A Fábrica de Máquinas
– O que
você espera de mim? Sou apenas o Filho do Fim... – o ilusionista fitava as
crianças tentando entender o que elas eram.
– Croaton!
Venha a mim! Eu preciso de você! – gritou o altariano.
– Porque
quer que ele venha? – perguntou Vaik, escondendo o irmão atrás dele.
– ...! –
Rubber, com seu rosto pouco semelhante ao natural, demonstrava certo desgosto
pelas crianças. – Preciso dele para ficar completo...
O
ilusionista andou até um cilindro de suporte de vida com Pilares dentro.
Acariciou o vidro admirando o novo e desejado corpo que teria.
– Logo
serei completo...
...
A longa
caminhada continuava, principalmente à noite, pois era mais fácil saber a
direção da plataforma luminosa. Os Senhores de Castelo confiavam em Dimios, ele
tem bons motivos para ser um bom líder e proteger os seus. No entanto, Westem,
Nerítico e Iksio não confiavam no Caçador Sombrio e muito menos na garotinha de
vestido vermelho que tentara matá-los há poucas horas. Andar com eles muito
próximos era uma contradição, um sentimento que calou os castelares de suas
conversas amistosas e cheias de alegria. O ziniano andava decidido, passos
firmes, seguia sem medo pelas ruas mortas da Cidade Baixa, já não temia os
perigos que poderiam surgir.
Iksio se lembrara
de algo e passou a frente dos outros para falar com o guerreiro da garra:
– Dimios...
Mais a frente, pelo que me lembro quando vim aqui, há uma longa esteira que
leva materiais do lixo para o centro da cidade. Pelos barulhos repetitivos
concluo com total certeza que deve haver uma fábrica da legião parafuso por
perto.
Ele olhou
para o arthuano sem dizer nada e fez um sinal com a cabeça de que havia
entendido. Na verdade, ele já pensava que naquele lugar cheio de maquinários
pesados deveria haver algo que produzisse mais máquinas, um molde que
fabricaria cópias da legião. Os sons do trabalho mecânico logo foram ouvidos.
– Iksio,
você se lembra de mais alguma coisa?
– Creio que
não, caro Senhor de Castelo. Vim até aqui para pegar o contêiner e saí daqui
sem demora.
Uma máquina
apareceu no caminho apitando bem alto. Seu leitor indicava: “Intrusos”, no qual
substituída com eficiência pela palavra “Destruir”. Dimios não tardou em atirar
uma esfera de energia elétrica que deu um grande curto no maquinário que, por
fim, explodiu. Isso chamou a atenção de mais duas máquinas que vieram para cima
dos Senhores de Castelo e seus aliados com tiros de pregos metralhados. Desta
vez foi Nina que interveio e, com seus poderes sombrios, rasgou uma fenda da
zona das sombras na frente do grupo que engoliu com eficácia os projéteis pontiagudos.
Westem por sua vez lançou a sua corda mágica em um dos maquinários e o jogou
com força atrás de todos, despedaçando suas peças. Nerítico deu cabo da última
máquina com uma de suas granadas de rótulo Nº03, que incendiou o maquinário e o
fez explodir. O arthuano, pensativo, escreveu no ar com a escrita mágica a
palavra “Rastrear”, aumentando sua percepção para localizar todos os inimigos.
– Dimios...
Se continuar assim logo chamaremos a atenção da fábrica... – a crista do
multibiólogo abaixou, ele tremia ao constatar o que via.
– Quantos
são? – perguntou de volta.
– Mais de
um milhão de máquinas...
– O quê?!
– Tenho
certeza... Todos os prédios abaixo daquela plataforma estão cheios dos robôs da
legião parafuso...
– E essa
agora... Esperava ter bem menos... – o guerreiro olhou para o Caçador Sombrio.
– Não olhe
para mim lixo desprezível do multiverso. Nunca ajudarei um Senhor de Castelo,
nunca! – Rigaht estava decidido.
– Na
verdade, iria lhe pedir um conselho... Mas acho que já sei o que posso fazer.
Nerítico, quantas granadas você ainda tem?
– Não
muitas... – o ultraquímico abriu o jaleco branco repleto de frascos, granadas e
outros elementos químicos. – Sem contar os tipos, posso fazer ainda umas cento
e cinquenta...
– Ótimo.
Poderei botar o meu plano em prática...
...
– Todos
prontos? – perguntou Dimios ao grupo depois de cerca de três ou quatro horas.
– Sim, tudo
pronto no lado leste. – respondeu Nerítico.
– Consegui
fazer tudo o que me pediu Dimios, o lado sul está pronto. – falou Iksio.
– Tudo nos
conformes! – disse Westem. – Lado oeste pronto!
– Vocês são
loucos! – exclamou Rigaht vendo o tamanho das proporções que aquele plano
levava.
– O lado
norte também está pronto e vocês, caçador e Nina, escondam-se...
– Meu
querido Thagir vermelho, vamos leve-me! – ordenou a menina, sentindo prazer por
brincar daquela forma.
– Como vou
encontrar vocês no meio disso tudo? – questionou o Caçador Sombrio.
– Você saberá...
– respondeu Dimios decidido. – Senhores de Castelo, Iqueróm wa puma!
– WA PUMA!
– gritaram os quatro em uníssono erguendo as mãos para o céu e se separando em
direções distintas.
Cada um dos
castelares enfrentaria sozinho uma centúria dos maquinários pesados da legião
parafuso. Não hesitaram em seguir as ordens de Dimios, confiaram nele a única
forma de derrotar um número tão grande de robôs assassinos.
Algum tempo
depois, Nerítico foi o primeiro, desarmado e com apenas algumas pílulas
fortalecedoras na mão, engoliu uma boa quantidade delas e jogou uma grande
pedra num grupo de máquinas que patrulhavam. Localizando o intruso,
perseguiram-no aos montes imediatamente, atirando diversas vezes. O
ultraquímico correu o máximo que pode, atravessando diversas ruas e chegando a
um ponto específico, completamente encurralado.
O arthuano
foi o próximo, confiava em seus instintos de Senhor de Castelo que nunca o
enganaram quando estava sob ordens, cumprindo-as com perfeição. Em todos os
anos em que trabalhava com missões, seu grande prazer era fazer a coisa certa.
Ser um herói era seu verdadeiro tesouro. Atravessou algumas pontes, correu
durante um bom tempo e reencontrou as máquinas. Concentrou-se ao máximo,
precisava de calma para fazer aquilo e escreveu magicamente a palavra
“Dizimar”. Dez máquinas foram pelos ares, alertando mais de cem delas. O
multibiólogo virou-se de costa, ajoelhou-se e escreveu nas pernas “Correr”.
Saindo em disparada, fazendo o mesmo mais algumas vezes. O lado sul ficou
repleto de máquinas.
Westem não
correu, saltava vigorosamente de prédio em prédio, chegando ao lado oeste, o
mais distante de todos, mais rápido que os outros aos seus postos. No alto do
edifício, arrancou com as próprias mãos parte do concreto e o atirou ao longe na
direção de um grande grupo de maquinários. Com vários avariados, um robô
sentinela com scanner verde apareceu, varrendo completamente a área. Conseguiu
detectar o bárbaro com poucos segundos de verificação. O galiano parou de jogar
pedras, amarrou a corda mágica onde pode e saltou de bang jump em cima da
sentinela. Daquela altura, seu corpo grande e pesado se tornou uma bala de
canhão que destruiu completamente a máquina. Dezenas de outros se aproximaram,
atacavam sem piedade. Westem puxou a sua corda mágica que encurtou rapidamente,
levando-o de volta ao topo do prédio, deixando aquele robô pisoteado explodir.
A legião parafuso analisou os últimos dados e começaram a demolir o prédio de
baixo para cima. O Senhor de Castelo mudou de prédio e repetiu os ataques,
destruindo qualquer sentinela que aparecesse.
Por último
foi Dimios que usou um encantamento do vento para aumentar sua velocidade. Ele,
que já era rápido e habilidoso, rasgava o ar com eletricidade estática,
carregando negativamente a região. Ao encontrar os maquinários, começou a
investir com vários ataques diferentes. Sônicos, elétricos, mágicos... A Garra
de Sartel estava sendo usada ao máximo, o que atraiu não centenas, mas milhares
de máquinas da legião. Seu escudo de força precisou ser usado, evitando que
fosse atingido pelos numerosos projéteis. Duas máquinas maiores surgiram no
meio do exército de robôs com maças de demolição acopladas as suas ferramentas.
O ziniano conseguiu se desviar da primeira que lhe foi atirada e rapidamente
recolhida por uma poderosa corrente. No entanto a segunda acertou-lhe em cheio,
espremendo-o contra a parede. O escudo de força poupo-lhe a vida, mas o choque
quase lhe ruiu as forças. Caído no chão, a legião se aproximava, só precisando
acertar a mira para esmagá-lo como um verme. Ele gerou uma esfera de força com
a garra, pronunciou um pequeno encantamento e lançou-a para o céu. O plano de
Dimios teve início.
Com o sinal
dado e recebido pelos Senhores de Castelo, eles acionaram todas as granadas ao
mesmo tempo, gerando explosões por toda a Cidade Baixa. Elas não atingiram as
máquinas, pelo contrário, seu alvo eram as frágeis estruturas das centenas de
prédios construídos tão próximos uns dos outros. Como numa sinfonia perfeita,
eles ruíram, devastando milhares de máquinas da legião parafuso que não tinham
como se defender daquela colossal quantidade de toneladas sobre eles. Estava
acabado, num golpe perfeitamente sincronizado, os Senhores de Castelo
destruíram boa parte dos prédios.
– Eu disse
que eles eram loucos! – disse Rigaht, impressionado.
...
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