Ascensão
– Você se
explica depois! – Dimios encarava Ferus com raiva.
– ... – o
jovem armeiro olhava-o com indiferença, não se importava se ele era um Senhor
de Castelo mandando nele, ele era livre agora.
– Abra a
porta!
Sem mais,
Ferus olhava para o mecanismo incomum que possuía seis quadrados sem um único
ponto. “A numeração altariana”, pensou ele. Passando os dedos sobre a placa, os
quadrados se moveram. Tentando encontrar o número máximo moveu os números até
seis pontos. Curiosamente isso abriu o portão da torre.
–
Conseguiu? – perguntou Westem.
– Não...
– Mas
então?
– É uma
contagem regressiva... Segundo os cálculos... 55986 segundos, cerca de quinze
horas...
– Para o
quê?
–
Autodestruição eu acho... – Dimios se posicionou a frente.
– Não temos
tempo a perder. Organize a população lá embaixo para que suba. Nós vamos para a
Cidade Aérea. Assim que estiver tudo certo, todos subirão para as portas do
paraíso. Estamos entendidos?
– ... –
Ferus calou-se novamente. Afastou-se do grupo e montou no monstro de lixo. Os
dois saltaram para a Cidade Baixa.
– Vamos
entrar...
O resultado
era precário, Iksio e Pilares estavam muito fracos para qualquer batalha,
Nerítico estava sem armamento. Os únicos que estavam inteiros eram Westem e
Dimios – que não queria demonstrar que estava mais cansado do que todos. Isso o
preocupava.
– Algum
problema Dimios? – ponderou Nerítico.
– Não.
Apenas estou precisando de um milagre para que nos salve da fúria altariana...
– sua maneira incomum de fazer piadas até conseguiu alegrar os castelares.
– Me diga
uma coisa, caro companheiro. – dizia Iksio. – Como você sabia usar uma magia
dos Caçadores Sombrios? Não me entenda mal, apenas é uma dúvida que me
ocorreu...
– Não é
problema nenhum, arthuano, quem me ensinou aquilo foi meu antigo parceiro,
Cardial. Ele sempre dizia: “É possível confiar nas pessoas, é possível confiar
nos Senhores de Castelo, mas nunca podemos confiar que nenhum deles cometerá
erros”. Não sei onde nem como ele conseguiu a marca do triângulo negro
invertido, ele apenas me passou para que, se houvesse algum problema ocorrendo
com um senhor de castelo sendo dominado por alguma força externa, eu pudesse
livrá-lo dividindo com ele a consciência castelar de fazer o bem e levar a paz
aonde quer que fosse. Creio que seja isso...
–
Interessante... Deveras interessante! – nesse momento o alarme da pilastra da
Cidade Aérea foi ativado e soou muitíssimo alto.
Pelo
caminho, vindos da parte superior, esferas robóticas flutuantes vieram averiguar
a invasão – elas também tinham o símbolo da legião parafuso. Detectando os
intrusos com extrema precisão, lançaram descargas de energia sobre eles. Westem
ficou a frente, levando toda a carga.
– Não
fiquem aí parados, façam alguma coisa! – suplicou o bárbaro cerrando
completamente o rosto de dor.
Iksio
levantou rapidamente o dedo e se concentrou na escrita mágica: “Petrificar”! As
máquinas foram marcadas com o símbolo místico e caíram pesadamente no chão,
afundando-o um pouco. No entanto, nem Westem nem Iksio estavam bem depois
daquilo, caindo no chão, exaustos.
– Eu estou
bem, vou me recuperar logo, ajudem Iksio! – e ele precisava mesmo de ajuda. Sua
pele estava ressecada e arfava sem conseguir respirar.
Dimios
colocou o cilindro de armeiro na frente do corpo e se lembrou de algo. Procurou
pelo pequeno compartimento e conseguiu encontrar o saquinho com olhos de
curumins.
– Isso deve
nos ajudar... – e entregou um para cada um, tomando também um para si.
Westem
também ajudou, tirou da cintura a cumbuca mágica e dividiu a água com todos,
energizando as suas marus. Depois de alguns minutos de descanso, prosseguiram.
Subindo alguns andares de escadas, chegaram às cápsulas de transporte, três no
total, dispostas uma para cada direção ao redor das paredes da pilastra. Havia
aberturas logo acima que davam para fora da coluna descomunal e percorriam
caminhos em espiral para cima. Com as portas abertas, os Senhores de Castelo
entraram, ativando o sistema eletrônico que fez tudo funcionar e começar a
subida após cinco bips com a entrada do último castelar. O espaço interno era
amplo, poderia caber uma centena de pessoas ali dentro.
Pilares,
intrigado com o espaço sofisticado, notou uma escada vertical no canto da
cápsula e resolveu subir por ela.
– Pessoal!
Subam aqui!
– O que foi
agora Pilares? Já arranjou problemas? – reclamou o ultraquímico enquanto subia.
– Nossa!
– Caros
companheiros, não deve ser nada demais... – Iksio foi o terceiro. – Pelas águas
sagradas!
– O que foi
peixinho? – Westem foi o quarto. – Yahoo!
Dimios,
sozinho, se viu obrigado a ir ver também o que tanto os impressionava. Subiu as
escadas e, ao se virar, contemplou um teto de vidro cuja cobertura terminava de
se contrair, permitindo a todos observarem com precisão a face do planeta sem
nome e o quão alta era a Cidade Aérea. No marcador com três quadrados os
números haviam começado em um, dois, dois e ao passarem do primeiro quilômetro
de altitude percorrido, o último quadrado passou para um. E o marcador
continuou diminuindo ao longo da subida, indo para um, um, seis; um, um, cinco;
um, um, quatro; e assim por diante. Nerítico fez uma estimativa e chegou à
seguinte conclusão:
– A Cidade
Aérea está a mais de cinquenta quilômetros de altitude!
...
A visão era
esplêndida como qualquer vislumbre do espaço. Estrelas, planetas e satélites
naturais eram fonte de esperança e alento. Assim como os Senhores de Castelo, a
população mínima do planeta sem nome via pela primeira vez o céu em muito
tempo. A face sufocante da poluição se dissolvia.
– Dinha! –
gritou Ferus, ao ver a senhora passando mal.
– Vou ficar
bem... – a senhora apertou o peito, devia estar tendo uma sincope, mas
resistiu. – Eu estou emocionada filho. Se o meu filho pudesse ver isso, talvez
ele acreditasse que nossa vida iria melhorar e...
Dinha
finalmente desmaiara. Ferus, sem dizer nada, correu para o monstro de lixo:
– Você
consegue encontrar o que eu quero? – a cabeça longa de cavalo pareceu
relinchar. – Ótimo.
– Dinha,
aguente!
...
– O que foi
isso?! – disse o ziniano, sentindo a cápsula de transporte tremer.
– São robôs
da legião! – gritou Pilares.
Do lado de
fora, maquinários mais sofisticados com armaduras brancas e retrofoguetes na
parte inferior atiravam sem piedade. Na tela do transportador uma mensagem em
vermelho piscava.
– E essa
agora?! – falou Nerítico que estava perto. – Temos um problema aqui!
– Não, o
problema está aqui! – gritou o assaltante de volta na parte de cima. – A legião
conseguiu romper um dos cabos!
– Droga! Já
estamos a trinta quilômetros do chão! Se continuar assim iremos despencar!
– Não, não,
não... Isso não vai acontecer! – disse Dimios, decidido. – Todos a postos! – a
cápsula tremeu.
– Mais um
cabo de sustentação se rompeu! – Pilares olhava para aquilo muito
preocupado. Droga! Eles estão lá fora!
Alguém consegue abrir a porta?!
– Negativo!
– respondeu Nerítico. – A porta está travada!
– O que
fazer? O que fazer? – o cilindro de armeiro começou a fazer um chiado. – O que
é isso?
O ziniano
apertou um botão que estava piscando.
– Dimios? –
o chiado era alto, mal dava para escutar. – Sou eu, Ferus! Algum problema. –
Sem entender como era possível, ele respondeu.
– Estamos
sendo atacados pela Legião Parafuso aqui em cima! Vamos cair se algo não for
feito! – mais um tremor.
– Roger! Coloque
o cilindro no painel principal e mire na direção das máquinas! Gire o anel
superior até ouvir três cliques. Deve ser o suficiente.
–
Entendido... – o ziniano tentava se equilibrar e chegou ao painel da parte de
cima. Automaticamente o cilindro se instalou ao ser virado do lado certo
estendendo finos cabos que penetraram dentro da fiação. Dimios girou o anel do
cilindro. – Um... Dois... Opa... Eu... Preciso... Três!
– Se
abaixe! – gritou Ferus pelo rádio.
Do
cilindro, um pulso eletromagnético foi lançado, percorrendo a estrutura da
cápsula de transporte e atingindo os maquinários da legião que tiveram os
circuitos queimados e pararam de funcionar, caindo para o solo.
– Essa foi
por pouco! – disse Pilares.
Em seguida, o transportador parou
de funcionar, desligando todas as luzes.
– E agora? O que foi?!
O rádio do
cilindro ainda funcionava e Ferus falou:
– A energia
do transporte foi usada para desativar os robôs. Vocês ficarão a salvo, mas não
sairão do lugar. – o rádio parou de funcionar, ouvindo-se apenas chiados,
desligando após alguns segundos.
Pilares
ficou observando os cabos:
– Não, não,
não... – mais um dos cabos se rompeu. – NÃO!
A cápsula
começou a pender, só restava apenas mais um...
...
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