terça-feira, 9 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 27


A Ilusão

 

            A aranha perguntou para a árvore:
            – O que devo fazer com a fera que se aproxima, meu senhor?
            – MATE-A!
            – Obedecerei...

...

            – Tem o quê no meio do caminho? – gritou Ferus para Monaro.
            – Dopelgangers... Você é surdo moleque?
            – Pelo perdão da palavra... – ponderou Nerítico. – Não temos ideia do que está falando.
            – Hun... – Monaro fez um ruído com a boca. – Dopelgangers são duplicadores. Criaturas que imitam em tudo o que você faz. Já tive o desprazer de enfrentar uma delas e, se eu não tivesse descoberto uma saída nova por onde escapar, eu teria me matado...
            – Droga! E como eu vou recuperar o meu cilindro? Com ele posso enfrentar qualquer coisa!
            – Não seja ridículo... – disse Dimios, fitando-o com desprezo.
            – Eu já me encontrei com um deles...
            – Pilares?!!! – perguntaram todos, exceto o ziniano que se continha.
            – Por que não disse logo?! – perguntou o parceiro dele.
            – Tivemos alguns contra tempos e minha memória não está muito boa ultimamente. Me desculpem...
            – Está ficando gagá? – falou o ultraquímico, tentando tirar um sorriso da cara triste do amigo assaltante.
            – Não... – Pilares não reagiu. Ele pôs a mão no bolso e tirou um colar com a jóia mágica que suporta a suit de sobrevivência. – É por causa do Iksio...
            – O que é que tem o peixinho de aquário? – perguntou o bárbaro, parceiro do arthuano.
            – Isso foi tudo o que eu encontrei depois que nos separamos... O dopelganger ou seja lá como se chama aquela coisa enorme, estava me caçando e eu sequer pude ver o seu rosto.
            – Estranho... Você não está falando do monstro de lixo? – perguntou Monaro.
            – ...! – Pilares lembrara-se de algo. – Antes disso, depois que saímos da nave espacial, eu vi o Iksio correndo de um monte de lixo ambulante!
            – É mesmo! – consentiu o ultraquímico. – Eu também o vi correndo de algo bem grande que não pude ver direito!
            – Hahahah... – Monaro começou a rir como não fazia há um bom tempo. – Vocês não existem! Tinha até me esquecido de como era um bom papo com outros Senhores de Castelo!
            Westem, Pilares e Nerítico também riram. Exceto Dimios, que permanecia concentrado em observar Monaro, se ele era ou não perigoso, e Ferus, que subitamente se levantou, retornando para o exterior da barraca improvisada.
            – Esse garoto é muito estranho, não acham?
            – Sim... – concordaram os três com Monaro.
...

            O acampamento não era grande, deveria haver umas vinte e cinco pessoas, todas com músculos aparentes, olhos escuros e miúdos, muito quietos, nada falantes. Dois deles ficavam de guarda na frente da barraca de Monaro. Ferus andou devagar quando passava por eles e voltou a correr depois de passar. “Aquilo é muito importante pra mim...”, pensava ele, “Não é apenas a minha arma, a foto dela está lá!”. Alguém se aproximou de Ferus e pousou sua mão no ombro dele:
            – Não fique assim... – vendo que a voz severa era de Dimios, o jovem castelar se acalmou do susto.
            – E você quer que eu fique como?
            – Concentrado... A legião parafuso, os dopelgangers ou esse monstro de lixo não serão os únicos monstros que você enfrentará se você realmente quer ser um Senhor de Castelo que honra o seu título. Lembre-se do nono dia. – por trás dos pensamentos de Dimios, lhe vinha a memória de sua primeira missão. No meio dela, o ziniano também fraquejara ao ver que seus punhos bem treinadores nem sempre dariam conta do recado, sendo aconselhado por Cardial da mesma forma com que estava aconselhando o parceiro.
            – Acho que errei em confiar todo o meu preparo naquele cilindro... Embuti tanta coisa nele que poderia enfrentar um exército! – Ferus levantou as mãos para o alto com a animação, olhando para a clareira de lixo a sua frente.
            – Não confie tanto assim. Basta apenas a vontade de um deles para você ser morto... – isso desanimou o jovem castelar que desceu os braços lentamente, encarando a verdade.
            – Eu queria ser forte, para nunca ter medo...
            – ... – Dimios sorriu levemente ao ver a expressão de Ferus. – Ser forte de verdade é enfrentar os seus medos, apenas com os punhos!
            O jovem castelar se alegrou vendo a posição de batalha de lutador que o parceiro assumiu:
            – Você já foi lutador Dimios?
            – Em Zínio todos são bons lutadores, os punhos são as maiores armas de um homem que não tem mais nada para se defender... – ele tentou dar alguns golpes no ar. O braço normal socava com rapidez, no entanto, a Garra de Sartel era lenta e pesada, deixando o Senhor de Castelo desconfortável.
            – A Garra lhe custou o seu melhor braço... – Ferus ficou pensativo.
            – Vamos buscar o seu cilindro? – perguntou Dimios, escondendo um sorriso.
            – A missão precisa prosseguir, não devemos nos desviar do nosso objetivo...
            – ... – Dimios ficou sério de novo. – Andando! – Ferus obedeceu sem demora. – Será possível que só assim eles me obedecem?!
...

            Ferus e Dimios conversaram com todos. Monaro decidiu partir com o acampamento junto deles para lhes mostrar o caminho, pois seriam apenas alguns dias de viagem e bem preparados fariam isso mais rapidamente. O açougueiro também decidiu que iria chamar as outras vilas remanescentes para avisar-lhes que as portas do paraíso seriam abertas. Uma notícia que logo se espalharia e reanimaria o povo do planeta sem nome. Westem, Pilares e Nerítico decidiram tomar um rumo diferente. Iriam procurar por Iksio na região da cidade baixa, local onde o monstro de lixo era mais visto. Ferus avisou Dinha sobre sua partida, ela continuaria com Toshi e Esmal para ficar segura no mercado negro:
            – Você vai voltar?
            – Claro! Com meu cilindro vou poder concertar todas as máquinas no seu porão! – os dois se abraçaram e se despediram.
            Novos caminhos estavam sendo trilhados e novas batalhas iriam ser enfrentadas, todos os preparativos para a abertura das portas estavam sendo feitos. Ferus pegou em seu bolso a caixinha de música de Newho e a admirou por alguns segundos. Seu tom de cabelo mudou:
            – Tudo está indo perfeitamente bem...

...

            – Malditos Senhores de Castelo! – resmungava alguém perdido no meio da plataforma da Cidade Alta. – A extração não aconteceu durante tempo suficiente! Preciso de mais! De mais!
            Uma face medonha a sua frente com um sorriso diabólico vomitou um coração ainda pulsante que rolou para próximo dele. Uma criatura muito alta, de braços largos com dedos tão compridos que tocavam o chão e cabeça desproporcional, bulbosa atrás e rosto miúdo na frente, balbuciava constante e inclinou-se para próximo do sujeito:
            – Açougueiros imprestáveis! Tragam-me os corações dos Senhores de Castelo! Eu quero eles agora!!!
            Um boneco de cerca de um metro de altura, com feições humanas, totalmente feito de pano, vestido como marinheiro de uniforme branco se aproximou andando como um brinquedo usado por uma criança. Saiu da penumbra, parou perto daquele homem e o encarou:
            – Vá Croaton... Faça com que eles mesmos arranquem seus próprios corações! – o boneco bateu palmas, fez reverencia e todos os açougueiros sumiram nas sombras.
 
 
...

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