Lua de Sangue – O
Assassino Daroko
Escrito por: Victório Anthony
Uma
criança, humana, oriental, nascida de parto normal. Vendida por cerca de dez
mil dólares a um clã de assassinos. Uma infância difícil, treinamento árduo,
nenhum sonho infantil prevalecido. Aos quinzes já estava pronto para o seu
primeiro assassinato. Sem nenhum sentimento humano, matou a própria família, não
por ódio, não por vingança, não por justiça. Mas porque obedecia a ordens, nada
mais.
Aos vintes
anos, com diversos estratagemas aplicados com perfeição, Daroko era o assassino
de aluguel mais bem sucedido de seu clã. Apesar da eficiência, ele era mantido
longe do mundo, não conhecia afeto, não era pago, não recebia elogios de seu
trabalho. Se houvesse um erro, deveria cometer suicídio. Não poderia cometer
erros, jamais!
Desde a
infância, seu rosto era coberto por um pano preto que nunca era tirado na presença
de outras pessoas, nem mesmo de seu mestre. Se alguém o visse sem a máscara,
isso seria cometer um erro. Porta sempre uma espada oriental japonesa, chamada
katana. Seu corte sempre está afiado. Deixar que a sua espada perca o fio é
perder a disciplina, isso seria cometer um erro. Seus passos devem ser
inaudíveis, deve ser sempre sorrateiro, ninguém além de seu mestre deve
perceber sua presença. Além disso, sua forma física deve ser impecável.
Exercícios feitos rotineiramente, sem falta. Deixar isso de lado e ser
desatencioso, seria cometer um erro. Todo assassinato não pode deixar rastro,
se possível, conduzido com venenos imperceptíveis. Agulhas são sua
especialidade, atiradas com exatidão em pontos mortais. Em todo caso, existem
mortes encomendadas de formas diferentes. A mais cara delas é a decapitação,
tão rápida e tão certeira que o alvo não deve ter tempo de respingar sangue.
Fazer a vítima derramar sangue seria cometer um erro.
Daroko
viveria a vida de assassino no clã pelo resto de sua vida, não fosse a vingança
de certos aristocratas europeus sedentos por sangue. O castelo secreto foi
atacado, o mestre de Daroko morto e ele, preso a seu quarto por ordens
superiores, não fez absolutamente nada. Ninguém percebeu que ele estava ali e
logo os matadores foram embora, crendo que o castelo estava vazio. Durante
alguns dias, Daroko não tentou sair do esconderijo, treinou como deveria ser,
afiou a espada como devia ser e se prostrava diante da fome como castigo por
qualquer insubordinação. Fazia tudo como deveria ser.
Um dia,
cerca de uma semana depois, o telefone secreto tocou, tocou e tocou. Não havia
ninguém para atender. Receoso por perder o trabalho e ser obrigado a se matar,
Daroko saiu do esconderijo sem que ninguém o visse, evitando, sem saber,
qualquer área em que os corpos estavam se putrefazendo. Chegando ao telefone,
atendeu. Ouviu uma voz:
– Alô?
– ... –
Daroko não poderia falar.
– Alô? Tem
alguém aí? Estou ouvindo a sua respiração!
– ...! –
Daroko tinha certeza que isso era impossível, seus estudos sobre respiração
eram meticulosos.
– Já sei...
Vocês não querem falar para não dar pista de quem você são, não é? Bem, eu
quero oferecer dez mil pela cabeça do Ministro Takeoko. O assassinato deve ser
limpo e realizado até a meia noite. Se aceitarem, pegue metade do dinheiro e os
documentos sobre o alvo dentro da terceira lixeira da Rua Matsushiro Oto até as
três. – O telefone desligou.
Daroko
assumiu a missão toda sozinho. Foi ao local da lixeira, pegou os documentos,
decorou-os todos e os queimou. Guardou o dinheiro no cofre do castelo e saiu em
direção ao alvo, um velho de cerca de setenta anos que morava numa suntuosa
mansão nos arredores de Tókio. Naquela noite ele dormiria em casa depois de uma
longa viagem pelo sul do Japão, momento perfeito para ter um enfarte.
Daroko fez
tudo como ele mesmo planejou. Quebrou toda a segurança e chegou ao quarto do senhor
Takeoko sem ser percebido. Administrou o veneno com uma pequena picadinha. Se o
velho não tomasse o antídoto em quinze minutos, o coração iria parar.
Escondeu-se e esperou o veneno surtir efeito.
Nesse meio
tempo, alguém misterioso adentrou o quarto. Já era meia noite e a criatura se
mostrava negra como a noite. Ela repousou o que parecia a cabeça próxima do
nariz do senhor Takeoko e depois ficou ereta... Sentia mais alguém no quarto.
Procurou por todos os lados e encontrou Daroko, que acabou fazendo barulho,
avisando os seguranças. A criatura envolveu Daroko e o levou consigo para outro
lugar, muito distante dali.
O lugar era
feito de blocos de pedra, frio e gelado. A respiração do ninja embaçava o ar.
Olhou por uma fresta na parede e viu que estava nevando, se deparando com um
grande campo coberto pela neve. Caminhou por uma escadaria e saiu num quarto
todo enfeitado e colorido, como aquele dos contos de fadas. Na cama, uma moça
de longos cabelos verdes esmeralda dormia, sua boca estava suja de sangue e
seus caninos eram proeminentes. Daroko sentiu algo diferente, era como se algo
novo lhe subisse a cabeça, entorpecendo todo o corpo. Olhava com atenção para
aquela criatura inocente e indefesa que escondia com perfeição seu espírito
sanguinário. Aproximou o rosto daquela boca deliciosa e deu lhe um beijo.
Voltou-se para trás, não deveria amar ninguém, não deveria se aproximar de
ninguém, caso isso acontecesse deveria tirar a própria vida. Pensou em seu
mestre e se lembrou: “Onde estou?”
Alguém
subiu as escadas e se deparou com Daroko puxando a espada contra a barriga. A
coisa negra falou com voz poderosa:
– NÃO FAÇA
ISSO! – o ninja deixou a espada cair.
– Papai? –
a mulher acordava. – É você? – a coisa flutuou como um lençol ao vento e ficou
ao lado dela.
– Sim,
minha filha... – ele pareceu encarar Daroko que estava paralisado no canto do
quarto. – Este é Daroko, o seu novo guarda-costas...
Ele pensou,
olhou para a moça, olhou para a coisa e olhou para a moça de novo e se prostou
de joelhos com a cabeça baixa, guardando a espada na bainha.
– Fico
feliz que tenha aceitado... Você deve proteger a minha filha com a sua própria
vida. – os ensinamentos ninjas eram rígidos e concretos em sua mente, mas seu
coração o dominou avassaladoramente. – Agora, desapareça...
Ele
obedeceu, sumindo com uma bomba de fumaça que explodiu no chão. A moça aplaudiu
o show com entusiasmo.
– Mônica,
você tem sido muito impertinente com os seus outros guarda-costas...
– Mas
papai, eles eram tão deliciosos... O homem moderno é tão diferente dos
cavaleiros da antiguidade...
– Filha,
você sabe que não controla seus poderes... Por isso trouxe-lhe este humano do
Japão...
A moça se
levantou, tirou a camisola, deixando o corpo nu. Pegou na penteadeira um
adereço de ouro em forma de serpente que se enrolou sozinho em seu pescoço.
Olhou para trás e um vestido negro estava sobre a cama. Ao se aproximar ele a
vestiu também sozinho.
– Você tem
que parar com isso, estes hábitos do ocidente... Onde fica a sua herança, a sua
ascendência européia?
– Eu não
quero saber... Eu adoro estes vestidos americanos... Sem contar que assusta
menos quando quero... Hun... Daroko, apareça... – o ninja voltara, estava na
porta, de joelhos. – Como estou?
– Ele não
pode falar... Se falar, ele tem que se matar...
– Credo...
Não pode nem me nem elogiar? Está bem então... Daroko, vou a uma festa, você
vai me acompanhar, fique atento se alguém tentar se aproximar demais de mim.
Voltaremos antes do sol nascer...
Já era
noite e os dois saíram de carro, um modelo antigo da década de cinquenta.
A festa era num casarão suntuoso e os convidados chegavam
com roupas de frio de pele de animal. Tudo corria bem, os jovens dançavam
calmamente, deslizando no chão, como se estivessem levitando no salão. Os mais
velhos conversavam entre si, trocando ideias e discussões sobre coisas fúteis,
sem nenhum entendimento sobre a necessidade humana de ser bem cuidada. Mônica,
por sua vez, estava entediada. Sentada numa mesa no canto, via toda aquela
felicidade com desprezo. Pensei em algo e decidiu chamar o guarda costas:
– Daroko? –
o ninja apareceu embaixo da mesa. – Ah! Você está aí... Quero que mate todos na
festa... Você consegue?
O ninja
saiu do esconderijo e, com alta velocidade, começou a atacar os jovens que
estavam no salão, decepando seus braços e pernas. Mônica estava adorando
aquelas cenas, o banho de sangue que avermelhava o a festa. Ela se levantou,
olhou para os velhos e eles começaram a se contorcer. Cobras que surgiam do
nada picavam eles e seus venenos surtiam efeito rapidamente.
– Bruxa! –
gritavam eles. – Bruxa maldita! – e estrebuchavam no chão.
Um deles
escapou a matança de Daroko e Mônica, e correu para a saída. Havia alguém
esperando na porta. Com um toque, o homem secou até virar um cadáver seco.
Daroko terminou o serviço com a precisão de sempre, guardou a espada na bainha
e virou para atender um novo pedido de sua mestra:
– Draco! –
ela correu para os braços de um homem alto, de cabelos brancos e olhos roxos.
– Mônica! –
a moça pulava em seu pescoço. – Acalme-se, seu pai me mandou caso algo
acontecesse... Pelo visto você andou se divertindo hoje...
– Gostou? Podemos
fazer aqui, no meio do sangue e dos pedaços de corpos... – a moça sorria.
Sentia-se excitada no meio daquela carnificina.
– Tenho que
ir... – ele a deixou no mesmo lugar e saiu andando.
Num impulso
de proteger sua mestra, correu para frente de Draco, apontando a ponta espada em
seu pescoço.
– Quem é
esse, Mônica?
– Este é
meu novo segurança...
– Você
matou o último de novo?! – Draco pôs a mão na testa, aquilo se repetira
diversas vezes.
– Não tenho
culpa, eles são tão fáceis de matar... Este pelo menos me agrada, até impediu
que você saísse. Queria te perguntar, você vai assumir os negócios da família
no Brasil?
– Vou. Seu
pai me quer lá. – Draco foi seco.
– Eu também
vou para lá, e você não vai me impedir!
– Faça como
quiser, só mande esse samurai tirar essa espada da minha cara!
– Daroko...
– o ninja obedeceu, fez reverência e lançou uma bomba de fumaça, desaparecendo
no ar.
Draco saiu,
deixando Mônica alimentando suas serpentes de estimação. Ele viu Daroko
observando ele, sabia que ele não era simplesmente obediente a ela, ele agira
por ciúme.
– Esse aí
ainda vai me trazer problemas...
...
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