FRAGMENTO
Eles foram
dormir em suas camas aquela noite, cada um num lugar distante do outro.
Adormeceram e no meio de seus sonhos eles viram uma luz muito forte com uma
força que lhes puxavam para sabe se lá onde. A brisa noturna soprou gélida e
insensível sobre eles, agora reunidos no mesmo lugar.
— Amor...
Fecha a janela, está frio... — disse o primeiro deles, um homem alto que vestia
um grande casaco verde.
— Ahn? Essa
voz... Ei! Onde estou! — gritou o segundo deles, despertando. Ele era robusto,
forte, usando uma longa manta branca com capuz.
— Ué?! —
disse o primeiro, já alerta. — Onde estamos?
— Não façam
barulho, eu quero dormir... — falou um terceiro.
— O que
faremos? Não estamos sozinhos...
— Eu não
faço a mínima ideia... — os dois que se conheciam se entreolhavam auxiliados
somente pelas luzes de tochas que crepitavam ao redor deles.
— Onde
estou?! — o terceiro, por fim, percebia que não estava mais em sua cama. — Quem
são vocês?
O primeiro olhou
o segundo.
— Nós é que
perguntamos, quem é você?! — disseram em uníssono.
— Parem com
o barulho, preciso acordar pra ir pra faculdade e... — o quarto se dera conta
do acontecido. — Mas que merda é essa?!
— Eu te
conheço? — o terceiro via um jovem em idade escolar, de uniforme, cabelos
negros, magro e praticamente miúdo diante dele.
— Eu nunca
te vi antes... — o quarto via um jovem feito, corpo trabalhado e cabelos ruivos,
usando braceletes e outros adornos de metal.
— Mas você
é um...
— Olhe. Os
outros dois também estão acordando... — disse o primeiro ao segundo.
O quinto
era um homem de aparência bela e atraente, cabelos curtos e roupas negras como
a noite. Ele bocejou e dois caninos ficaram salientes em sua boca. Seus olhos
brilharam no meio do escuro ao encarar os outros quatro.
— Quem são
vocês?
— Você... —
disse o sexto. — Você é Lord Dri, não é?!
O sexto
usava um jaleco branco de médico, tinha uma aparência languida, um jovem adulto
de aspecto debilitado como se seu psicológico tivesse sido quebrado e
enlouquecido de vez.
— Você me
conhece?
— Acho que
sim, já ouvi falar muito do senhor...
— Esperem!
Nós precisamos de nomes! — interrompeu o terceiro.
Em meio ao
silêncio, o primeiro resolveu falar.
— Meu nome
é Gustav...
— Tem
certeza que é uma boa? Nós não conhecemos eles...
— Vocês são
Gustavo Brasman e Gustavo Norris, estou certo?
O primeiro
e o segundo se entreolharam novamente.
— Sou eu...
— É, também
sou eu... E quem é você?
— Se eu
ainda sou eu... Me lembro que antes de ir dormir meu nome era Joe. Agora,
alguma coisa aconteceu, não sou eu, estou no corpo de Valek Clancey! Um dos
meus personagens!
— Não
acredito... — disse o quarto olhando para si mesmo. — Então eu devo ser o...
— Leo
Ventura!
O quarto
ficou estático, não sabia o que fazer diante da inexorável situação em que se
encontrava.
— Isso...
Isso não é possível!
— Vocês são
escritores? — perguntou o primeiro.
Todos
assentiram com a cabeça.
— Sou
Adriano Siqueira, de São Paulo — se expôs o quinto.
— Sou do sul
de Góias — continuou o terceiro.
— Somos de
Curitiba — disse o primeiro apontando para ele e para o segundo.
— Eu sou do
Rio de Janeiro... — falou o quarto.
— Sou
cearense... — concluiu o sexto. — Se vocês também estão nos corpos de seus
personagens... Quem são eles? O nome do meu é Dr. Salomon Lee, um médico insano
que perdeu a mulher e a filha de forma trágica.
— Somos
Kullat e Thagir — disse o primeiro apontando para o amigo e depois para si.
— Somos
Senhores de Castelo — terminou o segundo.
— Eu já
ouvi esse nome... — disse o sexto para si mesmo.
— Como
disse antes, estou encarnado em Valek Clancey, o predestinado a unir todos os
reinos do mundo.
— O meu é
Leo Ventura, um estudante que se depara com acontecimentos sobrenaturais no
primeiro dia na nova escola.
— O meu
personagem é Lord Danny Ray I, Lord Dri para os íntimos. Sou um vampiro de mais
de seiscentos anos que antes de ser transformado, caçava criaturas como
vampiros e lobisomens, e que atualmente vive um romance com uma vampira chamada
Morticia.
— Então,
todos nos somos brasileiros? — retomou o sexto.
— Creio que
sim... — concordou o primeiro. — Mas como viemos parar aqui?
Eles
olharam ao redor, acima deles estava um belíssimo céu estrelado e ao redor
estavam portais de pedra erguidos com doze aberturas. Então, repentinamente, os
portais se alteraram, mostrando, cada um, uma cena diferente. Em um, haviam
paisagens quentes e explosivas de uma região cheia de vulcões e dinossauros. Ao
seu lado, uma montanha altíssima alcançava e atravessava as nuvens, branco de
neve no topo, rochosa ao centro e repleta de casas com seres alados na base.
Outra por sua vez era cheia de cachoeiras, peixes e animais marinhos de todos
os tipos convivendo em harmonia. O quarto era um lugar cheio de campos de
cultivo e muralhas, com diversos tipos de animais terrestres. O quinto era uma
floresta extremamente densa e verdejantes, repleta de flores e invertebrados,
de rosas e lírios, à insetos, aracnídeos e outros, com uma árvore gigantesca ao
centro. Seguindo a ordem, estavam o sexto e o sétimo mostrando lugares
parecidos, porém diferente, locais repletos de neve e vento frio, um com uma
cidade flutuante e colorida no céu e outra mais simples, com uma cidade em
forma de fortaleza de gelo. A oitava cena era um lugar de nuvens escuras, como
se estivessem prestes a chover. A nona era um lugar com torres elevadíssimas,
como uma colméia, uma cidade área tecnológica e muito movimentada com seres
brilhantes andando de um lado para o outro. A décima, também tinha a tecnologia
bastante desenvolvida, mas de uma forma incomum, com fábricas soltando fumaça
aos montes e seres humanos com mutações aparentes vivendo de forma muito
precária. A décima primeira era um lugar com grandes desertos de areia e um
ostentoso oásis que dividia espaço ao longe com pirâmides eletrônicas ligadas
por uma cúpula vítrea com outra pirâmide por cima que despontava também para
dentro com um prolongamento invertido. A última era um lugar mais soturno,
escuro, tenebroso, despontando no céu quatro luas coloridas e mostrando
criaturas sobrenaturais como fantasmas, lobisomens, vampiros e zumbis. Locais
com suas peculiaridades, essencialmente diferentes e únicos.
Ainda
assim, a dúvida persistia, nenhum desses locais jamais foi descrito por eles em
nenhum de seus escritos.
— Onde nós
estamos?! — gritou um deles, perdendo a paciência.
—
HAHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHHAHAAH... — do nada, veio uma risada sinistra e profunda.
— Mas o que
é isso?!
Todas as
cenas escureceram, sendo engolidas por uma massa escura que começava a penetrar
o local, enraizando para todos os lados como veias. Um barulho começou a soar.
Não qualquer barulho, um barulho que todos conheciam.
Tudum, tudum, tudum...
Todos
ouviam atenciosamente ao som de um coração batendo, um barulho que aumentava e
tornava-se ensurdecedor, reverberando diretamente em suas mentes, hipnotizando-os.
Da escuridão que invadia e os cercava, brotavam dezenas de bocas, sorrisos
desvairados e frenéticos, famintos, prontos para morder e dilacerar o que
tocassem com seus dentes brancos e salientes ou degustassem com suas línguas
compridas e úmidas. Eles recuaram, estavam cercados por aquela massa negra que
crescia e crescia.
No meio do
céu, uma estrela cadente irrompeu o espaço e tomou uma direção diferente. Parou
sobre as doze portas e brilhou intensamente. A luz se chocou com as trevas, o
tempo e o espaço se distorceram, quebrando e separando todas as portas. Elas
flutuaram no vazio e se perderam no infinito. Os seis permaneceram próximos um
do outro ainda um tempo e todos se separaram. Nada... Tudo acabou.
O dia
amanheceu e cada um acordou em sua cama. Levantaram-se como sempre fizeram,
usaram o banheiro, olharam-se no espelho e, de alguma forma, um estalo os fez
relembrar do estranho sonho que tiveram.
O que foi aquilo?
Durante o
dia, eles acessaram a internet e deixaram nas redes sociais suas impressões
sobre o sonho e, vendo que não foram os únicos, resolveram perguntar um ao
outro se eles também tiveram o mesmo sonho. A resposta era inevitável, algo
incomum aconteceu com eles e ninguém sabia o porquê de tudo isso.
Quem poderia responder isso?
Ninguém sabe...
...
uhhrull eu sabia que não foi apenas um sonho. \õ/
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