Me Sinto Bem
Westem, que
carregava Nerítico nas costas, fugia dos dopelgangers por entre as largas ruas
da cidade baixa:
– Onde está
Pilares? Ele está demorando... Peixinho, por favor, volte logo!
...
–
Finalmente! – exclamou Ferus ao avistar a Cidade Baixa. – Pensei que nunca
conseguiríamos!
O diabrete
vermelho voou do ombro de Dimios e sumiu no meio das constantes nuvens do céu.
– Ih! Ele
se cansou de você! – o jovem castelar tentou tirar sarro do ziniano.
– ... –
Dimios nada respondeu, mantendo a expressão pesada.
– Ah! Com
você não tem graça! – e cerrou os olhos, emburrado.
– Vamos! –
retrucou secamente.
Ferus ouviu
um barulho de lamurio que estava próximo.
– Ah, não!
Eu já ouvi coisas demais por uma única missão! Dimios, vá você ver! É a sua
vez.
Compenetrado,
Dimios se esgueiro rapidamente e atacou a criatura chorosa, rasgando-lhe a
carne com a Garra de Sartel. Ferus veio em seguida:
– Depois
sou eu que sou violento com os dopelgangers! Você sabe o que fez?! – a criatura
gigante urrava de dor.
– Vamos...
– Não
mesmo! Agora eu tenho que ajudar o Iksio! – Dimios estranhou. Olhou melhor para
a criatura e ela realmente se parecia com o arthuano, apesar dele estar
monstruosamente modificado. Reparou na tatuagem fantasma e teve certeza, era
ele.
– Como você
sabia que era ele tão rapidamente?
– Não
sei... Só sabia que era ele... É a mesma essência eu acho... – Ferus tirou um
frasco com um liquido verde de seu cilindro. – Acho melhor você desligar o
pulso elétrico da Garra de Sartel...
O ziniano
percebeu que o jovem castelar tinha razão, a potência elétrica estava alta e
ele havia se esquecido de baixar a frequência. Dimios pôs a mão no encaixe e
apertou o botão para desligar, o alívio foi um grande alento depois de tanto
tempo com uma tensão elétrica passando por todo o seu corpo. Suas ideias
começaram a ficar lúcidas, o pulso elétrico estava impedindo-o de pensar com
clareza. Os pensamentos fluíam normalmente agora.
– Sente-se
melhor? – perguntou Ferus.
– Sim... –
respondeu Dimios.
– Você não!
O Iksio! Ainda bem que eu ando com um frasco do soro de cura, ele realmente vem
bem a calhar em situações como essa... – o armeiro guardou um pouco do líquido
que fora despejado na ferida ainda no frasco e deu para o multibiólogo beber.
– Acho que isso pode te ajudar
nisso também...
E de fato
foi o que ocorreu, Iksio voltou a sua forma e tamanho naturais. Por sua
educação, ele não pode deixar de dizer:
– Muito
obrigado, amigo Ferus. – o Senhor de Castelo ainda permanecia fraco e não se
levantou sem ainda cambalear, o armeiro lhe deu um ombro para ajudá-lo.
– Agora sim,
Dimios! Podemos ir para a Cidade Baixa...
– Não! –
gritou Iksio, se desesperando. – Não posso voltar lá!
– Cale a
boca... – não era Dimios que estava falando num tom grosso, baixo e pesado, era
Ferus. – Deixe de ser molenga!
– Mas, por
favor, entenda, eu não posso voltar...
– Eu só vou
dizer mais uma vez... – o cabelo do armeiro ficou vermelho. – Cale a boca...
Vamos andando... – disse pausadamente, com olhar penetrante.
Iksio
baixou a barbatana da cabeça e consentiu em ser levado de volta a Cidade Baixa.
...
– Dimios! –
gritou o jovem castelar. – Cuide dos dopelgangers! Não quero ter problemas
enquanto carrego o peixinho de aquário...
– Pelas
águas sagradas! Você também me chamando de peixe? Eu sou um homo pisces!
– Que
seja...
...
– Pilares!
Porque demorou? – Westem olhava fixamente para a tatuagem fantasma para ter
certeza.
– Não
encontrei o monstrinho de aquário... – ele tentava demonstrar o mesmo ânimo do
bárbaro galiano. – Procurei sem parar subindo nesses prédios, por isso a
demora. Cheguei a encontrar uma caixa enorme no lugar em que estávamos. Não
quis abrir, por ser muito pesada e vim lhe pedir que a trouxesse. Ela tem o
símbolo daquela nave estelar que nos trouxe até aqui e posso jurar que foi o
Iksio que a levou até ali.
– Certo...
Você cuida do Nerítico até eu voltar?
– Claro!
Nunca deixaria meu parceiro na mão! – Pilares sorriu, pousando rapidamente o
olhar no amigo de tantas missões.
Westem saiu
sem mais demoras, parecia preocupado:
– Por que o
Iksio deixaria a caixa com suprimentos de lado?
O bárbaro
não se demorou em voltar, um ou dois dopelgangers apareceram no caminho e foram
massacrados pelos punhos poderosos que já estavam coçando por ainda não terem
sido usados no planeta sem nome.
Westem
encontrou a caixa no lugar em que os castelares estavam. Um forte cheiro de
sangue estava no ar e o galiano reparou na poça que estava no beco próximo com
uma bandana encharcada e uma faca pontuda nela:
– Não pode
ser...
...
– Pilares!
– gritou Ferus procurando pelos Senhores de Castelo. – Nerítico! Westem!
Iksio se
sentiu incomodado com o som, mas não teve coragem de reclamar. Dimios ia à
frente, acertava alguns dopelgangers pelo caminho que explodiam em sua
costumeira gosma branca.
– Espere...
Tem alguém por perto... – disse Ferus, fazendo Dimios ficar mais silencioso
ainda. – São dois... Um está carregando o outro que está desacordado.
– Devem ser
Westem e Nerítico... O ultraquímico foi atacado e está mentalmente exausto...
– Você
acertou sobre o ultraquímico. – disse Dimios, já visualizando os dois.
– Pilares!
Por aqui! – voltou a gritar Ferus.
– Não
grite... Podem ser dopelgangers... – cochichou o arthuano.
– Não! São
eles! Tenho certeza! – o jovem castelar estava animado, mesmo com o cabelo
naquela tonalidade avermelhada.
– ... –
Iksio ficou quieto.
– Dimios,
Ferus! Por aqui! Preciso de ajuda! – atrás do assaltante, alguns maquinários da
legião parafuso estavam perseguindo-os.
– Dimios,
você dá conta? – perguntou o parceiro dele.
– Veja...
Livre das
amarras da tensão nos nervos, o ziniano deslizou agilmente pelo caminho. As
máquinas receberam a investida com tiros de pregos lançados as centenas em sua
direção. Dimios bloqueou os pregos com um escudo de energia e lançou um ataque
elétrico no primeiro maquinário que explodiu em milhares de pedaços. Com uma
pulsação mágica, fez o chão tremer e dois maquinários baterem um no outro. Eles
tentaram atacar o alvo que passava por eles e se acertaram mutuamente. Os três
últimos receberam uma explosão sônica que os fez voarem contra os prédios. Com
o trabalho terminado, o Senhor de Castelo retesou os dedos da Garra de Sartel
liberando mais algumas fagulhas e voltou para o grupo:
– ...? – o
ziniano pegou os castelares brigando.
– Esse não
é o Pilares! – gritava Iksio.
– Eu sou
eu! Não vê a minha tatuagem fantasma?
– Pois é...
– completou Ferus, tomando o partido do assaltante. – Esse é o Pilares!
– Não pode
ser ele! Eu tenho absoluta certeza! Afaste-se de Nerítico dopelganger! – o
multibiólogo apontava o dedo com veemência que brilhava magicamente. – Senão
serei forçado a te incinerar!
– O que
vocês pensam que estão fazendo? – perguntou Dimios.
– Eu não
sou um dopelganger! – o teslarniano pegou uma das facas e apontou para o
arthuano.
– ABAIXEM
AS SUAS ARMAS SENHORES DE CASTELO!!! – gritou Dimios que lançou uma onda sônica
sobre os dois.
Westem, que
percebeu a briga, conseguiu se dirigir para lá o mais rápido possível, usando
os prédios como atalho, pulando com vigor. O pouso dele deixou os Senhores de
Castelo em silêncio por algum tempo, seu rosto estava sério, não dirigia o
olhar a não ser para baixo. Da cintura ele tirou um pano manchado de sangue:
– Iksio...
Foi você?
– ... – o arthuano
nada respondeu.
– De quem é
isso? – perguntou Dimios.
O bárbaro
demorou em responder. Não conseguindo com a boca, levantou o dedo e apontou
para Pilares.
– O que
acha disso agora... Ferus?! – perguntou Dimios com um grande problema para
resolver. – Onde está aquele moleque?! – o jovem castelar não estava mais ali,
irritando o ziniano profundamente.
Enfim,
vários dopelgangers começaram a surgir por todos os lados e, junto deles,
dezenas de maquinários da legião parafuso. Eles estavam encurralados.
...
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