segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 47


O Caso Ferus

 

            Assim que foi permitido, Dimios passaria alguns dias em Zínio enquanto a Ilha de Ev’ve tratava da população salva. Ele estava ansioso para rever Lacroh, seu filho adotivo. Chegando ao seu castelo, uma surpresa, estava tudo destruído. Preocupado, procurou pelo filho nos escombros. Não havia ninguém ali. Lembrou-se de que o filho tinha alguns esconderijos nas redondezas, uma área de mata verdejante e muito fechada, cheia de animais grandes e ferozes. Permeou o lugar por umas duas horas, chamando pelo filho:
            – Lacroh! – e repetia. – Lacroh! Lacroh! Lacroh!
            – Pai? – o menino ouviu o chamado. – Pai! Estamos aqui!
            – Pelos deuses! – eles se abraçaram no reencontro, tal qual o rei Thagir de Curanaã ao reencontrar o filho mais novo. – O que aconteceu com o meu castelo?
            – Uns caras maus apareceram... Eu e a babá nos escondemos aqui... Pai, eu previ com perfeição a chegadas deles!
            – Esse é o meu garoto! – e ergueu o menino no ar com os dois braços.
            – Onde arranjou o braço novo, pai? – ele tateava, sentindo a temperatura natural.
            – Um amigo o devolveu pra mim... – as lembranças dos acontecimentos de sua última missão deixaram-no nostálgico. – Onde está a babá?
            – Vou chamar ela... – o garoto riu enquanto tateava os troncos das árvores. – Ela não gosta daqui...
            Dimios adorava ver aquilo. Lacroh tem uma habilidade muito especial, consegue prever o futuro com seus olhos corais. Apesar disso, o garoto não consegue enxergar direito a realidade e muitas vezes precisa da ajuda dos outros sentidos para encontrar as coisas ao redor, olhando para o vazio.
            – Ai! – disse o menino que rapidamente chupou o dedo.
            – Tudo bem? – perguntou o pai.
            – Tudo... Foi só um espinho que me espetou... – o garoto continuava corajosamente pelos troncos, sem medo algum. – Babá?! Meu pai voltou!
            – Ahn? – a moça estava dormindo por causa do cansaço da fuga. – Nossa! Ainda bem. Pelos deuses!
            – Você está bem Niely? – perguntou o castelar.
            – Estou seu Dimios. O menino nos tirou de casa com antecedência. Bem que o senhor disse pra mim que eu deveria levar as previsões dele a sério. Fiquei toda machucada ontem. Lacroh corria por entre as raízes da floresta como um foguete. – um zumbido de inseto soou. – Ai! São eles de novo!
            Pai e filho se entreolharam a sua maneira, e se divertiram, rindo da pobre babá.
            – Pai?
            – Sim, Lacroh?
            – Nós vamos para a Ilha de Ev’ve?
            – Não dá pra esconder nada de você! – Dimios sorriu.
            – Oba! – Lacroh abraçou o pai com força. – Sempre quis conhecer o lar dos Senhores de Castelo!

...

            Passado o tempo necessário a viagem de volta a ilha, Dimios se apresentou ao conselho.
            – O que consta no relatório confere, castelar Dimios?
            – Sim, daimio... Desejo que o Guerrin Ferus Envolk seja condecorado como Senhor de Castelo oficial, sem ele possivelmente a missão teria sido um fracasso.
            – De fato, o mnemônico é incapaz de distinguir o passado do presente. Esta raça extremamente rara nasce em poucos lugares do multiverso e coleciona memórias de vidas passadas, por vezes desconhecendo a atual. Sendo que algumas delas já haviam sido Senhores de Castelo, acredito ser plausível o requerimento.
            – Obrigado, daimio... – o ziniano ia se retirar.
            – Castelar Dimios?! – o daimio chamou lhe a atenção. – O processo ainda não acabou...
            – Me desculpe, regente supremo, prossiga.
            – No relatório consta que no pergaminho mágico que lhe foi entregue a premissa de que o Filho do Fim deveria ser morto estava escrito?
            – Sim, algum problema? Pensei que a decisão fosse justa, tendo em vista o poder do garoto...
            – Por Nopporn! Nunca lhe seria pedido que tirasse a vida de alguém! Muito menos de uma criança! – a voz era enérgica sem ficar exaltada.
            – Mas então?
            – O pergaminho que lhe foi entregue foi manipulado... – Dimios ficou pensativo e constatou os fatos.
            – Concordo com vossa opinião, excelentíssimo.
            – É de conhecimento geral que alguém também alterou as transmissões do restrito Informe do Multiverso e nos enviou imagens do planeta sem nome recentemente. A profecia do Templo do Fim anuncia que tempo difíceis virão e que mesmo os mais honrados sofrerão as consequências... Sem mais, pode-se retirar.
            – Desculpe-me daimio, há só mais uma coisa que eu gostaria que fosse colocado nos autos.
            – Prossiga...
            – Lacroh! – o garoto de pele morena e cabelos claros se aproximou. – Este é meu filho...
            – Cuidar dele te impede de cumprir missões? – o regente supremo já tinha conhecimento da situação do castelar.
            – Não senhor...
            – Então não precisa se preocupar com nada. Cuide de seu filho como deve ser, apenas isso.
            – Obrigado daimio... – e os dois se retiraram.
            – Agora eu não preciso me esconder, pai?
            – Não, Lacroh... – o ziniano colocou o garoto nas costas.
            – Eba! – Dimios sorriu.
            – Há só mais uma coisa que eu preciso fazer...
            – Vamos visitar o tio Cardial?! – o guerreiro riu com o entusiasmo do filho.
            – Você não tem jeito!
...

            Quarto quadrante, planeta Geonova, status da Aliança do Multiverso - neutro; Dimios viajou diretamente para lá. Ele e o filho conheceram o porto dos mares boreais, a incrível cultura daquele lugar que mescla magia e tecnologias avançadas, viram um pouco das incríveis criaturas incomuns que só existem ali e, pegando uma nave espacial, partiu para uma das quatro luas daquele planeta, onde fica a estação espacial e quartel-general dos Caçadores Sombrios. O prédio é uma gigantesca pirâmide recoberta por vidros escuros, rodeado por quatro torres com as bandeiras de Geonova, da Ordem dos Senhores de Castelo, dos Caçadores Sombrios e o símbolo do rei daquele planeta, a estrela vermelha.
            Na recepção, a autômata Elatra recebeu o castelar e seu filho. Algum tempo depois, saindo de um elevador, o Caçador Mascarado que trazia consigo um diabrete vermelho no ombro levou os dois para o andar do Mestre Caçador. Ele olhava pelos vidros filmados que impedem a radiação do espaço de penetrar o interior da construção, mas que permite ver muito bem as estrelas. Ele vestia sua capa preta com detalhes em vermelho:
            – Em que posso ajudá-lo?
            – Vou direto ao assunto... Porque Cardial está vivo? Eu juro que o vi morrer e agora ele está aqui, como um Caçador Sombrio!
            – Hun... Por que o interesse?
            – Tio Cardial prometeu cuidar de mim!
            – Lacroh! – o mestre caçador mostrou empatia, sorrindo.
            – E quem é você pequeno? – o garoto se escondeu atrás do pai.
            – Eu sou Lacroh...
            – Você é filho dele?
            – Eu sou! – o menino acabou gritando com a empolgação.
            – Bem, Senhor de Castelo Dimios. – o mestre caçador ponderou. – O Caçador Mascarado não é Cardial...
            – Mas como? Eu o conheço perfeitamente bem, tenho certeza que é ele!
            – Veja bem, é o mesmo corpo, sim. Por sua preciosidade, ele foi recuperado pelo manejo genético do Doutor Tóxico. Seu rosto foi muito avariado e permanece sob a máscara para proteção dos órgãos internos... Sua memória não é a mesma, ele age instintivamente, auxiliado pelos controles instalados em seu cérebro... Como posso explicar... Ele não é Cardial, apenas alguém com as características dele...
            – Isso não está certo...
            – Veja bem, ele vai viver uma vida normal e atenderemos as suas necessidades...
            Saindo de perto do pai, Lacroh ficou animado e correu para abraçar o tio.
            – Lacroh, o que foi?
– O garoto é muito promissor, não acha?
– Por quê?
– Ele já sabe o que eu vou dizer...
– Pai! O tio Cardial vem com a gente!
– Como? – Dimios olhou para o mestre caçador.
– Seu filho deveria ser um Caçador Sombrio, seus poderes podem ser muito bem aproveitados aqui...
– Ainda não entendi...
– Se Cardial prometeu te ajudar... Acho que o Caçador Mascarado pode substituí-lo...
– ...!
...

            Mesmo depois de muita turbulência, mesmo depois da mais terrível das tempestades, coisas boas podem acontecer...
...

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