Contra Máquinas e
Monstros
“Eu não
espero ser feliz, isso seria besteira. Espero apenas garantir que o meu
irmãozinho tenha um futuro, onde possa escolher ser feliz” – Vaik, o
intrometido.
...
A insígnia
do parafuso reluzia no peito metálico dos grandes maquinários. Suas engrenagens
faziam barulhos ensurdecedores e frenéticos. Todo o equipamento funcionava com
força e poder. A furadeira fazia um som agudo e o processador calculava os
alvos com precisão – programado para acertos críticos. Máquinas não têm
sentimentos, seus ataques são precisos e mortais. Seres de carne são fracos
perante sua magnitude engenhosa.
Os
dopelgangers se amontoavam aos montes, copiando perfeitamente os Senhores de
Castelo. Sua aparência era assombrosa, não por simplesmente serem iguais de
aparência, mas por serem cópias fiéis até nos trejeitos e nos olhares. Grupos
de cinco se organizavam impecáveis para atacar, demonstrando uma grande
experiência em batalha. Castelares melhorados, isso era o que eles eram! Entre
máquinas e monstros, não havia por onde fugir!
...
– Ele deve
estar por aqui... Ele tem de estar... – dizia Ferus.
...
– Eu cuido
das máquinas! – gritou Dimios. – Elas são sensíveis a ataques elétricos de alta
voltagem. Westem, Iksio... Tentem dar conta dos dopelgangers! Pilares...
Mantenha Nerítico vivo, custe o que custar! Prove que você é o verdadeiro!
– Dimios...
– Iksio tentou falar.
– ISSO É
UMA ORDEM!!!
– Roger...
– disseram os três, dando sinal de que entenderam o recado.
...
–
Miserável... Onde ele está? Já sei! Vou subir nos prédios! – Ferus mirou o
cilindro para cima e atirou um gancho que foi até o topo do prédio mais
próximo. – Consegui!
...
Dimios
voava de um maquinário a outro, torrando seus circuitos com descargas elétricas
ou usando a Garra para arrancar o rastreador deles à força. Westem, com sua
força bruta, dava socos e chutes nas cópias dos castelares que se desmanchavam
em pleno ar. Iksio marcava tantos dopelgangers quanto podia com a palavra:
“Incinerar”! Que rapidamente consumia os seus corpos em chamas abrasivas.
O ziniano,
conforme ia atacando, se sujava com o diesel preto da legião parafuso. Seus
equipamentos pesados tinham grande força, um erro e ele cairia no chão, morto.
Dimios era rápido, seus reflexos podiam prever com facilidade o momento em que
os maquinários tentariam acertá-lo. Eram muitas máquinas, isso dava vantagem a
ele.
Os
dopelgangers, por outro lado, eram mais difíceis, pois conheciam o íntimo dos
castelares que lutavam sozinhos contra eles e logo neutralizaram a força de Westem,
prendendo-o com cordas mágicas, e o poder da escrita de Iksio com uma contra
escrita que anulava as intenções do arthuano. Isso não era bom.
Pilares
permanecia na retaguarda, guardando o amigo com suas facas afiadas:
– Eu vou te
proteger amigo... – o assaltante sentiu uma fisgada no ombro. Uma lâmina afiada
cortara a sua pele. – Custe o que custar!
Ele tirou a
bandana da cabeça e amarrou no ombro que sangrava. Concentrou-se com as palmas
das mãos juntas e abriu o terceiro olho. Focalizou a mente nas suas facas e nas
facas que lhe eram atiradas desviando-as dos alvos. Ele tinha total controle
sobre todas elas, atacando os dopelgangers:
– Ventania
cortante...
Com isso
ele libertou Westem das cordas e cortou os dedos das cópias de Iksio,
impedindo-os de usarem a contra-escrita.
Dimios
permanecia frenético ao atacar as máquinas, o diesel escorria sem parar quando
os cabos eram cortados e inutilizavam aquelas armas. A legião tentava se
auto-reparar, girando as furadeiras, rodando os atiradores de pregos, fazendo
os motores das motosserras funcionarem... tudo completamente inútil! A ascensão
do ziniano sobre a legião era certa.
A grande
quantidade de diesel poderia queimar a todos e isso preocupava a ele. Foi então
que uma cópia dele mesmo intensificou a carga elétrica da sua cópia da Garra de
Sartel e acendeu todo o líquido preto e viscoso. A chama se alastrava e fazia
alguns maquinários explodirem. Isso alertou Dimios, mas era tarde, uma máquina
atirou uma rede metálica com ganchos que o fixou no chão, sem que ele pudesse
levantar. Estava preso e o fogo devorava sem piedade o que estava encharcado de
diesel.
Pilares não
deixou que o pior acontecesse e enviou as suas facas para rompem a rede. Ela
não seria fácil de ser partida e redobrou a intensidade do pensamento sobre as
lâminas. Aproveitou também para usar a corda mágica de Westem que se esticou
até Dimios e o enrolou, tirando-o a tempo do perigo iminente. Era um pequeno
alívio naquele momento de tensão. Porém, as chamas os cercaram e logo o calor
intenso faria o trabalho da legião parafuso e dos dopelgangers.
– Iksio!
Rápido, tire Nerítico do estado B.O.B! Ele sabe o que fazer com essas chamas!
O arthuano já
se sentia ressecar com o aquecimento rápido e talvez não conseguisse penetrar
na mente do ultraquímico. Ele permaneceu concentrado e escreveu na testa de
Nerítico: “Acordar”! Iksio arfava e se mantinha no foco. O tempo urgia e nada
dele acordar. Dimios tentava invocar o poder da água com algumas palavras
místicas, sem sucesso. O ar estava muito seco e o diesel que escorria se
aproximava mais deles. No meio da crepitação, a risada de um louco que
despejava mais diesel podia ser ouvida. O calor se intensificava demais e
mantinha os Senhores de Castelo acuados. Pilares teve uma ideia:
– Iksio! Escreva
“Darla” ao invés de “Acordar”!
– Não vejo
como isso poderia ser...
– Não
discuta comigo! Escreva! – o assaltante se concentrou, tentando deter as chamas
como podia, apesar de sua influência ser maior sobre as facas.
O
multibiólogo precisou de uns instantes para se lembrar como se escrevia aquele
som e finalmente desenhou aquele nome na testa do ultraquímico. Dimios se
esquivava das chamas e quase pegou fogo, Westem o pegara com os longos braços,
erguendo-o do chão.
– PRENDAM A
RESPIRAÇÃO E PROTEJAM-SE! – gritou Nerítico que acordara do estado B.O.B. e
atirou várias granadas de rótulo Nº3 no fogo que explodiram aumentando sem
precedentes aquele incêndio. Westem abraçou Dimios para evitar que o fogo o
atingisse.
Os Senhores
de Castelo ficaram sufocados com a falta de ar, mas a seguir puderam respirar
normalmente depois que o ultraquímico liberou algumas granadas de fumaça com ar
respirável assim que o incêndio se foi. Todo o oxigênio havia sido consumido e
o fogo não continuaria. Nerítico se virou para o parceiro que permanecia em
estado meditativo e lhe deu um soco:
– Porque
você fez isso?!
– Eu tinha
que proteger você...
– Algum
problema? – perguntou Dimios que tentava se limpar do combustível.
– Nenhum!
Ele acabou de se matar, só isso!
– Desculpe...
– Não... –
disse Iksio com firmeza. – Você provou ser o verdadeiro Pilares... Eu é que lhe
devo desculpas.
O terceiro
olho do teslarniano ficou iluminado e brilhante. Ele começou a tremer, caiu no
chão. A luz se tornou liquida e verteu dos três olhos.
– Adeus
parceiro... – Nerítico chorava, sabia que era a última vez que veria o amigo.
Pilares deu
um último suspiro e explodiu. O ultraquímico ficou abismado, realmente surpreso,
acompanhados dos outros Senhores de Castelo:
– Nerítico?
– perguntou Dimios.
– Nerítico?
– perguntou Iksio.
– Nerítico?
– perguntou Westem.
– Sim...
Temo que tudo isso que aconteceu aqui... – o ultraquímico prostrou-se de
joelhos diante de uma gosma branca. – Era um dopelganger...
...
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