Para quem quiser saber mais sobre essa mulher poderosa, acesso o blog Contos de Vampiros e Terror, de Adriano Siqueira!
Devil’s Drink 27 – Há
muito tempo...
Fui
chamado, no início do século 20, para participar de uma votação do conselho,
sendo um mediador neutro. Nunca me interessei muito pelo que eu deveria fazer,
vampiros e lobisomens ficam brigando por qualquer motivo, e meter demônios no
meio da conversa me parecia demais para esses assuntos burocráticos tão chatos.
Bem, como um representante das forças sobrenaturais eu tive de ir, mesmo a
contra gosto.
Naquele
momento, a vida humana estava florescendo, revolucionando tecnologias e
conhecimentos. No entanto, foi decidido que a reunião seria nos moldes mais
antigos, com roupas de gala de corte sofisticado e requintado. As mulheres
vestiriam belos vestidos de saia longa com corpete apertado evidenciando o
busto e os homens iriam vestidos com roupas negras, colete e calças bem
ajustadas e sapatos lustrosos. Não faz o meu feitio, mas me arrumei de acordo,
amarrando o meu cabelo que era comprido na época.
Na reunião,
todos os aristocratas vampirescos chegavam com suas carruagens brilhantes e
seus cocheiros escravos, enfeitiçados por seus poderes hipnóticos. Eu preferi
me apresentar somente a cavalo, a noite estava ótima e não queria perder a
oportunidade de cavalgar.
Não me
lembro bem onde era aquela mansão, a memória me falha agora. Talvez fosse na
França ou na Inglaterra. Fosse onde fosse não é da reunião que me lembro. O que
me lembro daquele dia era outra coisa...
Eu e o
conselho nos sentamos à mesa para um jantar farto e delicioso, com direito a
taças de sangue fresco tirado na hora e carne de primeira muito bem assada. Não
comi nada disso... Tive de dizer que estava de dieta, certos hábitos de outros seres
sobrenaturais me enjoam e eu não teria estômago para comer absolutamente nada.
Passado o
jantar, os vampiros limparam suas bocas sujas de sangue e nos dirigimos para
uma sala de reuniões mais apropriada. Foi lá que eu a vi pela primeira vez.
Chegara por último, por estar ocupada com certas pragas que infestam as grandes
cidades, mas havia chegado, vestida deslumbrantemente. Não tivera tempo de
arrumar o cabelo e ele estava solto, deixando-a ainda mais formosa e perfeita
sob as luzes da lareira que crepitavam naquela sala sombria. Não sei dizer se
seu cabelo estava negro ou vermelho, mal pude reparar nisso, a reunião
começaria e eu estava preocupado com o que se tratava. Ou será que foram
aqueles lábios indelicadamente chamativos que me tiraram a concentração?
A reunião
tratava de um pacto e de um localizador, não sei ao certo. Era algo que poderia
encontrar os seres sobrenaturais que estavam na cidade e dizer a que raça
pertenciam, ou algo assim. Tudo aquilo era para decidir com quem aquele
artefato ficaria. Ela se apresentou desejosa daquela posse. Seu olhar era
certeiro, decidido, forte. O filho do líder do conselho também o fez e ficou
decidido que seria votado entre os dois para receber aquele objeto
estranhamente pequeno. Vários votaram no filho mimado do líder, alguns votaram
naquela linda vampira e ela acabou por protestar, chamando a atenção dos
aristocratas sobrenaturais. Eu sorri ao ver o ímpeto daquela mulher numa época
em que as mulheres pouco tinham valor para os homens, salvo o valor que elas
tem para eles na cama. Os votos restantes se voltaram todos para ela, o que
acabou gerando um empate. O que me tornaria finalmente presente naquele assunto
de sugadores, demônios e outros seres sobrenaturais. O artefato seria passado
para um vampiro e eu teria de escolher com qual dos dois. A bela mulher me
fitou com intensidade, eu senti calafrios me percorrerem a espinha. Levei os
dedos à boca, demonstrando estar pensativo, mas eu não tinha dúvida, o meu voto
foi para ela. O que gerou grande discussão entre os vampiros presentes.
Sem muita
cerimônia, o pequeno artefato foi entregue a bela vampira. Reparei em sua saia,
estava posta de tal forma que se fosse preciso fugir, poderia ser facilmente
arrancada sem que atrapalhasse a fuga. Como ela usava um crucifixo, ela fixou o
objeto dentro dele e falou algumas palavras que não pude ouvir bem, mas
tratavam de alguma promessa ao conselho.
Um alarme soou alto e todos
tiveram de correr para as suas carruagens. Algum clã de lobisomens ou algum
outro ser sobrenatural queria o poder que o artefato tinha e atacou sem
precedentes a reunião. Aquele velho castelo onde estávamos possuía muitas
saídas e não foi difícil escapar. Logo desci as escadas e encontrei a vampira
um pouco perdida, parecia esperar por alguém para fugir e segurei em seu braço:
“Venha comigo”. Ela hesitou e tratei de lhe falar daquele que a esperava. Ela
me perguntou como eu sabia e lhe respondi: “Eu apenas sei”. Levei-a para
debaixo das escadas e empurrei uma alavanca secreta que abriu uma pequena porta
por onde descemos. Saímos nos estábulos. Preparei o meu cavalo e ela se
encontrou com quem precisava. Ele tinha dois cavalos consigo, ela arrancou a
saia do vestido como eu havia pensado, estando muito bem prepara para andar a
cavalo e logo saímos em disparada pela floresta no meio da noite.
Num momento, eu e ela nos vimos
mais uma vez. Ela me perguntou meu nome: “É Victório, e o seu?” “Morticia”, ela
me respondeu. “Foi um prazer jovem dama! A sedução é vermelha... como o sangue!”,
acenei e tomei outro rumo. Já fazem várias décadas que não a vejo...
Recentemente, já neste século 21,
ouvi falar de uma vampira chamada Morticia que vem causando alguns problemas
aos humanos por causa da procura daquele maldito objeto capaz de saber onde os
seres sobrenaturais estão. Minhas escamas vermelhas se atiçaram, queimaram a
minha pele sem mais delongas, meus olhos se preencheram do vermelho sangue e
senti um calor fumegante tomar conta de mim: “Será que é ela?”
...
"adoraria velo novamente,Victório."
ResponderExcluirEstarei esperando, my lady...
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