segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 26


A Esperança

 

            Dimios estava fora do acampamento de Monaro, buscando uma resposta para resolver aquele enigma:
            – Eu nunca enfrentei a Irmandade Cósmica antes... Como posso superar um inimigo sem escrúpulos como eles?
            – Comece não desistindo... – Ferus se aproximou, depois de um bom tempo dormindo, estava acordado, bem disposto e morrendo de fome.
            – Vejo que acordou.
            – Minha cabeça tem ficado muito estranha ultimamente...
            – Você saiu porque Vaik estava te olhando?
            – Hoh! – Ferus ficou envergonhado. – Como você sabe?
            – O olhar daquele menino parece percorrer a nossa alma.
            – Realmente... – ele pôs as mãos atrás da cabeça, segurando-a. – Só não entendo porque ele tem que ficar me olhando o tempo todo!
            – ... – Dimios ficou em silêncio, observando a coloração azulada do cabelo do parceiro.
            – Pare de ficar me olhando assim! Até parece o garoto!
            – É justamente o que estou fazendo...

            – O quê?! – Ferus deu um passo para trás.
            – Esta é uma das artes anciãs... Conheça a teu inimigo como a ti mesmo. Cada reflexo do seu corpo significa uma ideia que pode ser lida. Como a sua garganta se mexendo, indicando que está entendendo o que estou falando.
            – Você está me assustando...
            – ... – Dimios deu um leve sorriso.
            – Quê?! Você sorriu?
            – Por quê? Não posso? – seu rosto voltou a ficar sério.
            – Pode sim! – Ferus ficou sem graça. – É que você sempre tem agido como o mais frio de nós seis.
            – Erros podem matar pessoas... – sua fala era pesada, lembrando de algo em seu passado. – Se eu deixar meus sentimentos falarem mais alto, posso ter baixas no grupo que eu estou liderando.
            – Só que você está assim antes mesmo de receber as instruções... – Ferus cerrou os olhos, fazendo cara feia para o parceiro.
            – Não gosto que olhem para a Garra de Sartel...
            – Você ouviu o que eu disse no atravessador? Ela é magnífica! Feita de uma liga especial muito rara. Muitos matariam por esta relíquia! – Ferus movimentava os braços com empolgação.
            – É justamente por isso que não quero ninguém olhando para ela. Ela me custou o meu melhor braço... – Dimios pousou a mão no cotovelo da garra, como se quisesse segurá-lo para não escapar.
            – ... – o jovem castelar ficou pensativo. – Posso vê-la? Juro que não vou roubá-la!
            Dimios ficou sério novamente, mas permitiu que o parceiro olhasse a sua arma. Ferus verificou as juntas, uma por uma. Lembrando-se que seu cilindro não estava com ele, pensou em sua lupa mágica que o ajudava a ver os menores detalhes. A força que vinha da garra parecia transbordar, fazendo o jovem notar algo:
            – Tem carga estática aqui! – Dimios puxou a garra de volta.
            – Já chega! – o ziniano gritou alto, assustando Ferus pra valer, deixando-o triste e constrangido.
            Ele saiu andando, deixando Dimios para trás. Monaro vinha pelo caminho, foi ao seu encontro e falou rapidamente com ele. Ferus pareceu animar-se e correu para o acampamento. O Senhor de Castelo foi perguntar sobre o que era. O açougueiro balançou a cauda espinhosa e respondeu ao olhar inquisidor que o encarava:
            – Creio termos encontrado o cilindro do garoto. Só não temos boas notícias de com quem está...
            – Não faça rodeios, apenas diga.
            – Meus subordinados encontraram-no caído há poucos dias. Eles iriam matá-lo para me trazer carne fresca, mas foram interrompidos por uma velha e fugiram. – Dimios reparou friamente nisso. – Eles levaram tudo para a Árvore de Mil Olhos para que ela lhes dissesse o que fazer com os objetos desconhecidos.
            – O que é a árvore de mil olhos?
            – A última árvore do planeta... Se bem que não dá para dizer que seja uma planta se ela é feita de carne...
            – Mais uma criatura transformada pela irmandade?
            – Não... Pelo que me disseram, alguns velhos se sacrificaram num ritual mágico prevendo a destruição do planeta. A anima do planeta tomou os seus corpos e os refez nessa forma curiosa, cheia de olhos. Eles não querem que eu vá lá. A árvore é sagrada para eles e me disseram que ela se irrita com facilidade... – Monaro falava dissimuladamente, tentando esconder algo.
            – Com tanto tempo aqui, você nunca quis vê-la?
            – Você é realmente um castelar muito perspicaz! – disse, denotando alguma surpresa dissimulada. – Não conte pra eles, eu já fui ver a árvore sim... Ela é gigantesca! Tentou me matar. Consegui escapar sem ser percebido pelos outros. Quero que eles se juntem a mim para que possamos abrir as portas do paraíso...
            – Então é verdade...
            – O quê?
            – Nada! – agora foi Dimios que escondeu sua surpresa. – Os altarianos realmente possuem um meio especial de atravessar o multiverso. Estou certo?
            – Bem... Isso eu não sei. Só ouvi falar. Quando me tornei açougueiro, vi que precisava ser aceito por eles e eles me levaram até a aranha que guarda a entrada da caverna da Árvore de Mil Olhos... Se bem que não é uma aranha, é uma mulher gorda com quatro braços e quatro pernas muito peludas que cospe teias pela boca, enfim... Ela tem um retalho de roupa com três quadrados brancos marcados com um ponto no primeiro e quatro nos outros dois. Se me lembro bem isso significa... Sessenta e quatro!
            – Esses quadrados são números?
            – São... A forma de contar dos altarianos não é decimal. Eles contam em grupos de seis. Os pontos que estão na minha camisa dão... Quatro dados... Último grupo... Último resultado... Mil quinhentos e cinquenta e quatro... Sim, mil quinhentos e cinquenta e quatro. Estes números só são usados em algumas experiências, as bem-sucedidas. Eu fui a milésima quingentésima quinquagésima quarta experiência bem sucedida...
            – Quanto dá um quadro com três e o segundo com dois pontos?
            – Nessa ordem? Da esquerda pra direita? – Dimios afirmou com a cabeça. – Essa é fácil, vinte... Já encontrou uma das experiências por aí?
            – Sim... E não foi nada bonito... – pareceu uma piada, mas o tom era de seriedade. – Aliás, as criaturas que encontramos por aqui não são nada naturais.
            – Pois é... A vida natural se extinguiu há um milênio. Seria ótimo que algum mago poderoso pudesse reestruturar a essência do planeta. Porém, temo que isso seja impossível...
            – As forças mágicas do multiverso são imprevisíveis... – sugeriu o ziniano que apertou a garra. Ele tinha certeza de suas palavras.
            – É justamente por isso... A força da anima do planeta está se extinguindo. Pode parecer que a magia esteja no ar em altas concentrações agora. Estranhamente, há quinhentos anos, a coisa era diferente. O planeta estava em seus últimos suspiros e agora...
            – Está morto? – interrompeu Dimios, prevendo o pior.
            – Sim. A alma do planeta se foi e algo tomou o seu lugar. Imagino que possa ser...
            – Mestre! Os Senhores de Castelo querem falar com você e o castelar Dimios! – um serviçal de Monaro interrompeu a conversa. O açougueiro mostrou os dentes com raiva. Assustado, deu meia volta e saiu de vista.
– Vamos entrar, ainda temos muito que resolver para ajudar o seu amigo a recuperar o brinquedo... – Monaro não esperou e deu as costas para Dimios, que teve de desviar da cauda espinhosa e o seguiu.
Ambos entraram na barraca improvisada. O vento frio soprava, já estava anoitecendo...
...
 

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