Tabuleiro Cósmico
As regras
para esse jogo diabólico são simples: Um jogo quatro contra quatro. Há um
contador com a numeração 7776 para cada lado. A cada rodada um jogador deve
rolar cinco dados vermelhos e multiplicar o resultado entre si e diminuir o
contador do adversário até zero em no máximo vinte rodadas. Enquanto isso,
pesadelos terríveis irão atormentar a mente daquele que jogar os dados. Há
somente uma forma de ganhar o jogo sem sofrer maiores danos: com a morte
súbita, onde os cinco dados dão seis em cada. Para tornar a proporção 1/7776
mais fácil de ser alcançada, é possível travar os dado que caiam no número seis
entregando parte de sua alma, abrindo mão de algo muito importante de sua
existência. Quanto mais dados forem travados de uma só vez, maior será o
pedaço. Não há retorno, uma vez iniciada a partida o campo das portas do paraíso
são travadas em um vácuo aleatório e desconhecido do multiverso. A única forma
de acabar o jogo é com um lado vencedor. Em caso de empate, ambos os lados de
jogadores terão suas almas arrancadas de seus corpos. O lado branco começa
primeiro.
...
– Minha
vez... – a Cavaleira Bathory era a primeira a lançar os dados. – Um, dois,
três, cinco e seis! – parte da gosma negra que formava o seu corpo pingou da
palma da mão que pegara nos dados vermelhos. – 180 pontos.
O numerador
dos Senhores de Castelo diminuiu de 7776 para 7596.
– Sou eu
agora... – o Rei Mengele jogou os dados. Hesitou por um instante, fechando os
olhos e sorrindo em seguida, ao jogá-los. – Um, um, cinco, cinco, cinco... 125
pontos.
O numerador
dos Senhores de Castelo diminuiu de 7596 para 7471. Herta olhou para Rubber com
olhar soberano que o assustou um pouco.
– Vá
Rubber...
– Sim,
minha Rainha... – sua mão tremeu absurdamente e conseguiu jogar. – Dois, cinco,
cinco, seis, seis... 1800 pontos.
O numerador
dos Senhores de Castelo diminuiu de 7471 para 5671. Herta levantou a cabeça um
pouco. Para os que estão acostumados a sua maneira sádica de ser, significava
que estava satisfeita.
– Hun... –
Herta pegou os dados, uma lágrima escura escorreu de seus lindos olhos
coloridos e jogou. – Cinco, cinco, cinco, seis, seis... 4500 pontos.
O contador
dos Senhores de Castelo diminuiu de 5671 para 1171. O jogo estava apertado, se
mais alguma numeração alta saísse os Senhores de Castelo perderiam o jogo e
tudo estaria acabado, a Luz Cósmica estava cada vez mais perto do planeta sem
nome e o consumiria. A esperança dada ao restante ínfimo da população teria
sido em vão.
Dimios, um
pouco melhor da garganta, falou:
– Não
importa como, nós iremos ganhar desta vez! – Herta levantou a cabeça para trás
e cerrou os olhos. – Westem, trave os dados...
– Sim... –
o bárbaro se aproximou dos dados vermelhos que estavam no chão e se sentiu meio
tonto. Pegou os e, mesmo sentindo uma vontade inconcebível de vomitar as tripas
pela boca. Atirou os dados... – Três, três, três, seis, seis... – dois dados
com o número seis apareceram. Com a ordem para travá-los dada, os dois dados
ficariam com aquela numeração e não poderiam mais ser usados pelos Senhores de
Castelo. Todavia, o contador contou os números. – 972 pontos.
O numerador
dos altarianos diminuiu de 7776 para 6804. Com o término da contagem, o
pesadelo de Westem começou. O homem alto, forte e musculoso sentia o seu corpo
saudável se tornando raquítico, diminuto e incapaz de ficar em pé. Ele caiu no
chão sentindo a idade pesar como um ser com baixa estimativa de vida. Alguns de
seus ossos se quebraram.
– Westem! –
gritou Dimios, atônito com o resultado.
– Não se
preocupe com ele, nós precisamos vencer! – disse Iksio.
– Eu não
posso! Veja o que pode acontecer com você!
– Não me
importo, caro amigo. Eu estou aqui para salvar aquelas pessoas lá embaixo. Dê a
ordem...
– Iksio,
trave os dados... – o guerreiro não queria olhar.
– Que a paz
esteja convosco, meu amigo... – Iksio pegou os dados restantes. Sua pele úmida
se tornava seca e queimava, chegando a pegar fogo. Jogou os dados. – Cinco,
cinco, seis... – um dos dados felizmente deu seis, a probabilidade ficava
difícil com a quantidade menor. – 150 pontos.
O numerador
altariano diminuiu de 6804 pontos para 6654. Da mesma forma que com o bárbaro,
Iksio sentia seu maior pesadelo se tornar realidade. O arthuano culto, refinado
e bem educado deu lugar a uma enorme besta selvagem cheia de dentes que rosnava
e sacudia os braços loucamente. Ele correu pelo espaço branco e se perdeu no
espaço infinito. Apenas dois dados restavam para os Senhores de Castelo. Dimios
sentia seu coração apertar.
O
assaltante se aproximou dos dados restantes:
– Pilares,
não... – o teslarniano sorriu.
– Eu sou um
homem de sorte! Eu conheci meu parceiro, vivi grandes aventuras e agora
enfrento o meu dia de bravura com coragem, sendo quem eu realmente sou, e não
como um homem santo de Teslar. Por favor, dê a ordem...
– ... –
Dimios engoliu a seco. – Pilares, trave o dado...
O
assaltante pegou os dois últimos dados, era como se um milhão de facas
perfurasse a sua pele e rasgasse a carne procurando encontrar o resto do corpo.
Sua mão sangrou pela unhas e finalmente lançou os dados.
– Três e
seis! Isso! 18 pontos... – o numerador altariano diminuiu de 6654 para 6636. –
Argh!
O coração
de Pilares bateu estranho, levitou no ar e os olhos ficaram completamente
brancos. Caiu no chão e ficou inerte. Para um aventureiro como ele, o pior
seria nunca mais poder aproveitar a vida, perdendo completamente os cinco
sentidos.
– Vocês são
bons. – concluiu Herta. – Nunca vi um Senhor de Castelo chegar tão longe no
nosso próprio jogo. Como recompensa, vou dar ao manipulador um presente. – seus
olhos se encheram de luminosidade e apontou o dedo para Dimios.
– O que
você quer comigo?
– Você
também tem que dar um pedaço de você para este jogo. – da ponta do dedo uma luz
brilhou.
–
Aaaaahhhhh!!!
A Garra de
Sartel foi destroçada aos olhos de todos.
– Dimios! –
gritou Nerítico.
– Eu não
aguento mais... Eu não quero continuar...
– Isso é um
truque para que ela ganhe! Vamos, dê a ordem, eu juro que consigo um seis!
– Um para
seis! Como você vai conseguir? Este último dado estará repleto de ódio e
maldade, você nem conseguirá tirá-lo do chão!
– Eu sou um
Senhor de Castelo, eu vou conseguir! Dimios dê a ordem!
– ... – o
guerreiro cerrava os olhos. Lembrou-se do seu filho adotivo, da época em que
ainda tinha família, da época em que se tornara um pugilista. – Está certo, eu
tenho que tentar. Pelo futuro, pelo futuro de todos que confiam no nosso
sucesso! – o ultraquímico afirmou com a cabeça. – Nerítico, trave o dado...
– Eu já
amei e já perdi quem amei, já posso morrer em paz... – o dado parecia ácido em
suas mãos que mesmo usando luvas, queimava profundamente. A borracha e os dedos
se derretiam. – Pelo amor... Pela paz... Pelo futuro... – com um toco de mão
restando conseguiu jogar o dado. – EU SOU UM SENHOR DE CASTELO!
O dado voou
longe, não dava para ver o resultado e esperaram para ver no contador a
quantidade que daria. Os números começaram a baixar e cada um foi contando:
– Um...
– Dois...
– Três...
– Quatro...
– Cinco... – todos ficaram
quietos...
–
SEIS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Morte súbita!!!!!!!!!!!!!!!!!!
– Adeus Dimios...
– Nerítico! – o ultraquímico caiu
no chão, colocou a ponta dos braços na cabeça e balançou. Seu olhar estava
vazio, não havia mais cálculos, indagações, nem uma simples lembrança lhe
ocorrendo. Os pensamentos acabaram, sua capacidade de pensar fora roubada.
– Hun... – a face de Herta se
contorceu em raiva. – Parabéns, vocês ganharam o direito de sair... Vamos levar
nosso prêmio...
– Não! Elians!
– Dimios!
– Você não vai levá-lo...
– Ahn? Quem é você?
– Mais um? O jogo não pode ser
invadido!
– O jogo já terminou altariana...
– com um toque, o novo individuo fez com que Herta, Mengele e Bathory
explodissem.
– Não! Eu não! Não vou perder o
meu corpo de novo! – uma parede se ergueu entre os dois, com um rosto medonho
que foi destruído no lugar de Rubber. Ele conseguiu escapar ao ser engolido
pela estrutura e desapareceu, levando consigo o corpo de Vaik. A jaula escura
que prendia Elians se desfez.
– Irmão! Não! Irmão, volta!
Volta! Não me deixa! Me leva com você! – o pobre menino arranhava a estrutura
branca em desespero.
– Acalme-se príncipe Dantir, ele
não é seu irmão...
– Não! Ela é meu irmão! Meu
irmão! Ele é meu irmão... – Elians desmaiou.
– Seu... Seu idiota! – mesmo com
um braço bom, Dimios desferiu um soco que acertou o intruso em cheio no
estômago.
– Caçadores Sombrios estão do
mesmo lado que os Senhores de Castelo! – Dimios via um homem alto, com roupa
escura e uma máscara lisa e dourada cobrindo todo o rosto com uma tatuagem
fantasma no torso.
– Cale a boca! Eu sei que é você
Cardial!
...
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