Epílogo: O Julgamento
– Nós somos
o âmago da evolução, a ciência por trás de tudo. É o nosso pensamento que
produz e delineia as novas formas. Pelo nosso poder, declaramos esta sessão
iniciada! – disseram as milhares de vozes daqueles seres quilométricos de pele
escura e brilhante que lembrava o espaço infinito, adornados por véus vaporosos
de maru pura que se assemelhavam a pétalas ou asas.
À direita,
lutando pelo multiverso, estava o conselho da Ordem dos Senhores de Castelo. À
esquerda, defendendo a destruição de tudo pelo conhecimento, estava a suprema
corte da Irmandade Cósmica. Cada um apresentaria seus depoimentos e como provas
ofereceriam as memórias contidas em suas mentes. Os altarianos falariam
primeiro:
– É caso
certo que os Senhores de Castelo não podem adentrar em nossos domínios! Nosso
território é de nosso cuidado e isto fere com a Aliança! – o porta voz da
irmandade é o rei da corte altariana máxima, a corte Divina. Sua armadura
dourada lhe cobre todo o corpo e é cingida por adereços purpúreos. – Eu invoco
aqui e agora a sabedoria máxima dos supremos! Acaso haverão vós de deixar isso
impune quando todos sabem o quanto sois justos? Que eles paguem o preço justo
estipulado pela Aliança! Quem eles nos entreguem metade de seus territórios
como pagamento por esta injúria!
– Mais
algum adendo? – disseram as vozes em uníssono.
– Por hora,
não...
– Senhores
de Castelo, defendam-se.
O supremo
daimio se posicionou a frente da grande face diante dele e que averigua
fielmente as memórias:
– Supremos,
sabeis, pois, que a Ordem dos Senhores de Castelo luta pela sobrevivência dos
seres mais incapazes que permeiam e vivem no multiverso. Creio que já esperavam
por nossa atitude mediante um pedido de suplica tão antiga e que ainda assim
obtivemos sucesso em salvar uma parcela ínfima que relutava para sobreviver no
planeta sem nome e que atualmente já se encontra destruído. Quero atentá-los ao
caso mais sério, de certo que fora uma invasão inapropriada uma vez que a
Irmandade se recusa a conceder-nos legalmente a entrada em seus territórios
restritos em virtude da nossa forma de ver o multiverso; porém, não fomos
apenas nós que adentramos em seu território, eles também adentraram o nosso sem
a devida permissão. E digo mais! Eles nos roubaram, com absoluta certeza, um
planeta e escravizaram sua população! População essa que diz respeito a nós,
organização que zela pelos seus indivíduos, e que justamente era neste planeta
que eles os escondiam. Se o que fizemos vai de encontro à aliança que tanto
prezamos e respeitamos, alego então que tentamos reaver o que há quinhentos
anos, segundo o calendário dos Senhores de Castelo, nos foi retirado à força!
– Mais
algum adendo?
– Sim. Se a
Irmandade Cósmica fizera isso de forma desleal e furtivamente, quem dirá se
eles não o fizeram antes? – o tribunal ficara em silêncio até a retomada da
palavra por parte do rei da corte divina.
– E digo o
mesmo dos Senhores de Castelo!
A sessão
prosseguiu e todos os envolvidos tiveram a chance de dar as suas memórias para
os supremos. Apoiando os Senhores de Castelo estavam Dinha, Esmal e Toshi do
planeta sem nome e os Senhores de Castelo, Dimios e seus companheiros que foram
debilitados pelo Tabuleiro Cósmico, mas ainda vivos, Westem, Iksio, Nerítico e
Pilares, assim como o Caçador Sombrio, Cardial – o caçador mascarado – e a
menina monstro, Nina. De todas as memórias depositadas no julgamento, as da
menina foram as mais surpreendentes:
– Eu sou
filha de Senhores de Castelo... Eu não nasci nem em Mascar e nem no planeta sem
nome. Aliás, não tenho noção de onde nasci, uma vez que meus pais foram levados
pela Irmandade Cósmica. Eles deveriam me proteger, mas me tornaram o que sou,
um receptáculo de maru sombria... Quando tinha três anos, vivendo em um dos
laboratórios da Cidade Alta, vi meus pais sendo condecorados por uma corte
diferente daquela que vivia na Cidade Aérea atualmente. Senti tanto ódio que os
matei... Eles me pediam para que eu me acalmasse, que era tudo para que
escapássemos, mas não pude me conter. Sozinha, eu não podia sair daquele
planeta, uma energia poderosa impedia qualquer coisa de que saísse, mas ela deixava
entrar e foi isso que eu fiz... Meus pais me contavam histórias sobre os
Senhores de Castelo, sobre dois em especial chamados de Kullat e Thagir que
eram grandes amigos. Tentei trazê-los até mim, mas sua maru não combinava com a
minha. Por sorte os inversos deles tinham a essência perfeita para mim e os
levei para o planeta sem nome. Rigaht e Talluk me fizeram companhia por cerca
de quatro anos. Eles faziam experiências com o que encontravam tentando escapar
de mim, eles achavam que eu não sabia, mas eu sabia e frustrava cada uma das
tentativas. Acho que encontraram alguma coisa que poderia ajudá-los...
Hahaha... Nem tiveram tempo de usar!
O
depoimento colocava em cheque a posição da Irmandade Cósmica, haviam sim mais sequestros
e incursões em territórios da Ordem dos Senhores de Castelo. No entanto, a
última cartada foi do único altariano que se apresentou, Rubber, o último
altariano da corte dos Ilusionistas.
– Eu vivia
na parte do multiverso que pertencia a Ordem dos Senhores de Castelo... Meu
planeta pertence ao primeiro quadrante e agora não passa de algo completamente
oco. Com a abertura dos mares boreais e com o comércio multiplanetário estabelecido,
a população tinha esperanças de que a miséria fosse solucionada. Isso não
aconteceu... Uma doença trazida por um carregamento transportado pelos navios
boreais foi mortal para praticamente toda a vida do planeta e uns poucos seres
sobreviveram. A Ordem dos Senhores de Castelo deu tudo como perdido e não
compareceu para honrar a sua promessa de paz. Esperei, a rota nos mares boreais
foi abandonada e continuei esperando por tórridos cinquenta anos... Por
questões de abandono e completa esterilidade, a Irmandade fez o que sempre faz:
aproveita o inútil. Então, trazido a vida pela luz Cósmica, me tornei Rubber.
Depois de seguir fielmente os ensinamentos, tornei-me pajem da corte do
Ilusionista e percebi o quanto a Ordem é displicente e ignorante. Age sobre o
multiverso, cobra por missões, esquece que o multiverso é tão grande e tão
inexplorado que sempre haverá falhas em sua vigia... Peço a vós, supremos, que
reavaliem a condição da ordem de permanecer na Aliança, por ser incapaz de
cuidar de seus vastos territórios...
A
declaração caiu como um grande pesar. Haviam várias dúvidas, se a administração
fosse posta em reavaliação e a Ordem perdesse, os supremos dariam a causa como
ganha a Irmandade e todo o território de seu rival seria dada a ela. Os
supremos entraram em recesso por algumas horas, ponderando sobre o que seria
feito as duas organizações e chegaram a uma conclusão:
– Nós os
supremos decididos, por unanimidade... – todos estavam ansiosos pela resposta.
– Declarar guerra entre a Ordem dos Senhores de Castelo e a Irmandade Cósmica!
Vocês precisam decidir sozinhos o que farão com esta rixa que nunca termina.
Aquele que destronar o outro de sua central será declarado o vencedor! Será a
Ilha de Ev’ve, dos Senhores de Castelo contra o exoplaneta da Irmandade
Cósmica, Altar! Que vença o melhor!
...
Uma grande
explosão assinou o contrato na maru vital de cada um dos presentes. Agora era
pra valer, Castelares contra Altarianos. O multiverso irá tremer!
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