O Retorno de Nina
O Senhor de
Castelo de Zínio corria pelas ruas da cidade tentando encontrar Ferus.
Nerítico, que estava tão cansado quanto os outros, segurou-o para que parasse
um momento:
– Dimios,
pare! Não adiante agir assim!
– ... –
sério, ele parou, os dois foram alcançados por Westem e Iksio.
– O que
você tem na cabeça? – disse o bárbaro. – Pra correr assim, sem parar?
– Meu caro
parceiro tem razão, devemos agir com prudência e nos preparar para o pior...
O portador
da Garra de Sartel lançou um olhar de ódio sobre os três, fazendo sua arma
soltar fagulhas. Virou-se de costa, contendo-se. Os Senhores de Castelo iam
sugerir algo, mas foram interrompidos por uma voz infantil:
– Senhores
de Castelo são todos iguais, tão temperamentais! – a mocinha de cabelos
dourados amarrados com fitas vermelhas estava rindo deles.
– O que
você quer? – perguntou Dimios, rispidamente.
– Matá-los,
é claro! – Nina apontou para o céu, lançando a zona das sombras que engoliu a
todos em pleno escuro.
Iksio,
pensando rapidamente, escreveu “Iluminar” com a escrita mágica, dando alguma
noção de espaço para os castelares. A criança de vestido vermelho foi tomada
pela escuridão e de sua sombra ascendia uma criatura sombria com os braços
cruzados. Quando ela os abriu, todos os castelares sentiram o pulsar de suas
marus vitais sendo arrancadas de seus corpos.
Nerítico,
que estava mais próximo dela naquele nulo espaço, jogou uma granada
incendiária, de rótulo Nº3. Aquilo iluminou a zona das sombras, aqueceu um
pouco à distância e não surtiu nenhum efeito, só tornava mais claro que a
menina era uma sombra e que sua sombra era um monstro real.
A força do
multibiólogo fraquejava, seu poder mágico falhava. Segurou a mão com a outra
para continuar iluminando o inimigo. Westem tirou sua corda mágica da cintura e
lançou-a sobre a sombra monstro de Nina. Conseguiu segurar e puxou a corda que
ia se esticando a cada segundo. Quando o galiano percebeu, estava mais longe do
que os outros de sua inimiga. Iksio gritou para que ele parasse ou iria ser
ainda mais puxado para a escuridão que os rodeava.
Os olhos da
sombra mudaram de direção, havia algo mais delicioso vindo do ziniano que
estava parado, sem fazer nada. Nina o aproximou de si para lhe drenar melhor as
energias. Dimios não reagiu.
– De todos
aqui... Você é o que tem a alma mais profunda, a mais marcada... Aquele que tem
mais incertezas...
– ... – o
Senhor de Castelo continuava calado. Fechou os olhos e se concentrou.
– Dimios! –
gritaram os castelares.
– QUIETOS!
– gritou o monstro escuro com sua voz retorcida. – Vocês todos não passam de
lixos! Quantos vocês deixaram morrer? Quantos ainda vão sacrificar para manter
a paz?
O ziniano
abriu os olhos:
– De onde
você vem Nina?
– Porque
acha que eu responderia? Eu vou matá-los e ponto final!
– Pois eu
vou dizer quem você é! Você tem relação direta com os Senhores de Castelo, você
os conhece, sabe o que querem e o que farão para agir...
–
Hahahahahaha... – o monstro riu.
– Como foi
que você chegou aqui? Seus poderes foram fortes o suficiente para tirar os
Caçadores Sombrios inversos do Labirinto Virtual que guarda a Espada do
Infinito, um dos maiores artefatos em poder dos Senhores de Castelo... Porque
não sai daqui então? Vá embora, não temos nada haver com o que você quer...
– Estão
enganados! – Dimios cerrou os olhos levemente, Nina havia reagido. – Eu quero o
meu Dantir! Ele será meu! Vocês não iram matá-lo!
– Do que
ela está falando Dimios? – perguntou Nerítico.
–
Realmente... Talvez fossemos matá-lo para que seu poder imenso não caísse nas
mãos da Irmandade... – os castelares estranharam, não sabiam disso.
– Vê? Eu
vou matá-los! – o monstro de sombras abriu as mãos espalmando-as, revelando
duas bocas cheias de dentes.
Dimios
sorriu.
– Você tem
poderes sombrios...
– ...? –
Nina não entendeu para quê ele dissera aquilo.
Com dois
dedos na boca, o ziniano assobiou bem alto. O monstro de sombras encarou aquilo
desconfiado e aproximou todos os Senhores de Castelo de suas mãos. Iksio não
conseguia segurar mais as mãos próprias e deixou a escrita se desfazer no ar. O
escuro tomou conta de tudo novamente. Nerítico, Westem e Iksio fraquejaram
sentindo suas últimas forças sendo levadas.
De repente,
uma esfera de luz atingiu a criatura queimando-a gravemente. Ela gritou:
– Como?! De
onde veio isso?!
– Nada mais
justo do que trazer reforços!
– Ahn? – se
perguntaram os castelares.
– Mostre a
eles... – Dimios deu outro assovio, desta vez num tom mais grave.
Uma
criaturinha rubra voo para dentro da zona das sombras carregando uma esfera
alaranjada e brilhante que trouxe de volta a visibilidade. Era o diabrete
vermelho e ele lançou aquele poder sombrio diretamente sobre Nina em sua forma
de sombra. O efeito do ataque lançou sobre Nina um selamento que a fez perder o
controle sobre a zona de sombras.
O Thagir
vermelho correu em socorro da menina que não conseguia acreditar que novamente
os seus poderes haviam falhado. Dimios estava em pé diante deles:
– Ele não
está conosco... – disse com certo pesar.
–
Afaste-se! – disse o caçador.
– Não... –
a criança arfava. – Repita o que disse!
– Dantir
não está mais conosco...
– Vocês
deixaram os açougueiros o levarem?! – perguntou gritando de raiva.
– Sim...
–
Desgraçado! Vou te matar agora mesmo! – Nina apontou o pequeno dedo na direção
do Senhor de Castelo.
– Sugiro
que se juntem a nós...
– Porque eu
o faria? – ela reteve o dedo.
– Você não
consegue sair daqui e nós também não... Além disso, precisamos resgatar alguns
amigos além do Filho do Fim...
Os Senhores
de Castelo finalmente perceberam o que realmente estavam fazendo naquela
planeta. Reza a lenda que uma criança nasceria do fim do multiverso, depois de
todas as existências serem destruídas o novo ser nasceria e retornaria no tempo
para evitar o próprio nascimento, encarnando em um corpo nascido de maru pura combinada
com maru sombria dos tempos anteriores ao fluxo maru. O paradoxo temporal por
si só já era o suficiente para gerar buracos de quebra dimensional que poderiam
levar ao fim do multiverso uma vez que os fluxos de tempo e espaço se juntassem
as distorções espaciais dos mares boreais. Se os poderes despertos do Filho do Fim encontrassem
os mares boreais, as consequências poderiam ser terríveis. Todo castelar
conhecia essa lenda.
– Dimios, é
verdade? O que está escrito no Templo do Fim dentro do Naveeh, o plano dos
mortos, é tudo verdade? – perguntou Nerítico, se aproximando junto com os
outros.
– Sim... E
todos nos estamos relacionados a ele. Ou salvamos Dantir, ou o multiverso pode
acabar... Estão de acordo?
– Irei
matá-los assim que estiver com meu amado... – respondeu a garota mimada.
– Não faz
mal, precisarei de toda a ajuda que puder encontrar para enfrentar os
altarianos da Irmandade Cósmica que estiverem lá em cima...
– Mas,
mestra... – Rigaht tentou falar com a criança.
– Não se meta
Thagir vermelho... Está certo entre nós... Vocês me dão o meu Dantir e eu lhes
ajudarei com os altarianos.
– Ótimo...
Temos de ir para aquela plataforma... – Dimios apontou para as luzes que
despontavam no horizonte. – Vamos para a Cidade Alta...
Rigaht
colocou Nina nas costas e todos prosseguiram rumo à plataforma acima dos
prédios.
...
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