terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 48


Passado, Presente, Futuro

 
            “Onde estou?”, se perguntou ele. O lugar parecia um laboratório, cheio de máquinas, ferramentas, anotações por todos os lados, preparados fumegantes, entre outros. Diante dele um espelho, onde podia ver o seu rosto perfeitamente. Alguém com uma máscara branca cobrindo a boca adentra a sala, não diz nada, usa alguns bisturis para cortar a pele dele e agulhas que coloca em seringas repletas dos mais diversos líquidos que são injetados diretamente em sua carne. Ele quer criar, chorar, ao menos perguntar o que acontecia. Não conseguia. Ele olhava para aquele homem indiferente ao seu sofrimento e então ele tira a máscara... Para a surpresa dele, seus rostos eram iguais! Ele tinha certeza, via o mesmo rosto sem emoções no espelho diante dele.

            Ele se indagava: “Por quê? Não somos iguais? Será que somos irmãos? Por quê?! Me responda!” As palavras morriam em seus pensamentos, elas não eram proferidas, não importasse a força com a qual ele queria gritar. O homem saiu e o deixou sozinho com a dor lhe incomodando. Vomitou, teve febre, era incapaz de fazer qualquer coisa. E isso se repetiu por vários dias. Em seu coração a indignação crescia, o rancor lhe consumia, o ódio tomava lhe a alma. Nos pensamentos secretos arquitetava uma forma de sair. Decorou cada canto do laboratório, cada ferramenta, cada líquido, cada nova anotação. Ele não conseguia se mexer, mas estava vivo e crente de que uma hora ele se livraria das amarras que o prendiam àquela cama.
            Um dia, aquele homem com o mesmo rosto que ele entrou no mesmo laboratório, na mesma hora, da mesma forma costumeira. Se assustou com o que via, a cama estava vazia! Procurou por todos os lados, sua cobaia não poderia ter ido longe, a porta era sempre trancada! De repente, uma música soou, uma doce melodia de uma caixa de música tocava em algum lugar do laboratório. O cientista olhou para cima e ele caiu sobre ele, sua cobaia estava no teto lhe esperando com os mesmo bisturis que usava para cortá-lo. Ele gritava desesperadamente, implorava por perdão:
            – Você não quis ouvir os gritos surdos da minha dor, agora é sua vez de pagar!
            Terminado o trabalho vermelho, vestiu as roupas extras do cientista e saiu do laboratório. Estava ansioso para saber o que havia do lado de fora, viver a vida daquele cientista em seu lugar, afinal, eles tinham o mesmo rosto.
            Antes que pudesse abrir a porta, alguém bateu nela. Correu para pegar os documentos do morto, respirou fundo e abriu a porta:
            – Vamos, não temos tempo a perder!
            – Você! – ele reconheceu, não sabia como, aquele que estava diante dele.
            – E esperava quem? Nossos planos são muito complicados para explicar agora... Vamos? O planeta irá explodir em algumas horas e...
            – Você sabe quem eu sou? – ele tentava se lembrar, mas não conseguia.
            – Sim, eu sei e logo você também saberá! – o estranho lhe sorriu.   – Você não precisará ser aquele homem intragável. Tome, isso lhe pertence...
            Em suas mãos ele tinha um cubo metálico com alguns orifícios.
            – Obrigado...

...
– O pó das estrelas é algo maravilhoso! Se você soubesse o quanto de poder essa ínfima poeira pode conter. Talvez um dia você entenda o quanto vasto é o multiverso!
Aquela consciência pairava no espaço, dançando no fluxo de maru eterna que existe desde a formação do multiverso. Num determinado momento a poeira sentiu que algo novo lhe acontecia, como se algo que lhe faltasse finalmente a tivesse encontrado. Houve um reboliço e a poeira tomou forma, agora ela parecia um ser humano, apesar de ainda não conseguir se manter coesa. Suas forças aumentaram com o passar do tempo e se sentiu forte o bastante para sair dali e atravessar o multiverso para chegar ao lugar que ansiava chegar. Naquele lugar uma música tocava, uma música que ressoava em todas as direções através da maru, chamando-o.
Quando chegou, encarou uma enorme pirâmide negra, com pilares laterais que seguravam bandeiras. Estava em uma de quatro luas de um planeta muito bonito. Ele conhecia aquele lugar, já esteve ali e conhecia muito daquela cultura rica e diversificada:
– Quarto quadrante... – veio lhe na memória. – Como eu sei disso? Eu consigo falar?
Aterrissou a entrada daquela grande construção e ela se abriu, como se esperasse a sua chegada. Adentrou aquele lugar seguindo a música, não havia ninguém ali e continuou o caminho. Entrou nas portas ao fundo e o cubículo se mexeu, estava subindo. Na parte de cima, havia alguém:
– Como foi a viagem? – lhe perguntou aquela pessoa com um capuz negro que cobria o rosto.
Ele se lembrou de alguma coisa, sabia do que o desconhecia falava.
– Então... Você era ele?
– Sim, era... – ele sorriu. – Quero dizer, um dia serei!
– É você! Seu olhar, eu conheço o seu olhar! – sua cabeça de poeira pendeu um pouco. – Ai, minha cabeça!
– Você vai se acostumar, os poderes novos são difíceis de controlar. Mas vejo que já consegue tomar forma.
– É tudo tão confuso... Porque tudo aquilo aconteceu comigo? Eu não queria que aquilo acontecesse...
– Aquilo, meu amigo, foi só o começo, o seu começo! O que fizemos e o que havemos de fazer não está escrito! – ele então tirou o capuz negro. – Tome, isso é seu, já fiquei aqui por tempo demais, preciso cuidar da minha parte...
– O que eu faço?
– Você saberá. Todos aqui sabem quem você é, quem você foi e para onde você irá, eles nos apóiam incondicionalmente...
– Tudo bem eu só conseguir me lembrar do que aconteceu lá? Sinto que ainda falta vários pedaços...
– Mestre caçador, não se aflija! Conto com você para tornar a minha libertação possível. Agora tenho que ir, preciso ir vê-lo, antes que ele acorde...
– Até mais... – o ser diante dele sumiu no espaço.
O Mestre Caçador flutuava no ar, ainda não conseguia ficar denso o suficiente para descer ao chão e ficou pairando ali, perdido em pensamentos. A música voltou a soar e ele olhou para a mesa que havia no local. Lá estava ela, a caixinha de música...

...
            – Você veio... – disse um homem alto e forte que entrava naquele quarto de criança.
            – Não quis incomodá-lo. Vim direto para cá...
            – Não é incomodo nenhum, você protege ele muito bem... – a criança que dormia se revirou na cama. – Diga-me, porque ele não pode ter ver?
            – Eu não o conheço ainda... Aliás, ainda vou te conhecer... – o homem ficou um pouco confuso. – Eu ainda não te conheço, mas sei que vou conhecer em breve. O meu tempo é diferente do seu...
            – Que seja... – o homem encarava-o pensativo. – Me parece que algo deu errado, era para aquilo ter acontecido?
            – Ahn... Creio que não, também estou surpreso. Eu usei um feitiço para acalmá-lo e impedir que ele liberasse toda a força por causa de algum susto, mas parece que ele decidiu me considerar dessa forma por vontade própria...
            – Irmão... – a criança balbuciou enquanto dormia.
            – Calma, eu estou aqui, eu sempre estarei aqui... – disse ele baixinho em seu ouvido e o menino se acalmou.
            – Os perigos que ele vai enfrentar são tão terríveis assim?
            – Piores... Não sei por que a Irmandade Cósmica decidiu ir tão longe... Só sei que é algo importante demais para que eu deixe de lado, entende? É algo grande demais, até mesmo para eles ou para a Ordem dos Senhores de Castelo. Um ponto fixo no tempo e no espaço que não pode ser alterado, precisa ser atravessado e ele é a chave que salvará tudo... Tenho que ir... – e desapareceu no ar.
            O menino acordou, levantou-se preocupado, esfregando os olhinhos e abraçou o pai:
            – Pai... Eu sonhei com o meu irmão de novo...
            – Eu sei filho, eu sei...
            – Vou trazer meu irmão de volta... Eu prometo...

...

O Intrometido

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