sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 37


Tristeza

 

            Os Senhores de Castelo conversaram entre si e decidiram resgatar Pilares sem Ferus. Ele ficaria sem o cilindro por enquanto. Questionado sobre o lugar onde o ilusionista Rubber estaria, o armeiro respondeu:
            – No lugar mais óbvio. – eles saíram juntos do último andar por uma última escada e foram olhar o que havia no topo do prédio.
            Lá fora, já de noite, no meio das nuvens altas, diversas luzes brilhavam intensamente. Holofotes iam de um lado a outro iluminando a grandiosa estrutura no alto do céu como uma enorme montanha cintilante.
            – Ele está lá, na plataforma da Cidade Alta...
...

            A mente do jovem... armeiro, estava confusa e, mais do que isso, triste:
            – Eu não passei no teste V? – ele se perguntava. – Dia de Glória, Dia de Bravura... passei por tudo aquilo e nem percebi que não passei?! – Ferus começou a chorar. – Eu queria muito ser um Senhor de Castelo...
            O newhoviano estava só, no alto do prédio que pertencia ao Açougueiro Tálio. Não poderia sair dali, a única saída estava trancada. Os Senhores de Castelo saíram para trazer até o edifício o contêiner que estava na nave estelar e, enquanto isso, ele seria vigiado apenas por Westem.
            Cansado, Ferus adormeceu. Em seus sonhos ele se lembrava da Academia, da época em que era um guerrin, dos colegas de república, das horas em que passou nos antigos e novos laboratórios construindo engenhocas, máquinas e aprendia sobre uma imensidão de armas e materiais que poderiam ser utilizados para criar uma. Sua maior admiração era sobre as jóias mágicas que possuem sua própria vibração de maru, podendo desenvolver diversas habilidades distintas dependendo da cor do material. Algumas são comuns e possuem vibrações simples, como despertar a fome, a admiração, a concentração. Outras, são verdadeiras estrelas, quanto menor o número de grandeza, mais pura e poderosa ela é – como na astronomia. As jóias mais especiais e raras de todas são os cristais vermelhos de Amadanti, com seu poder tipo fogo, destroem qualquer tipo de maru, segundo a sua pureza extrema. Reza a lenda que ninguém conseguiu forjar uma jóia tão pura e, veja o seu preço, o próprio Amadanti foi consumido por ela!
O preço de uma arma produzida com empenho, com devoção e carinho nada mais é do que o próprio egoísmo de seu armeiro. Uma arma fraca não serve para ser usada, tal qual a necessidade que se tem para tê-la. “Matar pessoas?”, se perguntou ele no sonho, ouvindo o mestre castelar lhe ensinando que deve sempre se questionar ao produzir uma arma. “A engenhosidade pode levar um simples homem a loucura”, dizia, “Uma arma deve ser usada para proteger e somente isso!”
 Um armeiro deve distinguir com equidade o uso e a produção de uma arma, não deve fazê-lo por arte, por simples ambição, isto fica para os armeiros sombrios que produzem verdadeiras armas destrutivas, tendo geralmente o seu próprio fim por causa delas.
– A tecnologia é algo incrível! – disse Ferus acordando sem querer, lembrando-se de seu Rei e Senhor de Castelo, Thagir, que porta em sua jóia de Landrakar uma grande gama de pistolas, escopetas e tantas outras armas de tiro que possuem tecnologias e origens diferentes. – Máquinas não foram feitas para destruir, mas para ajudar...
Dimios abriu a porta, olhou-o com desprezo, e deixou no chão um pacote grande com bastante comida fechada a vácuo. Ele saiu sem dizer uma palavra. Ferus sentiu um grande aperto no peito, afinal, não era apenas ser um Senhor de Castelo, ele também queria ter um parceiro, um amigo.
Levantou-se e pegou o pacote, limpou o molhado do rosto começando a comer com vontade. Devorou todo o conteúdo que havia dentro e encarou o saco vazio, socando-o com raiva.
– Eles não precisavam fazer aquilo comigo... – o armeiro não se referia aos Senhores de Castelo, mas a outros guerrins que lhe importunavam. – Eu teria conseguido se não fosse por eles! – queria gritar, mas sabia que a culpa era dele. – O meu tio... Se ele acreditasse em mim... Heh, nem sei se ele é meu tio de verdade...
Em sua mente, lembrou-se dos tempos de Curanaã, onde vivia como camponês na casa do tio. Sem pais desde cedo, desconhecia esse tipo de amor e todos os dias a mesma rotina: acordar cedo, antes do sol nascer; trabalhar o dia todo só parando para almoçar e jantar; e em seguida voltar a dormir. Normalmente, o tio ia para a metrópole fazer as entregas e o menino Ferus continuava trabalhando, mesmo sozinho. Não podia brincar, não havia com quem e, se não trabalhasse, ficaria sem comer, de castigo. Uma vida dura e amarga. A chegada à Academia dos Senhores de Castelo se deu através da Rainha Dânima que buscava ajudar a subsede dos castelares que futuramente precisaria de reforço. Naquele tempo, o tio de Ferus estava doente e ele, ainda pequeno, teve de guiar a carroça com os produtos que seriam vendidos. A cidade simples lhe pareceu tão bonita, tão movimentada e nem percebeu o quanto ela seria perigosa.
Tratou de levar tudo até o endereço e chamou pelo responsável, um homem alto e cego de um dos olhos. Percebendo que poderia tirar proveito daquilo e dar qualquer desculpa para o tio do menino, tomou lhe tudo sem pagar e o esbofeteou, deixando-o caído numa viela próxima. Sem saber o que fazer ficou vagando pelas ruas e viu uma multidão de pessoas olhando para uma inscrição diante do portão de um castelo. Ele entrou lá e no mesmo dia viajou – escondido – para a Ilha de Ev’ve. Houveram algumas complicações para que ele fosse admitido, mas tudo foi resolvido com a ajuda da Rainha de Newho que, a pedido da filha mais nova, interveio no caso. Estabelecido na República de Guerrins, nunca mais veria o tio em sua vida, guardando-lhe mágoas pelo que lhe dissera ao se impor contra a sua admissão como Senhor de Castelo.
Diante de Ferus estava um mundo novo, fantástico e incomensurável! Um pequeno camponês que pouco sabia do próprio mundo e que estava agora em um completamente diferente. Sua inocência no meio de tantos seres a qual não estava acostumado causava-lhe problemas. Aparentemente qualquer um queria se aproveitar do pequeno que nada poderia fazer contra os guerrins maiores. Nunca teve amigos durante todo aquele tempo. De certo que escolheu a profissão de armeiro por este motivo, para derrotar os outros.
A época de guerrin também teve outros problemas, uma vez que ele também estava na grande batalha contra os caçadores sombrios. Sentiu-se usado naquele dia escuro, como aprendiz de armeiro só era capaz de ajudar a quem não gostava. Os laboratórios que surgiram das estrelas escuras terminaram de ser a sua válvula de escape, eram grandes espaços vazios onde podia se esconder e produzir as suas próprias armas.
Era isso mesmo, fez armas perigosas para se ocupar. Queria esquecer-se de tudo e um dia ouviu uma música familiar. Depois daquilo, seu cabelo começou a mudar de cor. Tentou esconder, tingindo-o como podia, mas a cor diferente sempre aparecia.
– E agora? O que eu faço? – e voltou a adormecer.
...

            – O que faremos com ele Dimios? – perguntou Nerítico, ainda tentando entender a situação.
            – Ainda não sei... Se tivermos sorte, ele será julgado pelo conselho e... – um estrondo estremeceu todo o prédio, o barulho vinha do terraço. – O que foi isso?!
            E todos correram para a cobertura. Do lado de fora do prédio, não havia ninguém, apenas um amontoado de lixo pelo chão. Ao fundo, o som de outros prédios sofrendo o mesmo abalo...
...
 

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