quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 43


Ascensão

 

            – Você se explica depois! – Dimios encarava Ferus com raiva.
            – ... – o jovem armeiro olhava-o com indiferença, não se importava se ele era um Senhor de Castelo mandando nele, ele era livre agora.
            – Abra a porta!
            Sem mais, Ferus olhava para o mecanismo incomum que possuía seis quadrados sem um único ponto. “A numeração altariana”, pensou ele. Passando os dedos sobre a placa, os quadrados se moveram. Tentando encontrar o número máximo moveu os números até seis pontos. Curiosamente isso abriu o portão da torre.
            – Conseguiu? – perguntou Westem.
            – Não...
            – Mas então?
            – É uma contagem regressiva... Segundo os cálculos... 55986 segundos, cerca de quinze horas...
            – Para o quê?
            – Autodestruição eu acho... – Dimios se posicionou a frente.

            – Não temos tempo a perder. Organize a população lá embaixo para que suba. Nós vamos para a Cidade Aérea. Assim que estiver tudo certo, todos subirão para as portas do paraíso. Estamos entendidos?
            – ... – Ferus calou-se novamente. Afastou-se do grupo e montou no monstro de lixo. Os dois saltaram para a Cidade Baixa.
            – Vamos entrar...
            O resultado era precário, Iksio e Pilares estavam muito fracos para qualquer batalha, Nerítico estava sem armamento. Os únicos que estavam inteiros eram Westem e Dimios – que não queria demonstrar que estava mais cansado do que todos. Isso o preocupava.
            – Algum problema Dimios? – ponderou Nerítico.
            – Não. Apenas estou precisando de um milagre para que nos salve da fúria altariana... – sua maneira incomum de fazer piadas até conseguiu alegrar os castelares.
            – Me diga uma coisa, caro companheiro. – dizia Iksio. – Como você sabia usar uma magia dos Caçadores Sombrios? Não me entenda mal, apenas é uma dúvida que me ocorreu...
            – Não é problema nenhum, arthuano, quem me ensinou aquilo foi meu antigo parceiro, Cardial. Ele sempre dizia: “É possível confiar nas pessoas, é possível confiar nos Senhores de Castelo, mas nunca podemos confiar que nenhum deles cometerá erros”. Não sei onde nem como ele conseguiu a marca do triângulo negro invertido, ele apenas me passou para que, se houvesse algum problema ocorrendo com um senhor de castelo sendo dominado por alguma força externa, eu pudesse livrá-lo dividindo com ele a consciência castelar de fazer o bem e levar a paz aonde quer que fosse. Creio que seja isso...
            – Interessante... Deveras interessante! – nesse momento o alarme da pilastra da Cidade Aérea foi ativado e soou muitíssimo alto.
            Pelo caminho, vindos da parte superior, esferas robóticas flutuantes vieram averiguar a invasão – elas também tinham o símbolo da legião parafuso. Detectando os intrusos com extrema precisão, lançaram descargas de energia sobre eles. Westem ficou a frente, levando toda a carga.
            – Não fiquem aí parados, façam alguma coisa! – suplicou o bárbaro cerrando completamente o rosto de dor.
            Iksio levantou rapidamente o dedo e se concentrou na escrita mágica: “Petrificar”! As máquinas foram marcadas com o símbolo místico e caíram pesadamente no chão, afundando-o um pouco. No entanto, nem Westem nem Iksio estavam bem depois daquilo, caindo no chão, exaustos.
            – Eu estou bem, vou me recuperar logo, ajudem Iksio! – e ele precisava mesmo de ajuda. Sua pele estava ressecada e arfava sem conseguir respirar.
            Dimios colocou o cilindro de armeiro na frente do corpo e se lembrou de algo. Procurou pelo pequeno compartimento e conseguiu encontrar o saquinho com olhos de curumins.
            – Isso deve nos ajudar... – e entregou um para cada um, tomando também um para si.
            Westem também ajudou, tirou da cintura a cumbuca mágica e dividiu a água com todos, energizando as suas marus. Depois de alguns minutos de descanso, prosseguiram. Subindo alguns andares de escadas, chegaram às cápsulas de transporte, três no total, dispostas uma para cada direção ao redor das paredes da pilastra. Havia aberturas logo acima que davam para fora da coluna descomunal e percorriam caminhos em espiral para cima. Com as portas abertas, os Senhores de Castelo entraram, ativando o sistema eletrônico que fez tudo funcionar e começar a subida após cinco bips com a entrada do último castelar. O espaço interno era amplo, poderia caber uma centena de pessoas ali dentro.
            Pilares, intrigado com o espaço sofisticado, notou uma escada vertical no canto da cápsula e resolveu subir por ela.
            – Pessoal! Subam aqui!
            – O que foi agora Pilares? Já arranjou problemas? – reclamou o ultraquímico enquanto subia. – Nossa!
            – Caros companheiros, não deve ser nada demais... – Iksio foi o terceiro. – Pelas águas sagradas!
            – O que foi peixinho? – Westem foi o quarto. – Yahoo!
            Dimios, sozinho, se viu obrigado a ir ver também o que tanto os impressionava. Subiu as escadas e, ao se virar, contemplou um teto de vidro cuja cobertura terminava de se contrair, permitindo a todos observarem com precisão a face do planeta sem nome e o quão alta era a Cidade Aérea. No marcador com três quadrados os números haviam começado em um, dois, dois e ao passarem do primeiro quilômetro de altitude percorrido, o último quadrado passou para um. E o marcador continuou diminuindo ao longo da subida, indo para um, um, seis; um, um, cinco; um, um, quatro; e assim por diante. Nerítico fez uma estimativa e chegou à seguinte conclusão:
            – A Cidade Aérea está a mais de cinquenta quilômetros de altitude!

...

            A visão era esplêndida como qualquer vislumbre do espaço. Estrelas, planetas e satélites naturais eram fonte de esperança e alento. Assim como os Senhores de Castelo, a população mínima do planeta sem nome via pela primeira vez o céu em muito tempo. A face sufocante da poluição se dissolvia.
            – Dinha! – gritou Ferus, ao ver a senhora passando mal.
            – Vou ficar bem... – a senhora apertou o peito, devia estar tendo uma sincope, mas resistiu. – Eu estou emocionada filho. Se o meu filho pudesse ver isso, talvez ele acreditasse que nossa vida iria melhorar e...
            Dinha finalmente desmaiara. Ferus, sem dizer nada, correu para o monstro de lixo:
            – Você consegue encontrar o que eu quero? – a cabeça longa de cavalo pareceu relinchar. – Ótimo.
            – Dinha, aguente!

...

            – O que foi isso?! – disse o ziniano, sentindo a cápsula de transporte tremer.
            – São robôs da legião! – gritou Pilares.
            Do lado de fora, maquinários mais sofisticados com armaduras brancas e retrofoguetes na parte inferior atiravam sem piedade. Na tela do transportador uma mensagem em vermelho piscava.
            – E essa agora?! – falou Nerítico que estava perto. – Temos um problema aqui!
            – Não, o problema está aqui! – gritou o assaltante de volta na parte de cima. – A legião conseguiu romper um dos cabos!
            – Droga! Já estamos a trinta quilômetros do chão! Se continuar assim iremos despencar!
            – Não, não, não... Isso não vai acontecer! – disse Dimios, decidido. – Todos a postos! – a cápsula tremeu.
            – Mais um cabo de sustentação se rompeu! – Pilares olhava para aquilo muito preocupado.  Droga! Eles estão lá fora! Alguém consegue abrir a porta?!
            – Negativo! – respondeu Nerítico. – A porta está travada!
            – O que fazer? O que fazer? – o cilindro de armeiro começou a fazer um chiado. – O que é isso?
            O ziniano apertou um botão que estava piscando.
            – Dimios? – o chiado era alto, mal dava para escutar. – Sou eu, Ferus! Algum problema. – Sem entender como era possível, ele respondeu.
            – Estamos sendo atacados pela Legião Parafuso aqui em cima! Vamos cair se algo não for feito! – mais um tremor.
            – Roger! Coloque o cilindro no painel principal e mire na direção das máquinas! Gire o anel superior até ouvir três cliques. Deve ser o suficiente.
            – Entendido... – o ziniano tentava se equilibrar e chegou ao painel da parte de cima. Automaticamente o cilindro se instalou ao ser virado do lado certo estendendo finos cabos que penetraram dentro da fiação. Dimios girou o anel do cilindro. – Um... Dois... Opa... Eu... Preciso... Três!
            – Se abaixe! – gritou Ferus pelo rádio.
            Do cilindro, um pulso eletromagnético foi lançado, percorrendo a estrutura da cápsula de transporte e atingindo os maquinários da legião que tiveram os circuitos queimados e pararam de funcionar, caindo para o solo.
            – Essa foi por pouco! – disse Pilares.
Em seguida, o transportador parou de funcionar, desligando todas as luzes.
– E agora? O que foi?!
            O rádio do cilindro ainda funcionava e Ferus falou:
            – A energia do transporte foi usada para desativar os robôs. Vocês ficarão a salvo, mas não sairão do lugar. – o rádio parou de funcionar, ouvindo-se apenas chiados, desligando após alguns segundos.
            Pilares ficou observando os cabos:
            – Não, não, não... – mais um dos cabos se rompeu. – NÃO!
            A cápsula começou a pender, só restava apenas mais um...

...

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