terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Lua de Sangue - O Assassino Daroko


Lua de Sangue – O Assassino Daroko
Escrito por: Victório Anthony

            Uma criança, humana, oriental, nascida de parto normal. Vendida por cerca de dez mil dólares a um clã de assassinos. Uma infância difícil, treinamento árduo, nenhum sonho infantil prevalecido. Aos quinzes já estava pronto para o seu primeiro assassinato. Sem nenhum sentimento humano, matou a própria família, não por ódio, não por vingança, não por justiça. Mas porque obedecia a ordens, nada mais.
            Aos vintes anos, com diversos estratagemas aplicados com perfeição, Daroko era o assassino de aluguel mais bem sucedido de seu clã. Apesar da eficiência, ele era mantido longe do mundo, não conhecia afeto, não era pago, não recebia elogios de seu trabalho. Se houvesse um erro, deveria cometer suicídio. Não poderia cometer erros, jamais!

            Desde a infância, seu rosto era coberto por um pano preto que nunca era tirado na presença de outras pessoas, nem mesmo de seu mestre. Se alguém o visse sem a máscara, isso seria cometer um erro. Porta sempre uma espada oriental japonesa, chamada katana. Seu corte sempre está afiado. Deixar que a sua espada perca o fio é perder a disciplina, isso seria cometer um erro. Seus passos devem ser inaudíveis, deve ser sempre sorrateiro, ninguém além de seu mestre deve perceber sua presença. Além disso, sua forma física deve ser impecável. Exercícios feitos rotineiramente, sem falta. Deixar isso de lado e ser desatencioso, seria cometer um erro. Todo assassinato não pode deixar rastro, se possível, conduzido com venenos imperceptíveis. Agulhas são sua especialidade, atiradas com exatidão em pontos mortais. Em todo caso, existem mortes encomendadas de formas diferentes. A mais cara delas é a decapitação, tão rápida e tão certeira que o alvo não deve ter tempo de respingar sangue. Fazer a vítima derramar sangue seria cometer um erro.
            Daroko viveria a vida de assassino no clã pelo resto de sua vida, não fosse a vingança de certos aristocratas europeus sedentos por sangue. O castelo secreto foi atacado, o mestre de Daroko morto e ele, preso a seu quarto por ordens superiores, não fez absolutamente nada. Ninguém percebeu que ele estava ali e logo os matadores foram embora, crendo que o castelo estava vazio. Durante alguns dias, Daroko não tentou sair do esconderijo, treinou como deveria ser, afiou a espada como devia ser e se prostrava diante da fome como castigo por qualquer insubordinação. Fazia tudo como deveria ser.
            Um dia, cerca de uma semana depois, o telefone secreto tocou, tocou e tocou. Não havia ninguém para atender. Receoso por perder o trabalho e ser obrigado a se matar, Daroko saiu do esconderijo sem que ninguém o visse, evitando, sem saber, qualquer área em que os corpos estavam se putrefazendo. Chegando ao telefone, atendeu. Ouviu uma voz:
            – Alô?
            – ... – Daroko não poderia falar.
            – Alô? Tem alguém aí? Estou ouvindo a sua respiração!
            – ...! – Daroko tinha certeza que isso era impossível, seus estudos sobre respiração eram meticulosos.
            – Já sei... Vocês não querem falar para não dar pista de quem você são, não é? Bem, eu quero oferecer dez mil pela cabeça do Ministro Takeoko. O assassinato deve ser limpo e realizado até a meia noite. Se aceitarem, pegue metade do dinheiro e os documentos sobre o alvo dentro da terceira lixeira da Rua Matsushiro Oto até as três. – O telefone desligou.
            Daroko assumiu a missão toda sozinho. Foi ao local da lixeira, pegou os documentos, decorou-os todos e os queimou. Guardou o dinheiro no cofre do castelo e saiu em direção ao alvo, um velho de cerca de setenta anos que morava numa suntuosa mansão nos arredores de Tókio. Naquela noite ele dormiria em casa depois de uma longa viagem pelo sul do Japão, momento perfeito para ter um enfarte.
            Daroko fez tudo como ele mesmo planejou. Quebrou toda a segurança e chegou ao quarto do senhor Takeoko sem ser percebido. Administrou o veneno com uma pequena picadinha. Se o velho não tomasse o antídoto em quinze minutos, o coração iria parar. Escondeu-se e esperou o veneno surtir efeito.
            Nesse meio tempo, alguém misterioso adentrou o quarto. Já era meia noite e a criatura se mostrava negra como a noite. Ela repousou o que parecia a cabeça próxima do nariz do senhor Takeoko e depois ficou ereta... Sentia mais alguém no quarto. Procurou por todos os lados e encontrou Daroko, que acabou fazendo barulho, avisando os seguranças. A criatura envolveu Daroko e o levou consigo para outro lugar, muito distante dali.
            O lugar era feito de blocos de pedra, frio e gelado. A respiração do ninja embaçava o ar. Olhou por uma fresta na parede e viu que estava nevando, se deparando com um grande campo coberto pela neve. Caminhou por uma escadaria e saiu num quarto todo enfeitado e colorido, como aquele dos contos de fadas. Na cama, uma moça de longos cabelos verdes esmeralda dormia, sua boca estava suja de sangue e seus caninos eram proeminentes. Daroko sentiu algo diferente, era como se algo novo lhe subisse a cabeça, entorpecendo todo o corpo. Olhava com atenção para aquela criatura inocente e indefesa que escondia com perfeição seu espírito sanguinário. Aproximou o rosto daquela boca deliciosa e deu lhe um beijo. Voltou-se para trás, não deveria amar ninguém, não deveria se aproximar de ninguém, caso isso acontecesse deveria tirar a própria vida. Pensou em seu mestre e se lembrou: “Onde estou?”
            Alguém subiu as escadas e se deparou com Daroko puxando a espada contra a barriga. A coisa negra falou com voz poderosa:
            – NÃO FAÇA ISSO! – o ninja deixou a espada cair.
            – Papai? – a mulher acordava. – É você? – a coisa flutuou como um lençol ao vento e ficou ao lado dela.
            – Sim, minha filha... – ele pareceu encarar Daroko que estava paralisado no canto do quarto. – Este é Daroko, o seu novo guarda-costas...
            Ele pensou, olhou para a moça, olhou para a coisa e olhou para a moça de novo e se prostou de joelhos com a cabeça baixa, guardando a espada na bainha.
            – Fico feliz que tenha aceitado... Você deve proteger a minha filha com a sua própria vida. – os ensinamentos ninjas eram rígidos e concretos em sua mente, mas seu coração o dominou avassaladoramente. – Agora, desapareça...
            Ele obedeceu, sumindo com uma bomba de fumaça que explodiu no chão. A moça aplaudiu o show com entusiasmo.
            – Mônica, você tem sido muito impertinente com os seus outros guarda-costas...
            – Mas papai, eles eram tão deliciosos... O homem moderno é tão diferente dos cavaleiros da antiguidade...
            – Filha, você sabe que não controla seus poderes... Por isso trouxe-lhe este humano do Japão...
            A moça se levantou, tirou a camisola, deixando o corpo nu. Pegou na penteadeira um adereço de ouro em forma de serpente que se enrolou sozinho em seu pescoço. Olhou para trás e um vestido negro estava sobre a cama. Ao se aproximar ele a vestiu também sozinho.
            – Você tem que parar com isso, estes hábitos do ocidente... Onde fica a sua herança, a sua ascendência européia?
            – Eu não quero saber... Eu adoro estes vestidos americanos... Sem contar que assusta menos quando quero... Hun... Daroko, apareça... – o ninja voltara, estava na porta, de joelhos. – Como estou?
            – Ele não pode falar... Se falar, ele tem que se matar...
            – Credo... Não pode nem me nem elogiar? Está bem então... Daroko, vou a uma festa, você vai me acompanhar, fique atento se alguém tentar se aproximar demais de mim. Voltaremos antes do sol nascer...
            Já era noite e os dois saíram de carro, um modelo antigo da década de cinquenta.
A festa era num casarão suntuoso e os convidados chegavam com roupas de frio de pele de animal. Tudo corria bem, os jovens dançavam calmamente, deslizando no chão, como se estivessem levitando no salão. Os mais velhos conversavam entre si, trocando ideias e discussões sobre coisas fúteis, sem nenhum entendimento sobre a necessidade humana de ser bem cuidada. Mônica, por sua vez, estava entediada. Sentada numa mesa no canto, via toda aquela felicidade com desprezo. Pensei em algo e decidiu chamar o guarda costas:
            – Daroko? – o ninja apareceu embaixo da mesa. – Ah! Você está aí... Quero que mate todos na festa... Você consegue?
            O ninja saiu do esconderijo e, com alta velocidade, começou a atacar os jovens que estavam no salão, decepando seus braços e pernas. Mônica estava adorando aquelas cenas, o banho de sangue que avermelhava o a festa. Ela se levantou, olhou para os velhos e eles começaram a se contorcer. Cobras que surgiam do nada picavam eles e seus venenos surtiam efeito rapidamente.
            – Bruxa! – gritavam eles. – Bruxa maldita! – e estrebuchavam no chão.
            Um deles escapou a matança de Daroko e Mônica, e correu para a saída. Havia alguém esperando na porta. Com um toque, o homem secou até virar um cadáver seco. Daroko terminou o serviço com a precisão de sempre, guardou a espada na bainha e virou para atender um novo pedido de sua mestra:
            – Draco! – ela correu para os braços de um homem alto, de cabelos brancos e olhos roxos.
            – Mônica! – a moça pulava em seu pescoço. – Acalme-se, seu pai me mandou caso algo acontecesse... Pelo visto você andou se divertindo hoje...
            – Gostou? Podemos fazer aqui, no meio do sangue e dos pedaços de corpos... – a moça sorria. Sentia-se excitada no meio daquela carnificina.
            – Tenho que ir... – ele a deixou no mesmo lugar e saiu andando.
            Num impulso de proteger sua mestra, correu para frente de Draco, apontando a ponta espada em seu pescoço.
            – Quem é esse, Mônica?
            – Este é meu novo segurança...
            – Você matou o último de novo?! – Draco pôs a mão na testa, aquilo se repetira diversas vezes.
            – Não tenho culpa, eles são tão fáceis de matar... Este pelo menos me agrada, até impediu que você saísse. Queria te perguntar, você vai assumir os negócios da família no Brasil?
            – Vou. Seu pai me quer lá. – Draco foi seco.
            – Eu também vou para lá, e você não vai me impedir!
            – Faça como quiser, só mande esse samurai tirar essa espada da minha cara!
            – Daroko... – o ninja obedeceu, fez reverência e lançou uma bomba de fumaça, desaparecendo no ar.
            Draco saiu, deixando Mônica alimentando suas serpentes de estimação. Ele viu Daroko observando ele, sabia que ele não era simplesmente obediente a ela, ele agira por ciúme.
            – Esse aí ainda vai me trazer problemas...

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