A Ilusão
A aranha
perguntou para a árvore:
– O que
devo fazer com a fera que se aproxima, meu senhor?
– MATE-A!
–
Obedecerei...
...
– Tem o quê
no meio do caminho? – gritou Ferus para Monaro.
–
Dopelgangers... Você é surdo moleque?
– Pelo
perdão da palavra... – ponderou Nerítico. – Não temos ideia do que está
falando.
– Hun... –
Monaro fez um ruído com a boca. – Dopelgangers são duplicadores. Criaturas que
imitam em tudo o que você faz. Já tive o desprazer de enfrentar uma delas e, se
eu não tivesse descoberto uma saída nova por onde escapar, eu teria me
matado...
– Droga! E
como eu vou recuperar o meu cilindro? Com ele posso enfrentar qualquer coisa!
– Não seja
ridículo... – disse Dimios, fitando-o com desprezo.
– Eu já me
encontrei com um deles...
–
Pilares?!!! – perguntaram todos, exceto o ziniano que se continha.
– Por que
não disse logo?! – perguntou o parceiro dele.
– Tivemos
alguns contra tempos e minha memória não está muito boa ultimamente. Me
desculpem...
– Está
ficando gagá? – falou o ultraquímico, tentando tirar um sorriso da cara triste
do amigo assaltante.
– Não... –
Pilares não reagiu. Ele pôs a mão no bolso e tirou um colar com a jóia mágica
que suporta a suit de sobrevivência. – É por causa do Iksio...
– O que é
que tem o peixinho de aquário? – perguntou o bárbaro, parceiro do arthuano.
– Isso foi
tudo o que eu encontrei depois que nos separamos... O dopelganger ou seja lá
como se chama aquela coisa enorme, estava me caçando e eu sequer pude ver o seu
rosto.
–
Estranho... Você não está falando do monstro de lixo? – perguntou Monaro.
– ...! –
Pilares lembrara-se de algo. – Antes disso, depois que saímos da nave espacial,
eu vi o Iksio correndo de um monte de lixo ambulante!
– É mesmo!
– consentiu o ultraquímico. – Eu também o vi correndo de algo bem grande que
não pude ver direito!
–
Hahahah... – Monaro começou a rir como não fazia há um bom tempo. – Vocês não
existem! Tinha até me esquecido de como era um bom papo com outros Senhores de
Castelo!
Westem,
Pilares e Nerítico também riram. Exceto Dimios, que permanecia concentrado em
observar Monaro, se ele era ou não perigoso, e Ferus, que subitamente se
levantou, retornando para o exterior da barraca improvisada.
– Esse
garoto é muito estranho, não acham?
– Sim... –
concordaram os três com Monaro.
...
O
acampamento não era grande, deveria haver umas vinte e cinco pessoas, todas com
músculos aparentes, olhos escuros e miúdos, muito quietos, nada falantes. Dois
deles ficavam de guarda na frente da barraca de Monaro. Ferus andou devagar
quando passava por eles e voltou a correr depois de passar. “Aquilo é muito
importante pra mim...”, pensava ele, “Não é apenas a minha arma, a foto dela
está lá!”. Alguém se aproximou de Ferus e pousou sua mão no ombro dele:
– Não fique
assim... – vendo que a voz severa era de Dimios, o jovem castelar se acalmou do
susto.
– E você
quer que eu fique como?
–
Concentrado... A legião parafuso, os dopelgangers ou esse monstro de lixo não
serão os únicos monstros que você enfrentará se você realmente quer ser um
Senhor de Castelo que honra o seu título. Lembre-se do nono dia. – por trás dos
pensamentos de Dimios, lhe vinha a memória de sua primeira missão. No meio
dela, o ziniano também fraquejara ao ver que seus punhos bem treinadores nem
sempre dariam conta do recado, sendo aconselhado por Cardial da mesma forma com
que estava aconselhando o parceiro.
– Acho que
errei em confiar todo o meu preparo naquele cilindro... Embuti tanta coisa nele
que poderia enfrentar um exército! – Ferus levantou as mãos para o alto com a
animação, olhando para a clareira de lixo a sua frente.
– Não
confie tanto assim. Basta apenas a vontade de um deles para você ser morto... –
isso desanimou o jovem castelar que desceu os braços lentamente, encarando a
verdade.
– Eu queria
ser forte, para nunca ter medo...
– ... –
Dimios sorriu levemente ao ver a expressão de Ferus. – Ser forte de verdade é
enfrentar os seus medos, apenas com os punhos!
O jovem
castelar se alegrou vendo a posição de batalha de lutador que o parceiro
assumiu:
– Você já
foi lutador Dimios?
– Em Zínio todos
são bons lutadores, os punhos são as maiores armas de um homem que não tem mais
nada para se defender... – ele tentou dar alguns golpes no ar. O braço normal
socava com rapidez, no entanto, a Garra de Sartel era lenta e pesada, deixando
o Senhor de Castelo desconfortável.
– A Garra
lhe custou o seu melhor braço... – Ferus ficou pensativo.
– Vamos
buscar o seu cilindro? – perguntou Dimios, escondendo um sorriso.
– A missão
precisa prosseguir, não devemos nos desviar do nosso objetivo...
– ... –
Dimios ficou sério de novo. – Andando! – Ferus obedeceu sem demora. – Será
possível que só assim eles me obedecem?!
...
Ferus e
Dimios conversaram com todos. Monaro decidiu partir com o acampamento junto deles
para lhes mostrar o caminho, pois seriam apenas alguns dias de viagem e bem
preparados fariam isso mais rapidamente. O açougueiro também decidiu que iria
chamar as outras vilas remanescentes para avisar-lhes que as portas do paraíso
seriam abertas. Uma notícia que logo se espalharia e reanimaria o povo do
planeta sem nome. Westem, Pilares e Nerítico decidiram tomar um rumo diferente.
Iriam procurar por Iksio na região da cidade baixa, local onde o monstro de
lixo era mais visto. Ferus avisou Dinha sobre sua partida, ela continuaria com Toshi
e Esmal para ficar segura no mercado negro:
– Você vai
voltar?
– Claro!
Com meu cilindro vou poder concertar todas as máquinas no seu porão! – os dois
se abraçaram e se despediram.
Novos
caminhos estavam sendo trilhados e novas batalhas iriam ser enfrentadas, todos
os preparativos para a abertura das portas estavam sendo feitos. Ferus pegou em
seu bolso a caixinha de música de Newho e a admirou por alguns segundos. Seu
tom de cabelo mudou:
– Tudo está
indo perfeitamente bem...
...
– Malditos
Senhores de Castelo! – resmungava alguém perdido no meio da plataforma da Cidade
Alta. – A extração não aconteceu durante tempo suficiente! Preciso de mais! De
mais!
Uma face
medonha a sua frente com um sorriso diabólico vomitou um coração ainda pulsante
que rolou para próximo dele. Uma criatura muito alta, de braços largos com
dedos tão compridos que tocavam o chão e cabeça desproporcional, bulbosa atrás
e rosto miúdo na frente, balbuciava constante e inclinou-se para próximo do
sujeito:
–
Açougueiros imprestáveis! Tragam-me os corações dos Senhores de Castelo! Eu
quero eles agora!!!
Um boneco
de cerca de um metro de altura, com feições humanas, totalmente feito de pano,
vestido como marinheiro de uniforme branco se aproximou andando como um brinquedo
usado por uma criança. Saiu da penumbra, parou perto daquele homem e o encarou:
– Vá
Croaton... Faça com que eles mesmos arranquem seus próprios corações! – o
boneco bateu palmas, fez reverencia e todos os açougueiros sumiram nas sombras.
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário