo colega, Cardial, que
morrera salvando-lhe a vida. Ferus era jovem, aquela missão em que Dimios liderava
era sua primeira vez como Senhor de Castelo. Por algum motivo ainda obscuro, os
dois só se conheceram dentro do atravessador, a nave boreal que os levou até um
belo planeta de onde partiriam para o verdadeiro local de sua missão onde
deveriam salvar a população: o planeta sem nome. Aquele não era um lugar
qualquer, o planeta sem nome pertence ao território da Irmandade Cósmica, outra
organização especial do multiverso que rivaliza com a Ordem dos Senhores de
Castelo por possuírem ambições diferentes. Acima deles existe o plano superior,
onde seres de energia pura são os juízes que decidem o que acontece com a
Aliança do Multiverso que reuni todas as organizações que querem controlar o
multiverso. As regras que eles criaram são dúbias e permitem que planetas sejam
explorados até a sua extinção, no entanto, invadir o território de outra
organização acarretaria em retaliação por parte dos próprios superiores. Essas
criaturas poderosas, também conhecidas como os antigos por viverem milhares de
milhares de anos, passam a maior parte do tempo meditando sobre a existência e,
reza a lenda, que se um julgamento de um superior estiver contra você, toda a
sua história será varrida do tempo e do espaço.
Dimios
sabia de tudo isso e tentava imaginar no quê os acontecimentos dariam.
Possivelmente a Irmandade Cósmica levaria o caso para julgamento no plano superior
e, com as devidas provas, poderia ganhar a causa e acabar de uma vez com a
Ordem dos Senhores de Castelo. Mas, agora que ele sabe que já houve a usurpação
de um planeta por parte da Irmandade, poderiam haver outras e o jogo poderia
mudar de direção. Fosse o que fosse acontecer, Dimios precisava ficar vivo para
levar tudo o que sabia ao conselho de Nopporn. O tempo passava, a situação no
planeta sem nome apertava e Ferus só demonstrava ser imprevisível, chegando a
demonstrar rebeldia tomando atitudes violentas contra os dopelgangers,
criaturas que conseguem copiar completamente alguém só de assimilar os seus
pensamentos. Sem contar nos açougueiros, como Monaro e a Dama, que perderam a
humanidade, carregando consigo uma maru pesada e densa. O que fazer?
...
– Porque
está demorando tanto? Vamos, ande! – reclamava Ferus ao ver Dimios atrás dele.
– ... – o
castelar, absorto em pensamentos, calculava o que deveria ser feito e olhava
para o jovem castelar sério, com um pouco de raiva por ele ter lhe chamado a
atenção.
Ferus viu
algo se movendo no meio do lixo e foi ver o que era, sumindo de vista. Um pouco
depois, o ziniano ouviu um bater de asas e guinchos de uma criatura que lhe
pareceu conhecida. Aumentou o passo e constatou o que pensava. Pulando e se
debatendo contra Ferus estava um pequeno diabrete vermelho, um ser humanóide de
uns cinquenta centímetros, alado, típico de florestas densas do segundo
quadrante que nascem de maru residual negativa:
– O que um
diabrete vermelho está fazendo aqui?
– E eu é
que vou saber?! Tira ele de cima de mim! – o cabelo de Ferus finalmente havia
voltado à cor azul.
Dimios se
lembrou do que poderia fazer e levou dois dedos a boca, dando um alto assobio.
O diabrete soltou Ferus e foi voando até ele, que posicionou a Garra de Sartel
para que o pequeno ser alado pousasse nela. O jovem castelar respirou aliviado
e encarou aquilo com os olhos cerrados de dúvida:
– Você sabe
o que é isso?
– Um
diabrete florestal... E não é um diabrete qualquer, este é treinado, tem até
coleira.
– O que
está escrito? – perguntou enquanto se aproximava.
– Um
triângulo negro invertido... O símbolo dos Caçadores Sombrios. – tudo aquilo
parecia muito suspeito. Dimios conhecia somente uma pessoa que treinaria um
diabrete com cuidado e dedicação, ao invés de tratá-lo como objeto, maltratando-o
como geralmente fazem com aqueles seres sombrios.
– Você acha
que tem caçadores sombrios por aqui? Geralmente eles prestam apoio aos Senhores
de Castelo junto a suas missões... – a criaturinha ria irritantemente colocando
as mãozinhas na boca.
– Não é
possível... – o ziniano tinha certeza de que era completamente impossível.
– Mas
então... De onde teria saído uma mascote de caçador se não há caçadores por
perto?
– O que
disse? Não estava ouvindo...
– Você está
ouvindo o que eu estou falando? De onde teria saído esse bicho?! – Ferus acabou
demonstrando raiva e o diabrete percebeu, voando de volta para a cabeça dele. –
Tira ele de cima de mim!
No meio da
bagunça que o diabrete fazia, o armeiro derrubou o seu cilindro no chão que
abriu um compartimento, deixando cair um foto. Dimios se abaixou e pegou o
cilindro, reparou na foto, onde havia a imagem de uma bela moça com uma fina
tiara trançada no topo da cabeça que se projetava magicamente do fino papel.
– Dimios!
Não fique aí parado! Faça alguma coisa!
– Só tem um
jeito dele parar de te atacar...
– Diga
logo! Ai! Sai do meu cabelo! – Ferus mexia constantemente os braços.
– Trate-o
com respeito. Peça desculpas...
– Quê?!
Você está falando sério? – Dimios lançou o seu olhar severo em resposta. – Ih!
Já vi que sim... Ahn... Poderia me desculpar?
– Eu disse:
‘com respeito’...
– Ai! Está
bem, está bem! Poderia me desculpar, por favor? – o diabrete finalmente parou e
voltou para o braço metálico do ziniano.
Com o outro
braço, Dimios entregou o cilindro de armeiro com a foto mágica na mão. Ferus, envergonhado,
tratou de tirá-los abruptamente das mãos do parceiro. Com a mão livre, o
ziniano fez um carinho na cabeça do diabrete que gostou e parecia um gato
ronronando para o seu dono:
– Quem é a
moça da foto? É uma princesa, não é?
– ...! –
Ferus já havia guardado a foto de volta no cilindro, mesmo assim, continuava
vermelho de vergonha.
– Você
parece um diabrete desse jeito... – Dimios sorriu um pouco, enquanto que o
diabrete morria de rir, segurando a barriga.
– Ela é...
Ela é... – o jovem castelar engoliu a seco. – A filha mais nova dos reis de
Newho, a princesa Lara...
Seu olhar
era triste e distante, vivia um amor não correspondido pela bela moça.
Voltou-se de volta para o caminho dando as costas para Dimios e ajeitou o
cilindro no ombro, sem dizer mais nada. O ziniano ficou olhando para o
diabrete:
– Isso fica
cada vez mais estranho... – o diabrete foi passado para o ombro e os Senhores
de Castelo continuaram a longa viagem para a Cidade Baixa.
Mais
adiante, uma grande explosão assustou Dimios:
– Ferus!
Para com isso! Esse moleque só me dá trabalho... – o diabrete ficou rindo
daquilo.
...
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